ENTREVISTA

Jorge José B. Santana: "No íntimo o jornalista tem alma de artista"

Jornalista fala, em entrevista, sobre a pesquisa do livro e sobre o futuro do jornalismo

Do JC Online
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Publicado em 19/06/2012 às 6:22
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JORNAL DO COMMERCIO - Primeiro, queria que você contasse um pouco do processo de pesquisa para o livro, com a feitura de tantas entrevistas e fotografias. Quando você começou? Qual foi o primeiro passo?
JOSÉ JORGE B. SANTANA -
A ideia foi  o ponto de partida. Ao escrever  dois livros sobre a Televisão e um sobre o rádio como poderia  deixar à margem do caminho a história  da imprensa escrita? Tive passagem pela redação de jornal nos anos 60 e, mesmo sendo  rápida,  foi muito prazerosa.  Lembro-me  dos ruídos das velhas máquinas  de escrever e das brincadeiras de tantos figuras que lideravam o  jornalismo da época. Outra motivação que tive para contar a história da imprensa pernambucana, foi as cobranças. Antes mesmo  de  fechar as páginas do Meio século depois - televisão pernambucana, e  a medida que eu  garimpava os assuntos sobre a TV, lia e relia páginas de jornais comparando estilos e meditando sobre a liberdade de expressão posta em prática por  alguns dos expoentes do jornal impresso. Depois  procurei me aprofundar nos escritos de Luiz do Nascimento, Leonardo Dantas, José Antônio Gonçalves de Mello e quase meia dúzia de outros  autores que já haviam abordado o assunto. E quem me deu a “deixa” foi Nascimento ao escrever que ao terminar a pesquisa no início dos anos 50, delegava a outros, a tarefa da continuação  do relato sobre o referido tema. Vi nisso um desafio e resolvi aceitar. Mas foi a partir do anúncio de fechamento do Jornal do Brasil,  que resolvi dar o primeiro passo concretamente. Passei meses na microfilmagem da Fundação Joaquim Nabuco; semanas debruçado nas largas mesas  do Arquivo Público de Pernambuco; visitei e fotografei juntamente com Clóves Marques e Eduardo Peixoto inúmeros vespertinos e matutinos nos porões dos  jornais onde estavam os chamados arquivos mortos; conversei  com antigos e novos profissionais da área. O esboço inicial foi modificado. Assim como alterei outras versões porque o desejo era fugir do formato adotado pelos antecessores. E cheguei à conclusão que a melhor fórmula seria a que utilizei nos três livros anteriores: simplicidade e a emoção  dos principais atores do processo.

JORNAL DO COMMERCIO - No prefácio, Alexandre Figuerôa fala do seus "olhos da paixão" pelo jornalismo. Você acha o jornalismo um tema apaixonante? Como surgiu seu interesse pelo tema?
JOSÉ JORGE B. SANTANA -
Tão apaixonante quanto participar de uma novela de rádio ou TV, apenas  com uma diferença fundamental: a ficção dá lugar à realidade. A vida como ela é passa a ser o insumo da produção jornalística. O interessante é que alguns se envolvem emocionalmente. Foi assim, é assim e será sempre assim, porque o ser humano constrói coisas à base da paixão, embora a regra seja ouvir as duas partes envolvidas em um fato. Escutar as versões e traduzi-las para o leitor de forma fria e distante do acontecimento. Sem  comprometer-se. Conseguir separar o emocional dos fatos reais.  

JORNAL DO COMMERCIO - Seu ponto de partida são os anos 1950, até quando Luiz do Nascimento se debruçou em História da Imprensa de Pernambuco. Como estava o jornalismo impresso nessa década? Ainda há algum vislumbre hoje de traços da imprensa pernambucana daquela época?
JOSÉ JORGE B. SANTANA-
O livro Jornais e jornalistas-Imprensa Pernambucana  é  dedicado a Luiz do Nascimento (in memoriam), em homenagem a quem pesquisou exaustivamente o tema em um tempo no qual as ferramentas, para tal, eram escassas. Mostra número de edições, valores de venda dos exemplares, dimensão e formato dos jornais e revela nos seus escritos o aspecto político partidário que permeava as redações ao demonstrar como os profissionais da área eram perseguidos quando enfrentavam o poder dominante. E isso ficou muito claro desde 1825 com a chegada do Diario pelas mãos de  Antonino José Miranda Falcão. E os concorrentes da época não eram diferentes. E veja o que aconteceu com o Jornal do Commercio em 1930: foi empastelado porque adotava uma linha diferente dos que participaram da revolução vencedora. O mesmo problema ocorreu com  o Jornal Pequeno, Folha do Povo, Correio do Povo, Última Hora e tantos outros. Hoje os editoriais são vigiados. Algumas das colunas políticas passam pelo crivo da denominada linha editorial do jornal. A liberdade de expressão tem os seus limites, salvo raras  exceções.

JORNAL DO COMMERCIO - A imprensa pernambucana sofreu bastante com a ditadura? Quais os principais percalços enfrentados desde os anos 1950?
JOSÉ JORGE B. SANTANA -
Qual o veículo de comunicação que não sofreu? No livro existem vários depoimentos de profissionais que foram presos, espancados e privados de exercerem o trabalho por um bom tempo.

JORNAL DO COMMERCIO - As lembranças sentimentais também tiveram um papel importante na construção do livro?
JOSÉ JORGE B. SANTANA -
  Foi a forma que encontrei para tornar o texto mais leve e com sabor sentimental sem, entretanto, chegar a tons melancólicos ou saudosistas. Utilizei atores reais, de um tempo real, com suas circunstâncias e visões sociais e políticas diferenciadas. A reprodução dos diálogos não foi mera coincidência. Há um propósito.  

JORNAL DO COMMERCIO - Algum dos depoimentos presentes no livro o emocionou ou o impressionou?
JOSÉ JORGE B. SANTANA -
  No íntimo o jornalista tem alma de artista. É aquela história da paixão pelo que se faz.  Está tudo gravado em vídeo e áudio. Muitas lágrimas foram registradas. Mas esse capítulo  será parte de outra narrativa.

JORNAL DO COMMERCIO - No que a pesquisa para fazer Jornais e jornalistas foi diferente dos seus dois livros anteriores sobre a TV e o rádio?
JOSÉ JORGE B. SANTANA -
  A parte iconográfica foi mais difícil.  Jornalista não costuma guardar foto de si mesmo. Tive que recorrer a fotógrafos  e outros autores amigos. Até os familiares daqueles que já partiram tinham dificuldades em fornecer o material. Mas  superamos.  

JORNAL DO COMMERCIO - Na obra, você vai além de apenas fazer um resgate histórico e também se arrisca a trazer para o debate questões do futuro do jornalismo. O que pode notar, por suas pesquisas e entrevistas? Quais as tendências atuais do jornalismo impresso?
JOSÉ JORGE B. SANTANA -
Quando a televisão inaugurou disseram que o rádio iria se acabar. Acabou, nada. Mudou a forma de fazer. Novos conceitos foram agregados. Com a chegada da internet e a criação de plataformas no formato virtual  andam dizendo a mesma coisa sobre o jornal impresso. A  mesma reação  vai ocorrer com a imprensa escrita, diante da internet. O jornal impresso em papel não vai desaparecer coisa, nenhuma. Seguirá os passos do rádio. Buscará novos formatos, mudará o conceito quanto à abordagem dos assuntos, se aprofundará mais nas suas análises e permanecerá sempre  porque é,  sempre foi e será  importante documento no registro da história  de vida das cidades e das pessoas. Por outro lado o jornal virtual  prefere a síntese. Textos curtos. Fruto da dinâmica do novo tempo. As novas gerações são tragadas pela ferrenha competição imposta pelo mercado do trabalho  e não se debruçam mais demoradamente em análises dos fatos. E a indústria da informação tenta manter esse público leitor, satisfazer  o desejo desse consumidor. Resta saber  como preencher espaços comerciais da mesma maneira como ocorre com o impresso em papel.

JORNAL DO COMMERCIO - Tem planos de mais livros sobre o jornalismo pernambucano? E de outros trabalhos
JOSÉ JORGE B. SANTANA -
Se Deus quiser pretendo escrever  outros livros dentro dessa mesma linha documental. É uma forma de servir. Ser útil, principalmente  às gerações voltadas para a Comunicação Social.

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