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Christopher Hitchens prioriza formação intelectual em autobiografia

Autor economiza nas críticas às religiões no último livro

AD Luna
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AD Luna
Publicado em 07/01/2012 às 6:09
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Falecido em dezembro último, o jornalista, escritor e crítico literário britânico Christopher Hitchens era um polemista de mão cheia. Longe de se aliar a tudo que diz respeito ao senso comum, ousou desferir impiedosas críticas aos modelos políticos autoritários de direita ou esquerda, ao ex-presidente americano Bill Clinton, à aparentemente inatacável Madre Tereza de Calcutá e, junto com os outros três “cavaleiros do neoateísmo”, Sam Harris, Richard Dawkins e Daniel Dennet, à suposta irracionalidade das religiões – principalmente as três grandes monoteístas: cristianismo, judaísmo e islamismo. Em sua autobiografia, Hitch-22, lançada no Brasil pela Editora Nova Fronteira, o também autor de Deus não é grande – como a religião envenena tudo dá prioridade à história da sua formação intelectual e singular visão de mundo.

Ao nos remetermos às primeiras lembranças de nossa vida, é comum utilizarmos a expressão “desde quando me conheço como gente”. No entanto, poucos de nós costumam guardar muitos detalhes dessas recordações remotas. Pois é com riqueza de nuances que Christopher Hitchens conta tal experiência, usada para introduzir o leitor na descrição do perfil da sua mãe, Yvonne.

“Estou de pé em um ferryboat que cruza um porto adorável. Desde então aprendi muitas versões e variações da palavra ‘azul’, mas digamos que um Sol radiante, embora ligeiramente forte, ilumina uma abóbada celeste cerúlea e um mar azul-marinho e também define o modo como essas duas texturas se chocam e se refletem (...)”, rememora Hitchens, que à época dessa vivência devia ter três anos e pouco, segundo seus cálculos.

Mesmo chamando-a pelo nome (algo tido por desrespeitoso ou pouco afetivo para alguns pais), Hitchens demonstra ter grande fascínio e carinho por sua genitora. Nem mesmo o fato de Yvonne ter traído o pai dele e seu posterior suicídio ao lado do amante afetam sua admiração e respeito por ela.

Seu pai, Eric Ernest Hitchens, era militar da Marinha Real britânica e descrito como um homem de poucas, além de não ser “daqueles projetados pela natureza para construir ninhos” - um eufemismo para dizer que ele não ostentava grande beleza e não atraia muitos olhares femininos. Por falar em garotas, Hitchens filho conta que a conversa mais próxima que tiveram sobre o sexo oposto foi quando o Hitchens pai lhe disse para “ter cuidado com mulheres de lábios finos” e se ligar naquelas de “olhos bem separados”.

Ao passar os olhos atentamente por Hitch-22, o leitor poderá perceber que a notória revolta do seu autor com as religiões monoteístas encontram-se situadas dentro de um contexto maior. Na verdade, ele “pregava” a insubmissão a qualquer poder autoritário e dogmático. Daí sua inquietação também incluir os regimes ditatoriais de países comunistas, como expresso no livro.

Se na adolescência Christopher nutria grande paixão e se destacava como militante de extrema esquerda, à medida que ia amadurecendo e tendo contato direto com as inúmeras contradições conceituais e atitudes irracionais de “camaradas” próximos ou distantes, ele ia abandonando a antiga devoção vermelha.
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