Crítica

'Meu Ex É Um Espião' traz mais uma paródia esgotada

Estrelado por Mila Kunis e Kate McKinnon, 'Meu Ex É Um Espião' tenta se sustentar com trama batida e humor irregular; confira crítica

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 23/08/2018 às 9:10
Foto: Lionsgate/Divulgação
Estrelado por Mila Kunis e Kate McKinnon, 'Meu Ex É Um Espião' tenta se sustentar com trama batida e humor irregular; confira crítica - FOTO: Foto: Lionsgate/Divulgação
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As paródias dos gêneros cinematográficos surgem como uma tentativa de renovar os fôlegos deles ao colocarem suas convenções sob outros prismas, muitas vezes as ridicularizando. Elas podem acabar se tornando excelentes alternativas e autocríticas de suas fórmulas, a exemplo de obras como recentes como Deadpool e Kick-Ass: Quebrando Tudo, no caso dos filmes de super-heróis. Os filmes de espionagem têm uma parcela significativa de boas produções nessa linha, como a franquia Austin Powers, A Espiã que Sabia Demais e Kingsman: Serviço Secreto. Esse volume, por sua vez, pode acabar saturando essas linhas narrativas pensadas justamente para dar respiros em outras.

Meu Ex É Um Espião, de Susanna Fogel, pode ser um bom indicativo disso. Nele, acompanhamos Audrey (Mila Kunis), uma atendente de caixa que leva uma pacata vida até descobrir que seu ex-namorado é o que o título nacional do filme diz. Ao visitá-la para explicar tudo, o rapaz acaba sendo assassinado em um intenso tiroteio, designando a sua antiga amada entregar um troféu, importante para a CIA por razões misteriosas, em um restaurante na Europa. Acompanhada de sua amiga Morgan (Kate McKinnon), a moça aceita a arriscada missão, precisando lidar com outros perigosos interessados no artefato.

Sacadinhas rasas

Assim, caímos em uma trama de personagens sem as habilidades necessárias em situações que colocam em risco suas vidas e a segurança de outras milhões de pessoas. Não que isso por si só seja um demérito, dependendo da abordagem empregada, caso traga uma bem construída narrativa, pode funcionar bem. Não é o que acontece aqui. O filme de Fogel tenta se sustentar por meio de artifícios que façam o público pensar "que boa sacada!", mas de efeito curtos e incapazes de ser alicerce até mesmo do entretenimento descompromissado.

Algumas funcionam, como quando em uma intensa perseguição, repleta de tiroteios, uma personagem indica o caminho que vai seguir ligando a seta do carro. Até mesmo uma transição no começo do filme, entre o espião trocando tiros com bandidos e sua ex-namorada jogando calmamente um jogo de tiro, que revela economicamente o contraste entre suas vidas. Já outras conseguem cair em uma cansativa repetição, quando não caem no poço hollywoodiano das piadas envolvendo flatulência.

Cavando no meio disso tudo, encontramos um fio de enredo que tenta se apoiar em bobas reviravoltas e fraca elaboração de suas personagens. O cúmulo de artificialidade recai em revelações que aparecem apenas para cobrir deficiências do roteiro, como quando em certo momento, uma personagem revela ter feito aulas de trapézio para se mostrar apta a enfrentar uma briga circense. Tudo resolvido de uma maneira rasa e sob uma pretensão de uma certa tensão, que nunca consegue se solidificar de fato.

Como se consciente de suas deficiências de roteiro, outra base para o projeto é tentada no trabalho de suas atrizes principais, essa um pouco melhor. Mila Kunis e Kate McKinnon fazem papéis que dominam bem, recorrentes em suas carreiras. A primeira faz a moça independente que passa por problemas amorosos e decide lidar com eles de forma mais incisiva. Já McKinnon volta a ser a amiga "doidinha", que encontra em cada situação perigosa uma maneira de expor suas excentricidades, algo parecido com o que fez em Caça-Fantasmas. O resto do elenco é raso e até homogêneo, indo dos mais desconhecidos até nomes como Gillian Anderson.

Se as paródias podem ser alternativa aos desgaste de certas classificações de obras, talvez seja o momento de repensar seu próprio desgaste. Suas próprias quebras de convenções, em mãos erradas, acabam por se tornar novas convenções batidas e cansativas. Entretanto, não se pode conferir a um exemplar, como Meu Ex É um Espião, a prova cabal do esgotamento desse tipo de filme, já que carência de qualidade narrativa não é exclusividade de um gênero ou de outro.

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