LITERAtURA

Livro de contos mostra Mia Couto menos inspirado

Estórias abensonhadas traz 26 narrativas curtas do autor sobre o período pós-guerra em Moçambique

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 04/04/2012 às 6:48
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“Toda estória se quer fingir verdade. Mas a palavra é um fumo, leve demais para se prender na vigente realidade. Toda verdade aspira ser estória. Os factos sonham ser palavra, perfumes fugindo do mundo. Se verá neste caso que só na mentira do encantamento a verdade se casa à estória”. O início do conto O cachimbo de Felizbento, do escritor moçambicano Mia Couto, é uma espécie de testemunho da sua forma de pensar a narrativa: para ele, a realidade é só um acessório da imaginação. Em Estórias abensonhadas (Companhia das Letras, 160 páginas, R$ 35), o autor dá mais uma amostra do seu trabalho de reinvenção da vida e da linguagem – ainda que caia em repetições e armadilhas.

No livro, Mia Couto está construindo suas narrativas a partir de um momento histórico bastante específico: a transição da guerra para a paz em Moçambique, em meados de 1994. Os 26 relatos da obra mostram pequenos personagens, pessoas que tentam viver o cotidiano após as décadas de conflito.

Sua busca pela invenção da realidade aparece também na linguagem, repleta de neologismos e construções não usuais. O que João Guimarães Rosa fez com a linguagem do Sertão, Mia Couto busca construir a partir da forma de falar dos moçambicanos, para quem o português, apesar de ser a língua oficial, não é o idioma materno.

De fato, em Estórias abensonhadas, Guimarães se mostra uma influência enorme para o autor. Até os nomes de seus personagens buscam se assemelhar aos aos do mineiro: Virigílio, Felizbento, Jorojão, Infelizmina, Tristereza, Júlio Novesfora. É uma bela homenagem que, nos seus momentos mais inspirados, rende boas frases, como “O medo é um rio que se atravessa molhado”. Nem sempre é assim. Mia Couto tem um olhar emotivo e maravilhado das esperanças e desilusões de Moçambique, mas tropeça, por vezes, na própria vontade de sempre ver beleza – também beleza melancólica – no mundo.

Leia a matéria completa no Jornal do Commercio desta quarta-feira (4/4).

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