MERCADO

Projetos editoriais aproveitam as vantagens dos e-books

Coleção Formas Breves, o selo Breve Companhia e a editora Cesárea trazem textos exclusivos a preços acessíveis para o universo dos livros digitais

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 01/06/2014 às 5:52
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Coleção Formas Breves, o selo Breve Companhia e a editora Cesárea trazem textos exclusivos a preços acessíveis para o universo dos livros digitais - FOTO: Foto: Divulgação
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Os e-books são um dos temas preferidos do mercado editorial. Todo ano se anuncia o crescimento das vendas no formato (ainda que, em 2013, o aumento tenha sido menor do que o esperado), comenta-se o preço médio e são avaliados as novas interfaces de leitura. Olhando com cuidado, no entanto, é possível ver que as principais empresas brasileiras priorizam os lançamentos impressos e fazem dos livros digitais apenas versões dos lançamentos comuns.

Estavam em falta, até pouco tempo, projetos que aproveitassem a rapidez e o alcance dos e-books. Mas começaram a surgir recentemente coleções e projetos mais arrojados, que trazem materiais inéditos e exclusivos, com um preço mais barato do que os e-books tradicionais, que costumam imitar o valor dos impressos, só com um pequeno desconto. Um dos melhores exemplos desse fenômeno – para além da autopubli-cação, claro – é a coleção Formas Breves, de contos, comandada pelo escritor catarinense Carlos Henrique Schroeder.

O selo da editora E-galáxia se dedica a publicar, desde fevereiro deste ano, um conto inédito a cada semana, passeando pela literatura contemporânea brasileira e por traduções de mestres mundiais no gênero. Para se ter uma idéia da qualidade do catálogo, a estréia foi com Averrós, texto do premiado autor pernambucano José Luiz Passos, e nomes como Marcelino Freire, Miguel Sanchez Neto, João Anzanello Carrascoza, Elvira Vigna e Nuno Ramos são outros escalados pela coleção.

A origem do selo vem de uma insatisfação com o pouco interesse das editoras pelas narrativas breves. “Sempre achei um crime o que a indústria editorial fez e faz com o conto no Brasil”, comenta Carlos Henrique. Segundo ele, por ter nomes como Dalton Trevisan, Luiz Vilela, Sérgio Sant’Anna e Rubem Fonseca (para ficar nos vivos), nós deveríamos ser considerados “o País do conto”. “Em algum momento os editores passaram a achar que o romance é que deveria ser lido no Brasil, pois é mais fácil de vender, promover, e, como os enlatados estrangeiros de giro rápido eram sempre romances, forçou-se à cultura do romance”, critica.

O Formas Breves surgiu na Balada Literária, em São Paulo. Lá, Carlos Henrique recebeu a proposta de Tiago Ferro, da E-galáxia, para criar uma coleção. “Eu sugeri que fosse uma de contos, e com periodicidade programada. Foi dessa maneira que eu e o Tiago pensamos a Formas Breves, com algumas perguntas: que tal uma coleção em que qualquer pessoa com acesso à internet pudesse comprar um conto e ler em qualquer lugar? E com um preço simbólico, tipo R$ 2, o preço de um picolé? Este é o princípio: portabilidade, qualidade e preço baixo”, explica o editor.

Integrado com os principais sites de e-books disponíveis do Brasil, a coleção já alcançou sete vezes a lista de mais vendidos em ficção na Amazon. “Somos um projeto independente, de uma editora independente, sem patrocínios ou subsídios do governo, e publicamos o que queremos: o que importa é a qualidade. É claro que devemos o sucesso do projeto aos autores, que, além dos contos sensacionais, também suam a camisa, divulgando nas redes sociais, para seus contatos. Nossa ambição? Por enquanto a única ambição é manter a coleção a todo vapor. Dizem que conto não vende! Mas conto não vende porque não se publica, a cada 50 ou 100 livros de uma grande editora sai um de contos, por exemplo”, analisa o escritor, que também organiza o Festival Nacional do Conto, em Florianópolis.

Utilizar a praticidade e baixo custo da web também foi a proposta da Cesárea, editora pernambucana de e-books. Criada pelo jornalista e crítico literário Schneider Carpeggiani e pela designer Jaine Cíntra, a empresa publica a revista trimestral de mesmo nome e começou, neste ano, a publicar seus próprios e-books. O primeiro foi o livro de poesia de Adelaide Ivánova, Polaróides, que logo ganhou a companhia da reedição de Aspades, ETs etc, romance de Fernando Monteiro.

“A tecnologia permite que a gente tenha uma postura punk rock, de fazer algo sem muita grana”, explica Schneider. Trabalhar só com o formato digital permite que os custos de impressão, distribuição e até de estocagem sejam mínimos, mas é justamente por isso que ele faz questão, assim como Carlos, de manter preços baixos nos seus títulos – custam entre R$ 4 e R$ 7. “Não é uma questão de oposição com o livro impresso, mas sim uma forma de aproveitar essa praticidade, usando a oportunidade de chegar a vários lugares”, aponta.

NA CRÍTICA
Algo que ele nota é que o cenário literário ainda estranha as obras publicadas exclusivamente em formato digital. “Ainda perguntam: quando sai o impresso?”, brinca Schneider. Segundo ele, uma das dificuldades é conseguir que os críticos literários se disponham a ler e comentar e-books. Carlos Henrique atesta a dificuldade para divulgar também os trabalhos da Formas Breves. “As redes sociais são a nossa arma, usamos como guerrilha. Se as grandes editoras conseguem espaços em jornalões, nós não conseguimos, mas nossa presença nas redes sociais é forte, o que faz uma grande diferença”, comenta.

E a onda de material editorial exclusivo chegou até grandes casas editoriais. A Companhia das Letras também lançou em 2013 o selo Breve Companhia, voltado para volumes mais curtos, com textos que dialogam com eventos do momento, como os protestos de junho do ano passado. Nomes como Ferreira Gullar e Marco Nobre já fizeram textos exclusivos para a coleção – cada exemplar custa R$ 4,99.

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