Novas Narrativas

Nelson Caldas mergulha de vez no universo do terror

O roteirista pernambucano Nelson Caldas volta ao Recife para se dedicar ao cinema de terror, trabalhando em três projetos atualmente

Rostand Tiago
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Rostand Tiago
Publicado em 04/02/2019 às 9:24
Foto: Felipe Jordão/JC Imagem
O roteirista pernambucano Nelson Caldas volta ao Recife para se dedicar ao cinema de terror, trabalhando em três projetos atualmente - FOTO: Foto: Felipe Jordão/JC Imagem
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O roteirista pernambucano Nelson Caldas fez sua vida dentro das produções audiovisuais em outros estados e no exterior. Deixou seu dedo em populares comédias da telinha, como A Grande Família e Sob Nova Direção. Também na Globo, foi convocado a adaptar clássicas novelas para suas versões em DVD, tarefa que nem os próprios autores dos folhetins conseguiram fazer.

Entretanto, dentro de si, sua paixão de infância, o cinema de terror, ficava cada vez mais latente. Pôde emprestar suas habilidades narrativas para o gênero ao coassinar o roteiro de Através da Sombra, de Walter Lima Jr., estrelado por Virginia Cavendish e lançado em 2016. 

O resultado foi apreciado, mas com suas ressalvas, o tom do clímax não agradou. Agora de volta ao Recife, após o término do contrato com a emissora, Caldas mergulha de vez no terror, "esse vírus incubado que sempre teve", como gosta de descrever. "Comecei a me associar com outros diretores e percebi que o cinema está aqui. Me dá muito prazer voltar para minha terra", relata o roteirista.

Novos projetos

Atualmente, Nelsinho desenvolve três projetos, dois deles para serem gravados em Pernambuco e um em Petrópolis, Rio de Janeiro. O primeiro, batizado de O Sem-Fim, se passa no início da década de 1970, com filmagens planejadas para serem feitas no Recife e nas falésias do Rio Grande do Norte. Será realizado em parceria com o produtor e diretor Alex Carvalho, prometendo explorar as facetas do individualismo em uma atmosfera de mistério.

O segundo foi intitulado A Espera, pensado para ser filmado na área florestal da Serra de Petrópolis, no Rio de Janeiro. A trama, passada em 1913, mostrará a ironia de um diabo que se refugia em um lar de freiras. "Essa área de Petrópolis é um lugar assustador, carrego muitos fantasmas de lá", conta.

O último é inspirado no conto A Queda da Casa de Usher, de Edgar Allan Poe, entrando mais incisivamente na seara do fantástico. O nome escolhido foi Roderick Moondog e Nelson promete estar contando uma história dele, apesar de ser uma adaptação, de certa forma.

"Trouxe a história para o ambiente marítimo do Recife, exportando os personagens para uma aldeia de pescadores, onde acontecem umas coisas muito esquisitas. É uma história que está mexendo muito comigo, dela ainda não sei muito para onde vai, mas queria quebrar essa imagem de que terror se passa em lugares frios, à la Transilvânia. Me lembro do I Walk With a Zombie (1943), um dos meus preferidos, por exemplo, que se passa no Caribe", afirma.

Seu repertório dentro desse universo é apontado como uma das principais ferramentas para dar vida aos seus novos trabalhos, tendo muita intimidade e vivência com a linguagem do gênero. Se diz vidrado nesses filmes desde criança, paixão que, segundo relata, lhe rendeu idas ao psiquiatra durante a infância. A partir desse constante contato e aprendizado, vendo filme e estudando até fora do país, formou um certo senso estético. "Gosto de empregar uma linguagem moderna e sensorial, ir para o lado psicológico. Trabalhar com a tensão, com símbolos, com o desconhecido e com a sugestão", explica.

Ele elucida também que por mais que goste de trabalhar com filmes de época, faz questão de sempre fazer com que as temáticas e os conflitos sejam atuais.  Se essa paixão e conhecimento são as primeiras peças para ter o processo criativo de hoje, o restante vem da construção de sua capacidade de contar histórias. Para Caldas, sua maior escola de roteiro foram os anos que trabalhou adaptando novelas inteiras para versões em DVD, chegando a cortar até 80% de seu conteúdo.

"Eu quase endoidei fazendo aquilo, cheguei até a recusar e querer pedir demissão. Durante essa experiência, comecei a ler Faulkner e aprendi a contar as coisas por elipses, dramatizar não o que acontece, mas o que aconteceu. Minha obrigação era respeitar os atores e o contexto histórico e cultural da época, já que aquilo também é uma fonte de dados", elabora Nelson.
Agora, seus três projetos se encontram bem consolidados, aguardando apenas os produtores envolvidos finalizarem projetos em que estão atualmente, para começar as conversas e tocar o terror pra frente.

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