LUTO

Filosofia pernambucana perde Maria do Carmo Tavares de Miranda

Nome de importância internacional, a também teóloga e pedagoga foi assistente de Heidegger e colega de Gilberto Freyre

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 21/12/2012 às 6:36
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A filósofa, pedagoga e teóloga pernambucana Maria do Carmo Tavares de Miranda faleceu nesta quinta (20/12), às 6h, no Hospital Memorial de São José, aos 86 anos, por complicações decorrentes de uma queda. Integrante da Academia Pernambucana de Letras (APL), em que ocupava a cadeira de número sete desde 1983, Maria do Carmo era chamada pelo amigo Gilberto Freyre de “a filósofa de Paris”. Ela foi velada quinta (20/12) na APL e sepultada à tarde no Cemitério de Santo Amaro

Maria do Carmo nasceu na cidade de Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata do Estado. De formação erudita, a pesquisadora iniciou sua trajetória fazendo duas graduações: Letras Clássicas e Filosofia, ambas na Universidade Federal de Pernambuco. No final da vida, sabia traduzir para mais de oito idiomas, incluindo grego, latim, aramaico e hebraico, segundo conta o jornalista Leonardo Dantas, seu amigo pessoal. Mais tarde, seguiria para estudar na França, doutorando-se em Filosofia na Universidade de Sorbonne, em Paris, antes de voltar para o Brasil para lecionar na Universidade Federal de Pernambuco.

Um dos momentos de destaque da trajetória de Maria do Carmo foi o período em que foi assistente do filósofo Martin Heidegger, na Universidade de Friburgo, na Alemanha, em 1995. Não por acaso, o pensador alemão foi uma das principais influências da sua obra e ela ainda foi a responsável pela tradução de uma das obras do filósofo existencialista – conhecido por sua prosa complexa e poética – , Da experiência do pensar.

“É uma perda irreparável para o Estado. Ela foi a filósofa pernambucana de maior prestígio lá fora”, explica Leonardo, que editou vários livros da amiga. Entre as obras que Maria do Carmo publicou, destacam-se Théorie de la verité chez Edouard Le Roy; Pedagogia do tempo e da história; Os franciscanos e a formação do Brasil; O ser da matéria; Caminhos do filosofar e Aventura humana.

Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco, coube à filósofa pernambucana a ocupação de diretora-geral do Seminário de Tropicologia por alguns, ficando responsável pela publicação dos anais do evento.

No final da vida, a autora saía pouco da casa. Seu último livro lançado foi Papas: Trajetória de testemunhos, feito quando a autora não podia mais se levantar ou escrever, em 2008. Para a execução da obra, as mais de 600 páginas do volume foram ditadas para uma assistente. Por meio de nota, a APL anunciou o seu pesar pela morte de Maria do Carmo.

Leia mais no Jornal do Commercio desta sexta (21/12).

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