Confira um balanço sobre o último capítulo de A Regra do Jogo

A novela recuperou parte da audiência na reta final, mas não chegou a cativar o público como Avenida Brasil, parceria anterior de João Emanuel Carneiro e Amora Mautner

Globo/Divulgação
A novela recuperou parte da audiência na reta final, mas não chegou a cativar o público como Avenida Brasil, parceria anterior de João Emanuel Carneiro e Amora Mautner - FOTO: Globo/Divulgação

AVISO: O TEXTO A SEGUIR CONTÉM SPOILERS.

 

O último capítulo da novela A Regra do Jogo (Globo), exibido na sexta-feira (11/3) e repetido neste sábado (12/3), tinha basicamente cinco desfechos envolvendo personagens principais da trama para mostrar ao público: Quem matou Gibson (José de Abreu); como terminaria o embate entre Juliano (Cauã Reymond) e seu pai Zé Maria (Tony Ramos), que mentiu para o filho e assumiu o posto de chefe da facção; o que aconteceria com Romero (Alexandre Nero) e Atena (Giovana Antonelli); como seria a nova vida de Tóia (Vanessa Giácomo) quando provado que ela não matou Romero e se Dante (Marco Pigossi) conseguiria, de fato, ver o fim da facção criminosa da trama como ele sonhava.

O primeiro ponto a ser resolvido, foi o acerto de contas entre Juliano (Cauã Reymond) e Zé Maria (Tony Ramos). Em cena que começou na quinta-feira (10/3), o novo Pai da facção não teve coragem de atirar no próprio filho, mas tentou forçar Romero a fazer isso. Houve uma discussão entre os personagens e Juliano acabou revelando a Romero que Zé Maria era o assassino de Djanira (Cássia Kiss). Com essa revelação sobre o fim da própria mãe, Romero, que já se mostrava relutante em atirar em Juliano, desistiu de vez. Ele acabou morto, baleado por Zé Maria. 

 

Atena chegou a disparar contra Zé Maria na tentativa de salvar Romero. O novo líder da facção não morreu e acabou preso por Dante, que chegou ao local com outros policiais depois que Atena fugiu com Ascânio (Tonico Pereira) – mais tarde, o público ficou sabendo que eles foram aplicar golpes na Itália e que nasceu um filho dela com o ex-vereador, "Romerinho". 

Juliano (Cauã Reymond) não morreu na troca de tiros, como a atriz Susana Vieira acabou entregando mais cedo em conversa com a apresentadora Ana Maria Braga no programa Mais Você (Globo).   

 

 

Mais tarde, o mocinho foi buscar Tóia no presídio junto com Adisabeba (Susana Vieira), já que ficou provado que Romero não havia sido assassinado por ela. Parte do público ficou em dúvida ao ver Tóia sem uma barriga grande, já que ela estava grávida quando foi presa e não houve uma cena sobre o nascimento da filha dela com Romero, o que indicaria uma passagem de tempo maior.

Anos depois, a novela mostrou a personagem inaugurando o hospital que sonhava em fazer no Morro da Macaca desde que descobriu ter ficado rica. O local recebeu o nome de Romero Rômulo. Tóia e Juliano terminaram juntos, com três filhos. 

A cerimônia de casamento, tão comum em últimos capítulos das novelas, desta vez foi protagonizada por Susana Vieira e Feliciano (Marcos Caruso). O filho deles, Merlô (Juliano Cazarré), retomou a carreira no funk e se tornou pai de um grande número crianças, com mães diferentes. O público lembrou de Mr. Catra.

 

 

O clássico "quem matou?" foi desvendado na novela A Regra do Jogo durante uma conversa entre as mulheres da família Gibson na mansão. Na tentativa de manter o mistério até a exibição do último episódio, a equipe chegou a gravar cenas falsas para deixar em dúvida até mesmo os atores de A Regra do Jogo.

Anos antes desta cena na mansão dos Gibson, Zé Maria disse a Dante quando estava sendo presto que ele é quem tinha matado o antigo "Pai da facção". Mas esta versão não convenceu Belisa (Bruna Linzmeyer). Depois de um jantar, ela decide voltar ao assunto e diz que viu a mãe, Nelita (Bárbara Paz), que passou a se dedicar às artes plásticas, entrar no escritório onde o avô seria baleado pouco depois.

Nora (Renata Sorrah) ainda conta que o crime foi cometido por ela, mas estava tentando proteger a outra filha, Kiki (Deborah Evelyn). Coube a esta última contar a verdade. Kiki disparou contra o pai, por imaginar que ele mataria a todos que estavam na casa ao vê-lo retirar uma metralhadora do cofre.  

"Fui eu! Eu que tinha que parar aquele monstro! Ele destruiu tantas vidas, ele destruiu a minha vida!", contou Kiki muito abalada. Ela foi consolada pelas outras mulheres da família, que, cada uma a seu modo, também foram vítimas de Gibson. 

 


Fim.

Uma foto publicada por Bárbara Paz (@barbararaquelpaz) em Mar 11, 2016 às 6:51 PST

 

Vários pontos contribuíam para a expectativa gerada sobre a estreia de A Regra do Jogo. O autor João Emanuel Carneiro e a diretora Amora Mautner repetiriam a dobradinha do grande sucesso Avenida Brasil. Havia muitos atores talentosos e queridos do público no elenco. A "caixa cênica" foi bastante divulgada como um recurso que daria mais naturalidade às cenas (e isto foi perceptível, realmente). O fato de que o caráter de alguns personagens não ficaria definido no início da história, de que a facção criminosa atravessava vários núcleos da trama e de que a identidade do chefe do grupo era desconhecida poderia prender a atenção do público. 

Mas, na prática, a novela enfrentou algumas dificuldades em seu caminho - ainda que, nos últimos meses, ela tenha conseguindo recuperar parte da audiência que havia nesta faixa da programação. A Regra do Jogo entrou no horário das nove recebendo 25 pontos e o entregou para Velho Chico com 38, segundo dados divulgados até o momento.

Primeiro se falou que uma das causas seria o desempenho do folhetim exibido anteriormente no horário das nove, Babilônia (Globo), e que o público médio da TV aberta estaria cansado de ver na ficção "o que ele já via nos telejornais", das histórias de "violência e corrupção" ou das cenas que "ameaçavam os valores da família tradicional". Por isso, muita gente teria preferido assistir à novela oferecida pela concorrência, Os Dez Mandamentos (Record).  

Estabelecer uma relação tão direta não parece ser o suficiente para analisar o que ocorreu com A Regra do Jogo. É preciso considerar, por exemplo, pontos como o crescimento da Record no campo da teledramaturgia e o número de evangélicos no Brasil; como a popularização dos serviços de TV por assinatura e serviços de streaming nos últimos anos, que não apenas dividem a audiência, como também apresentam ao público diferentes formatos de dramaturgia; assim como algumas questões relacionadas à própria estrutura da novela que terminou nesta sexta-feira (11/3). 

Há quem acredite que uma história policial como a narrada em A Regra do Jogo poderia ter se saído melhor em formato mais compacto, como o das novelas que a própria Globo tem exibido no horário das onze, para um fragmento do público que tem se mostrado mais interessado em experimentações no formato, temas diferentes e cenas mais fortes.

Ao longo dos meses de exibição de A Regra do Jogo, surgiam queixas entre os espectadores e críticos no sentido de que a história do folhetim parecia estar sendo "esticada". Isso fazia com que o eixo da história, a disputa pelo poder simbolizada pelo jogo de xadrez nas chamadas da novela, perdesse força em relação às tramas paralelas, que se distanciavam muito do cerne de A Regra do Jogo. Assim, possíveis nuances dos personagens ficavam soltas ou não se criava condições de aprofundá-las (e a novela contava com atores reconhecidos que poderiam dar conta desta tarefa).

Entre os exemplos desse distanciamento das tramas paralelas está o núcleo representado pela família de Feliciano ou o do quarteto formado pelo casal de classe média que vai morar no Morro da Macaca e "muda de estilo de vida" com um casal amigo. 

Havia tanta gente na casa de Feliciano (Marcos Caruso) que não sobrava muito espaço para o desenvolvimento dos personagens. O patriarca, Dinorá (Carla Cristina Cardoso) e Janete (Suzana Pires) ainda conseguiram aparecer um pouco. Mas a própria relação do simpático bon vivant com Gibson e Nora acabou enfraquecida. Ficaram meio perdidas também a história da inseminação envolvendo Duda (Giselle Batista), Úrsula (Júlia Rabelo) e Vavá (Marcelo Novaes), assim como o fato de Breno (Otávio Müller) ter se descoberto transexual. 

A "inversão de papéis" entre o casal de classe média formado por Tina (Monique Alfradique) e Rui (Bruno Mazzeo) com os moradores do Morro da Macaca Indira (Cris Vianna) e Oziel (Fabio Lago) poderia ter dado lugar a algo com menos estereótipos, que fosse mais representativo da diversidade das pessoas que moram nos morros cariocas e as transformações vividas por essas comunidades. O hostel de Adisabeba poderia ser um bom espaço para se explorar esta possibilidade.  

Ainda no Morro da Macaca, a chegada de César/Rodrigo (Carmo Dalla Vecchia) na vida de Domingas (Maeve Jinkings) de uma hora para outra causou estranhamento. Algumas pessoas pensaram que ele teria aparecido ali para resolver algo ligado à facção e não pelos dramas pessoais que o personagem revelou enfrentar mais tarde. Um ponto positivo é que a história de Domingas não se limitou a trocar o violento Juca (Osvaldo Mil) pelo amoroso César. Maeve Jinkings conseguiu construir uma personagem que era fragilizada pela violência que sofria e, no transcorrer da história, acabou se descobrindo e se fortalecendo para trilhar o próprio caminho. 

Entre as transformações dos personagens, o público também estranhou a mudança de comportamento de Atena. Ela, que parecia uma mulher muito segura e expansiva, passou muito tempo vivendo em função de Romero. Não que ela não pudesse se apaixonar ou sofrer por Romero decidir ficar com Tóia, mas Atena podia ter uma vida independente. Com o carisma de Giovanna e Alexandre, no entanto, o casal "Romena" conseguiu se destacar. Ainda mais pela dinâmica que formava com o escorregadio Ascânio, com Tonico Pereira entregando o tom de deboche necessário para este membro da facção.

Ainda sobre Romero, a história da doença que ele tinha descoberto no início da novela também se perdeu. O lado positivo é que o caráter dúbio do personagem foi mantido no final, assim como ocorreu com Zé Maria. Fazia mais sentido com o que vinha sendo construído até ali.

 

 

 

Últimas notícias