ENTREVISTA

Frédéric Martel fala da geopolítica da cultura mainstream

Em entrevista ao JC, autor francês, convidado da Fliporto deste ano, comenta conceitos como o de "soft power"

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 15/11/2012 às 11:07
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Já faz um bom tempo que os bens culturais são elementos fundamentais para se entender as dinâmicas econômicas mundiais. Em Mainstream (Civilização Brasileira, 490 páginas, R$ 50), o jornalista e sociólogo Frédéric Martel revela o novo momento da geopolítica da cultura. O conceito de "soft power", uma influência política e econômica feita não através da coerção, mas da atração e da venda de um modo de vida, é praticado hoje não apenas pelos Estados Unidos, mas por nações emergentes como o Brasil. Na entrevista abaixo, Martel explica um pouco da dinâmica da economia da cultura e fala do papel do Brasil nesse espectro.

JC - Como pesquisar a geopolítica da circulação da cultura de massa pode nos ajudar a entender o cenário global? Isso é algo a ser levando em conta ao se analisar um produto midiático?
FRÉDÉRIC MARTEL -
Quando eu escrevi Mainstream não planejava criar um novo currículo ou sequer criar um livro. Eu fiz uma pesquisa prática, de campo, baseada em centenas de entrevistas em vários países. É verdade que, agora, ela parece estar ajudando pessoas no mundo todo a entender o mundo em que vivemos hoje e para onde estamos indo, especialmente nos países emergentes. Eu fico feliz com isso, mas não era o meu plano. O que eu queria era fazer um misto de bom jornalismo e boa pesquisa. Então, você tem razão. Eu realmente acho que temos que levar em conta a cultura e o mainstream para entender o que é o "soft power".

JC - O conceito de "soft power" é fundamental para se entender a globalização do mainstream. A influência pela atração, e não pela coerção, pode estabelecer uma hegemonia?
MARTEL -
Sim, eu acho que pode. Estranhamente, ela é usada pelo mesmo país que cunhou o termo e que é hegemônico: os Estados Unidos. Mas eu não acho que nós teremos no futuro uma hegemonia única. Os EUA são atores fundamentais desse jogo. Eu não tenho nenhum dúvida disso, e acho que vai continuar da mesma forma. Ao mesmo tempo, temos países emergentes que também vão ser atores nesse jogo. E, para mim, os países emergentes não são apenas os Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). O México, a Colômbia e o Egito estão emergindo também. Esses países crescem não apenas demograficamente e economicamente, mas também a partir do conteúdo, da cultura, da mídia e da internet também.

JC - Uma grande consequência da dominação americana do mainstream é o modelo da "diversidade padronizada". Quais são os problemas (e pontos positivos) desse modelo?
MARTEL -
Eu cunhei essa expressão porque ela parece perfeita para qualificar os EUA: eles exportam de uma forma singular uma diversidade cultural bastante padronizada. É algo bom para eles porque por meio da sua própria diversidade eles são capazes de falar com o mundo, é um ponto negativo porque eles terminam sendo mais abertos a aceitar a própria diversidade interna do que vinda de fora. Eles mesmos escolhem sua própria definição de diversidade.

Leia mais no Caderno C do Jornal do Commercio desta quinta (15/11)

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