Clássico

'A Vênus Loura' de Sternberg e a crueza do amor

Com maestria, o diretor narra uma história de amor, desejo, maternidade e convenções sociais. O filme será exibido neste domingo (07), no Cinema da Fundação/Museu

João Rêgo
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João Rêgo
Publicado em 06/07/2019 às 10:17
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Com maestria, o diretor narra uma história de amor, desejo, maternidade e convenções sociais. O filme será exibido neste domingo (07), no Cinema da Fundação/Museu - FOTO: Divulgação
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A Vênus Loura (1932) – exibido neste domingo (07) no Cinema da Fundação/Museu –, talvez não seja a mais célebre parceria entre o diretor Josef von Sternberg e a atriz Marlene Dietrich. Sua recepção mista, por exemplo, data o mesmo ano do premiado O Expresso de Shangai – um dos ápices da dupla. A obra, no entanto, é única na filmografia do austríaco, guardando diversas particularidades.

O clássico traz Dietrich no papel de Helen, uma cantora alemã presa num “triângulo amoroso”. Seu marido precisa de dinheiro para o tratamento de uma doença, o que a obriga a voltar aos palcos. No cabaré termina conhecendo o galante milionário Nick Townsend, com quem vive uma aventura romântica. Acima de tudo isso está o amor materno que tem pelo pequeno Johnny, seu filho.

Sem qualquer mediação moral, A Vênus Loura é, sobretudo, um filme sobre o amor – cru e naturalista. Helen é movida o tempo todo por impulsos: conseguir dinheiro para o marido, contar sobre sua infidelidade, fugir com o filho para evitar a perda da guarda.

Todo esse imediatismo é sinônimo da sua auto-suficiência – que a permite circular entre os homens da sua vida com autonomia. Seu filho, o principal, representa o seu papel de mãe, o marido, por sua vez, a enclausura na rotina das tradições familiares, enquanto seu amante é campo aberto para a potência do desejo sexual.

Assim, ao longo de quase todo filme, Sternberg transita entre tons, paixões e, principalmente, gêneros cinematográficos. Do drama familiar, à princípio – com lampejos musicais, passando pelo romance com contrastes entre classes sociais, o suspense de perseguição policial, até um retorno ao ambiente familiar.

A clássica fotografia preto e branco pesa em todos os momentos de melancolia – e são muitos, afinal a jornada de Helen é de autodescoberta, assim também de linchamento, aceitação e frustração. O filme, no entanto, não se fecha nessas fases. Como já dito, ele fala sobre o amor – e dentro dele há tanto a decadência como o ápice. Sternberg reconhece isso e força até o final do longa para que entendamos sem nenhuma clausura moral.

É a partir daí que surge toda sua genialidade como mestre da encenação. O final reúne no quarto, o pai, a mãe e o filho. Como um diretor, o garoto comanda o casal ao narrarem quando se conheceram na esperança de reacender o fogo do passado. Ao final, com êxito, um enquadramento sobre ele resume toda trama em um gesto simples: sua mão dá continuidade manual a máquina de música que embala o clima romântico entre seus pais.

MOSTRA

A curadoria do Cinema da Fundação preparou uma mostra com seis filmes – com cinco restaurados –, da parceria entre Josef von Sternberg e Marlene Dietrich. As obras estão sendo exibidas na sessão matinal Sempre aos Domingos, sempre às 10h30 na sala do Museu. Programação completa e mais informações no site: cinemadafundacao.com.br.

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