SEXUALIDADE

Retratos do Recife em debate no A Letra e a Voz

A emparedada da Rua Nova e Orgia são debatidos na programação desta quinta (22/8) no festival

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 22/08/2013 às 6:31
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Dois mergulhos em uma cidade e na sua sexualidade. A primeira mesa de hoje do festival A Letra e a Voz, às 16h, no Museu Murillo La Greca, vai pôr lado a lado dois romances emblemáticos sobre o Recife: A emparedada da Rua Nova, folhetim clássico do pernambucano Carneiro Vilela (1946-1913) e Orgia, diário romanceado do dramaturgo argentino Tulio Carella.

Dois pesquisadores dessas obras conversam no evento, Anco Márcio Tenório Vieira e Luís Augusto Reis, ambos da UFPE, com mediação da jornalista Carolina Leão. No encontro, a Cepe Editora ainda vai distribuir o primeiro capítulo da nova edição do folhetim de Carneiro Vilela, que deve ser lançada ainda este ano, com prefácio de Anco Márcio.

“A emparedada tem vários aspectos atuais. Primeiro, ela retoma a ideia do mito de Don Juan, a questão do sedutor. Segundo, a forma do romance de folhetim: ele escreve uma obra que você não consegue parar de ler, amarra um capítulo com o outro. É uma obra de quase 600 páginas que eu li em dois dias”, aponta o professor de Programa de Pós-Graduação em Letras. “Ainda é importante ressaltar as descrições do autor dos costumes sociais e do modo de falar da população pobre. É um painel do Recife do final do século 19”. O folhetim vai virar minissérie com dez capítulos na Globo, com roteiro do pernambucano George Moura.

Orgia, por sua vez, é um livro sobre o mergulho de Tulio Carella na vida recifense, principalmente no mundo dos invisíveis da cidade. O argentino parou na cidade à convite de Hermilo Borba Filho e, em meio a solidão do trabalho de professor, passou a viver várias experiências sexuais, inclusive encontros com outros homens. “Ele constrói a obra dele em um misto de relato e sonho, fazendo não só um retrato do Recife, mas uma imagem dele mesmo, deflagrada pelo estranhamento de chegar em uma cidade diferente”, explica Luís Reis, docente do Departamento de Teoria da Arte e Expressão Artística.

Para Luís Reis, o olhar sobre as duas obras é oportuno porque ambas falam de assuntos pouco comentados pela sociedade. “Elas revelam pulsões e outras forças humanas”, explica. Uma das diferenças, segundo Anco Márcio, é que Carneiro Vilela busca no seu romance apontar a hipocrisia da sociedade, que prega uma moral que não segue, com um instinto de correção. “A obra dele tem um fundo moral, como a de Nelson Rodrigues”, aponta. “Já Carella traz o olhar de um estrangeiro dessa nova sociedade, mas é alguém que está interessado em vivenciar experiências sexuais sem que elas passem por um crivo moralista”.

Leia a matéria completa no Jornal do Commercio desta quinta (22/8)

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