"Eu não tenho medo de morrer; tenho pavor!", diz Carolina Dieckmann

Atriz estará no elenco de 'Treze Dias Longe do Sol', minissérie da TV Globo na qual passará por situações-limite

Foto: TV Globo/Reprodução
Atriz estará no elenco de 'Treze Dias Longe do Sol', minissérie da TV Globo na qual passará por situações-limite - FOTO: Foto: TV Globo/Reprodução

Estar preso debaixo da terra é uma experiência desesperadora. E Carolina Dieckmann sabe bem disso – pelo menos no âmbito cênico. Em Treze Dias Longe do Sol, minissérie da Globo que estreia no dia 8 de janeiro, mas já teve os dez episódios liberados no Globo Play, sua personagem, Marion, passa por essa situação-limite. Sob os escombros de um prédio que desaba, além da luta pela vida ao lado de Saulo (Selton Mello), ex-amante dela, e outros sobreviventes, a médica tem de enfrentar também o amor que ainda sente pelo engenheiro. No entanto, as desavenças do passado voltam com mais força, diante de emoções tão à flor da pele.

Na entrevista a seguir, a carioca de 39 anos comenta os bastidores das gravações, como foi sua preparação e se já pensou sobre o que teria feito no lugar de Marion. Além disso, a atriz revela que tem pavor da morte, como está a vida nos Estados Unidos, onde mora atualmente, e se já tem data para retornar ao Brasil.

ENTREVISTA: CAROLINA DIECKMANN

Durante as gravações de Treze Dias Longe do Sol você teve alguma sensação de claustrofobia?

CAROLINA DIECKMANN – Fiquei gravando direto naquele soterramento, mas não tive claustrofobia. Acho que uma pessoa que sofre desse problema vai se desesperar, mesmo sabendo que é ficção. Mas fizemos tudo com equipe de segurança, bombeiros, ou seja, em nenhum momento a gente deixou de ter uma infraestrutura adequada para trabalhar. Mas vimos, no estúdio, com explosão de poeira, um teto desabar. Foi bem real e assusta, principalmente por causa do barulho. Isso tudo mexeu comigo, são coisas que nunca tinha ouvido. Mas não geraram pânico

Como foi sua preparação para interpretar uma pessoa que fica soterrada?

CAROLINA – É óbvio que quando uma pessoa vive uma situação assim, não passou por uma preparação. Só que, a partir do momento em que acontece, tem de lidar com o novo. O importante é dar para a gente esse panorama, essa gama de sensações que as pessoas têm. O elenco fez um exercício sensorial de passar umas bexigas cheias de água no corpo, de olhos fechados, e sentir a vibração de cada órgão. Isso foi bem legal. Eu já tinha trabalhado essas emoções instintivamente, mas não com essa consciência.

Como se sentia ao sair das gravações?

CAROLINA – Cansada, porque era também uma atividade corporal, de resistência. A gente tinha cenas de ação todos os dias. Mas, quando olhava a luz do dia ou da noite e via cores, faróis, carros e pessoas, ficava ótima. Porque realmente deve ser desesperador ficar debaixo da terra.

Como foi a experiência de gravar nos escombros?

CAROLINA – Eu me diverti muito! Não tinha de usar maquiagem, então já ficava feliz de manhã. Era só jogar uma poeira na cabeça e pronto. Nunca paravam uma cena porque a atriz estava suando. Essa parte foi ótima! Não tenho vaidade no trabalho.

Você já pensou o que gostaria de resolver na sua vida se estive na situação da Marion?

CAROLINA – Eu pensei nisso em várias horas! Por exemplo, o que eu teria falado para o meu filho se vislumbrasse a possibilidade de nunca mais vê-lo, porque ela não sabe se vai sobreviver. Pensar em uma situação em que você não sabe se vai reencontrar alguém já dá desespero.

Você tem medo de morrer?

CAROLINA - Eu não tenho medo de morrer; tenho pavor! Não é só o medo de deixar, mas de não poder ver meus filhos. Falava para o Luciano Moura (autor e diretor) que a pulsão da Marion, para mim, é que mãe não pode morrer. Quem é mãe sabe disso, porque tem de cuidar, ver casar e constituir família, se formar, perguntar se está com o casaco, imaginar se não vai sentir frio, verificar febre, coisas que mães fazem!

Os anos passam, mas você continua com a mesma aparência. Você faz algum procedimento?

CAROLINA - Estou com as minhas marcas, que foram se acumulando e estão comigo há muitos anos. Realmente, não faço procedimentos de estética. Pelo menos não ainda. Quem sabe daqui a pouquinho eu recorra a eles... Mas acho que a gente se vê um pouco na cara do outro. Quando olhamos para a pessoa e ela está feliz ou não, é um pouco do que passamos. Tenho vontade de ser alegre, de ter um sorriso para dar, uma novidade para contar. É bom lidarmos com a verdade, com emoções reais. Quando a cara cair toda, é isso que quero que esteja lá. E não é papinho.

Como está a sua vida morando nos Estados Unidos?

CAROLINA – Minha vida lá fora está comum em todos os aspectos. Eu estudo muito, umas cinco horas, e tenho todas as coisas que são normais de mulher. Como ir ao mercado, levar filho na escola, no tênis, pagar contas, o que não fazia aqui no Brasil. Eu vi a Fernanda Lima falando sobre isso em um evento: que os filhos tinham tudo na mão. E é isso mesmo! A gente, coincidentemente, tanto eu quanto a Fernanda, temos uma situação privilegiada. É importante dizer! Tem muitos brasileiros que têm uma realidade bem mais difícil que a do americano. Mas é que lá é comum você ter essas tarefas para fazer. Faxino a casa direto, cozinho, estou até dando banho no cachorro. E tudo isso com prazer

Quando você vê a atual situação do Rio de Janeiro e do Brasil, como se sente?

CAROLINA - Na hora em que a pessoa me pergunta isso é que fico triste. Como eu queria que todo mundo se sentisse seguro! É tão simples, tão básico, tão necessário! Teve essa turista assassinada (na Rocinha, no Rio de Janeiro, em 23 de outubro) enquanto tentava se divertir, conhecer um pouco mais da cidade. As coisas acontecem e não tem como você controlar. Ver a minha cidade e meu país passando por essa rotina, de um jeito tão desesperado, e ver o rosto das pessoas sem acreditar em ninguém é muito triste. Não adianta, posso estar no Japão, mas meu coração sofre. Minha família está toda aqui, meu filho mora aqui, sou daqui!

Você já tem data para voltar ao Brasil?

CAROLINA – Ainda não. A minha ida pra lá, e é até importante dizer isso, não tem nada a ver com essa situação. Quando fui, tinham acabado as Olimpíadas no Rio, o Brasil estava bombando e todo mundo falando que o país era incrível. Não vou deixar de voltar por causa de crise. São coisas totalmente diferentes. O fato é que ainda estou lá e sofrendo. Talvez, não esteja sentindo a pressão que todos os brasileiros enfrentam do medo no dia a dia, da insegurança de não saber se um maluco vai entrar na escola do seu filho e matar todo mundo. Mas me machuca tanto quanto se eu estivesse morando aqui.

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