CINEMA

Uma mostra de cinema para escancarar o armário

Cinco longas LGBT ganham espaço no Cinema da Fundação/Derby

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 12/09/2018 às 5:41
Elo Company/Divulgação
Cinco longas LGBT ganham espaço no Cinema da Fundação/Derby - FOTO: Elo Company/Divulgação
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Bicha, viado, gay, travesti, frango, mariquinha. De tanto serem adjetivados, os homossexuais masculinos adotaram os rótulos preconceituosos como uma bandeira de orgulho. Essa atitude não se deu da noite para o dia, mas agora é lugar comum eles usarem esses termos como uma virada de mesa. Quase todos os 16 entrevistados do documentário Abrindo o Armário, de Luís Abramo e Dario Menezes, dizem com a boca cheia para si mesmo que são viados e bichas.

Abrindo o Armário é o carro-chefe da Mostra Queer+, que começa nesta quarta-feira (12) no Cinema da Fundação/Derby. Além do documentário, mais quatro longas-metragens serão exibidos até o sábado. A abertura acontece com o pernambucano Tatuagem, de Hilton Lacerda; depois, serão apresentados o drama Pariah, de Dee Rees, e os musicais Priscila, A Rainha do Deserto, de Stephan Elliot, e The Rocky Horror Picture Show, de Jim Sharman.

A mostra é quase um esquente para a 11ª Parada da Diversidade, que acontece no próximo domingo, 16, no Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife. Mais uma vez o desfile segue pela Avenida Boa Viagem e vai até 1º Jardim, com expectativa de que 600 mil pessoas compareçam ao evento.

A primeira exibição de Abrindo o Armário acontece na sexta, 14, às 20h, numa sessão que será seguida de debate, com a participação da produtora Jaqueline Neves e do publicitário e cineasta Marlon Parente, um dos personagens do filme. Em 2016, Marlon dirgiu o média-metragem Bichas, lançado no YouTube, e que foi visualizado 770 mil vezes. Bichas, com certeza, é uma versão pós-adolescente de Abrindo o Armário, feito com menos recursos, porém basicamente com as mesmas ideias.

A epígrafe que abre o filme já é uma declaração de combate: “Eu sempre fui viado. Mas nunca deixei de ser homem por isso”. O autor da frase é o pernambucano João Francisco dos Santos, que entrou para a história com o apelido de Madame Satã, um travesti que enfrentou o preconceito no braço e na navalha, no Rio de Janeiro do século passado. Os diretores dedicam o filme à Madame Satã. Em 2005, ele teve sua história contada no cinema por Karim Ainouz, com Lázaro Ramos no papel principal.

A história de Marlon, que mora no Recife, se cruza com a de outros gays de idades e condição social variadas, em São Paulo e no Rio. A história de luta e o que fizeram para abrir o armário em que estavam sufocados, uns mais, outros menos, são os temas de todas as conversas. Embora eles tenham voz e vez, MC Linn da Quebrada funciona como uma espécie de âncora do filme, um suporte narrativo que se mostra eficaz e não permite que os depoimentos fiquem soltos.

Para contrabalançar as histórias, os diretores foram buscar exemplos de gays que vinha saindo do armário desde a década de 1960 e 1970, quando a liberação sexual balançou o mundo. O dramaturgo e escritor José Silvério Trevisan, por exemplo, conta que teve sua carreira de cineasta interrompida por causa da censura. Nos anos 1980, houve algo ainda pior: “A Aids foi uma paulada!”, relembra.

Os dançarinos ligados ao Dzi Croquettes também contam as experiências deles com a ajuda de imagens de arquivos. O carioca Fabiano Canosa, que morou em Nova York na década de 1970, quando programou um cinema, conta que é gay desde os quatro anos de idade.

A família e religião ainda são as maiores forças que os homossexuais enfrentam. Ex-Testemunha de Jeová, Linn conta que foi banida da igreja, que as pessoas não falavam com ela, nem mesmos seus pais. Filho de pai cearense, Marlon Parente diz que ele vivia sobre a sombra do “cabra macho” do Nordeste e que há muitos anos não fala com o pai.

Há depoimentos emocionalmente tocantes, mas a maior parte são histórias alegres e divertidas, de como eles são felizes quando aceitam e são respeitados em seus modos de vida.

Programação Mostra Queer+

12 a 15/9 - Cinema da Fundação/Derby

Tatuagem (Brasil, 2013)
Ficção. De Hilton Lacerda. Com Irandhir Santos, Jesuíta Barbosa, Rodrigo García. A ditadura militar, ainda hoje, mostra sinais de esgotamento. Em um teatro/cabaré, localizado na periferia entre duas cidades do Nordeste do Brasil, um grupo de artistas provoca o poder e a moral estabelecida com seus espetáculos e interferências públicas.
109 min | 16 anos | Hoje (12) – 20h

Pariah! (EUA, 2011)
Ficção. De Dee Rees. Com Kim Wayans, Aasha David. Uma garota de 17 anos precisa decidir entre expressar abertamente a sua sexualidade ou seguir os planos que os pais têm para ela. Entre se assumir e ser rejeitada, ela verá a sua vida se tornar cada vez mais caótica.
86 min | 16 anos | Amanhã (13) – 20h

Abrindo o Armário (Brasil, 2018)
Documentário. De Dario Menezes e Luis Abramo. Com Linn da Quebrada, Ciro Barcelos, João Silvério Trevisan, Jup do Bairro. Um mergulho nos processos de libertação e conquistas do movimento LGBTQ+ no Brasil. Através de entrevistas, imagens de arquivo e performances artísticas, o filme mostra como diferentes gerações foram conquistando espaços e enfrentando resistências
80 min | 12 anos | Sexta (14) – 20h + Debate com Jaqueline Alves e Marlon Parente

Priscilla, a Rainha do Deserto (EUA, Austrália, 1994)
Ficção. De Stephan Elliott. Com Terence Stamp, Hugo Weaving, Guy Pearce, Bill Hunter. Duas drag queens e uma transexual são contratadas para um show numa cidade do deserto australiano. Para chegar lá, eles partem à bordo de Priscilla, um ônibus caindo aos pedaços.
Sessão Sábado à Tarde | 104 min | 14 anos | Sábado (15) – 14h

The Rocky Horror Picture Show (EUA, 1975)
Ficção. De Jim Sharman. Com Tim Curry, Susan Sarandon, Barry Bostwick, Richard O’Brien. O carro de um casal quebra na estrada a caminho de um casamento. Em busca de ajuda, eles vão até um castelo próximo e são recepcionados por um estranho e fabuloso grupo de pessoas.
100 min | 14 anos | Sábado (15) – 20h

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