CINEMA

Safra premiada de curtas-metragens pernambucanos

Sete filmes produzidos no Estado são exibidos em festival paulista

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 28/08/2018 às 5:06
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Sete filmes produzidos no Estado são exibidos em festival paulista - FOTO: Divulgação
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Premiados nos festivais É Tudo Verdade, Anima Mundi e Gramado, a nova safra de curtas pernambucanos ataca agora no 29º Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo. Desde a última quinta-feira, sete filmes produzidos no Estado – alguns em coprodução com outros países – participam da Mostra Brasil. Ao todo, a mostra reúne 53 títulos realizados no País nos últimos dois anos. Sem dúvida, é uma das melhores representações que o cinema local já teve em toda a história do festival paulista, que se desenrola até o próximo domingo (2).

Dos sete filmes, seis foram dirigidos por mulheres e quatro tratam de temas relativos à infância. Já dá para perceber que esse retrato da produção é uma clara demonstração da diversidade e da igualdade de oportunidades entre os gêneros, no cinema pernambucano. Mas, para além disso, essa produção vem conquistando também prêmio importantes nos principais festivais do Brasil.

Na noite do último sábado, a animação Guaxuma, de Nara Normande, venceu o Kikito de Melhor Curta-Metragem do Festival de Gramado, uma premiação cheia de ineditismo, pois foi a primeira vez que um curta pernambucano, uma animação, dirigido por uma mulher, ganhou o principal prêmio da categoria.

Guaxuma, que estreou no Festival de Annecy, na França em junho, ganhou no mês passado o Prêmio Canal Brasil durante o 26º Anima Mundi, realizado no Rio. Depois de Gramado e do Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo, o filme participa do 51º Festival de Brasília, que acontece no Distrito Federal de 14 a 23 de setembro.

Terceiro curta-metragem de Nara, o segundo solo, Guaxuma trata das memórias de infância da cineasta, passada na praia do mesmo nome, em Alagoas, onde ela nasceu. Assim como em Céu Estrelado e Sem Fôlego (codirigido com Tião), o filme tem qualidades excepcionais de realização. Narrado em primeira pessoa, Nara relembra os primeiros anos de sua vida, quando o pai e a mãe viviam numa casa a poucos metros da praia, mas principalmente a amizade com a amiga Tayra.

Como já demonstrara em Céu Estrelado, a cineasta enfrentou um novo desafio, a partir de um variado uso de técnicas de animação. “Pessoalmente, eu me expus mais nesse filme. Mas todos foram grandes desafios. Pesquiso muito para aprender algo novo, como a técnica da escultura em areia molhada. Além dela, fiz animação tradicional com areia seca, stop motion e até filmagens normais”, explica a cineasta, que está em São Paulo para acompanhar as exibições do curta.

COR DE PELE

A infância também é tema de Cor de Pele, de Lívia Perini, Mini Miss, de Rachel Ellis, e Nome de Batismo – Alice, de Tila Chitunda. Cor de Pele é dedicado ao fotógrafo Alexandre Severo (ex-Jornal do Commercio, que faleceu no acidente de avião em que morreu também o ex-governador Eduardo Campos, há quatro anos), que em 2009 fotografara três crianças albinas que moravam na favela do V-9, em Olinda.

O curta acompanha as angústias e alegrias de Kauan, com 11 anos no filme, que ficou imortalizado quando tinha cinco, ao lado da irmã Rute, de uma prima e um gato. Numa família negra de seis filhos, ele, Rute e Estefani, mais velhas que ele, nasceram albinas. Apesar de centrado em Kauan, sua luta contra o preconceito e o sol, o filme abarca toda o espectro familiar, em especial a presença da mãe. Imagens da Cidade Alta, vistas de cima, dão um colorido especial ao filme.

As cores da infância também estão presentes em Mini Miss, que acompanha um concurso de misses para crianças de quatro a sete anos, no interior do Rio Grande Sul. Focado a partir de uma menina de quatro, Rachel Ellis e o diretor de fotografia Pedro Urano captam as crianças com a câmera no nível delas. A impressão que fica é perturbadora, com as meninas forçadas, pelos pais, maquiadoras e organizadores, a se comportarem como adultas. Mini Miss conquistou o Prêmio Canal Brasil do Festival É Tudo Verdade 2018.

Embora não trate diretamente da infância de Tila Chitunda, o documentário Nome de Batismo – Alice é uma busca em torno de suas raízes, a partir da saudade da avó angolana. Filha de um casal fugido da guerra, no anos 1970, ela é a única pessoa da família nascida no Brasil. O filme ganhou o prêmio de Melhor Curta do Festival É Tudo Verdade.

Outra novidade do festival é o curta Superpina, de Jean Santos, uma comédia no estilo greia, com gosto de sexo e ficção científica, passada dentro e fora de um supermercado do Pina, na Zona do Recife. Uma das presenças dominantes do curta é a atriz Dandara de Morais, que canta numa banda e procura trabalho no supermercado.

O festival ainda vai apresentar dois filmes que só agora começam a circular. Um deles é a animação Fazenda Rosa, de Chia Beloto, com o músico pernambucano Erasto Vasconcelos, irmão de Naná, ambos mortos em 2016. O outro curta-metragem é a ficção Quando Craude no Meu Sovaco, da dupla Duda Menezes e Fefa Lins, sobre a cobrança em torno da intimidade feminina.

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