ENTREVISTA

Cristovão Tezza: "Sou atormentado pelo fantasma do romancista"

Escritor comenta o seu novo livro, Beatriz, com sete contos que resgatam personagens do seu livro mais recente

Diogo Guedes
Cadastrado por
Diogo Guedes
Publicado em 24/12/2011 às 6:07
Leitura:

Consagrado em 2007 por O filho eterno, vencedor dos prêmios Portugal Telecom, São Paulo e Jabuti, Cristovão Tezza se consolidou como um dos principais autores contemporâneos do Brasil. No seu mais recente livro, Beatriz, o romancista se dispõe a voltar para um formato que há muito não explorava, as narrativas curtas, presentes apenas nos seus renegados primeiros lançamentos, que traziam a marca de um escritor testando as técnicas literárias.

Os sete contos retomam não só a revisora de textos que havia aparecido em Um erro emocional, mas, em dois momentos, o protagonista da obra, o autor Paulo Donetti. Na entrevista abaixo, Tezza comenta a dificuldade de se dedicar a histórias breves e conta como cria suas narrativas. “Jamais desenhei um personagem a partir de pessoas concretas. Todos os meus personagens são seres coletivos, Frankensteins”, define o romancista.

JORNAL DO COMMERCIO – Por que essa volta ao formato dos contos tardiamente?
CRISTOVÃO TEZZA –
Os contos aconteceram por acaso, depois que terminei O filho eterno. De fato, passei uns 30 anos sem escrever história curta. Depois do primeiro conto, que me aconteceu num rompante, recebi algumas encomendas para antologias e revistas, e retomei aquela primeira Alice em algumas histórias. Comecei a pensar organicamente na personagem, mais do que propriamente nos contos avulsos. O resultado é que o livro acabou tendo uma unidade bastante fechada, quando decidi publicá-los.

JC – Você se sentiu inseguro em voltar a publicar contos? Sente-se mais confortável nos romances?
TEZZA –
Enfrentei os contos com um certo espírito de aventura. Comecei a achar um tanto absurdo que, depois de dez romances, não me sentisse capaz de escrever contos. E havia um lado prático: muitos convites para antologias e revistas, e eu dizendo “não” porque “não escrevo contos”. Era hora de acabar com isso e encarar o gênero. Mas, de fato, eu sempre me senti melhor escrevendo romances, narrativas longas. É um modo diferente de entrar no texto, sem a pressa do conto. Mas agora estou gostando da brincadeira, por assim dizer. Já estou com duas ideias de histórias curtas martelando minha cabeça. Mas as duas com a mesma Beatriz.

JC – Os relatos de Beatriz nasceram em momentos diferentes e com intuitos diferentes, mas, no livro, parecem ter uma unidade. O que, para você, os torna tão independentes e tão próximos assim?
TEZZA –
Bem, o conto é um gênero fechado: você tem de resolver o texto e a história naquelas 10, 15 páginas, e tem de dar ali todos os elementos para a recepção completa do que você escreveu. Esta é a independência do conto. Mas, como alguém atormentado pelo fantasma do romancista, fiquei retrabalhando a mesma personagem, o que criou uma relação entre as histórias ou, pelo menos, uma familiaridade. Mas o livro só fica em pé se, de fato, os textos funcionarem independentes uns dos outros.

JC – Para você, os personagens realmente surgem de forma penosa? Como eles se tornam material literário?
TEZZA –
Sim. A composição de um personagem é sempre um processo bastante complexo para mim. A primeira exigência que eu faço a mim mesmo, inegociável, é que ele não seja meu porta voz. Um personagem é um outro, é um estranho. Você pode ter pontos de contato com ele, pode sentir uma grande empatia, mas jamais se confundir com ele. Forcei esta regra até mesmo n’O filho eterno, que é um livro quase que totalmente baseado na minha própria vida. Mas tive de me afastar daquele pai, ou o livro fracassaria. Outro ponto é que o personagem é sempre uma figura social, alguém que concentra traços de uma cultura comum, e é por isso que um bom personagem é sempre interessante. Ele é alguém próximo. Enfim, o personagem, apesar de toda a sua ponte com o que se chama “realidade”, é um ser feito de linguagem, o que é outro mundo. Daqui para a frente, entrego-me à intuição.

 Leia a entrevista completa no Jornal do Commercio deste sábado (24/12).

Últimas notícias