ENTREVISTA

Everardo Norões fala sobre Prêmio Portugal Telecom

O autor cearense radicado em Pernambuco foi um dos vencedores do prêmio com o livro Entre moscas

Do JC Online
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Publicado em 10/12/2014 às 5:23
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O autor cearense radicado em Pernambuco foi um dos vencedores do prêmio com o livro Entre moscas - FOTO: NE10
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O escritor cearense radicado no Recife Everardo Norões prefere que não o definam como um autor premiado. Anunciado na última terça como um dos vencedores do Prêmio Portugal Telecom de Literatura de 2014, ele ressalta que a honraria é para o seu livro de contos, Entre moscas (Confraria do Vento), não necessariamente para ele. Um dos principais nomes da cena pernambucana atual, Everardo se divide entre os ofícios de escritor, poeta, tradutor e pesquisador. “Acho que a gente tem que até romper com essa coisa como de ver o escritor como um artista de cinema”, afirma.

Nascido no Crato, no interior do Ceará, o autor estudou no Recife e voltou para cá depois do exílio na Argélia, em Moçambique e na França. Nas narrativas curtas de Entre moscas, ele expõe, como o título sugere, a crueldade da nossa sociedade e da nossa vida, sempre com um olhar severo e uma linguagem cuidadosa.
“O livro vai um pouco na contracorrente da literatura atual. No conto que abre o volume, um personagem se encontra com um velho amigo e suspeita que o colega pode ter sido um torturador. Pensar que um torturador pode ser seu vizinho é cruel”, aponta. “É por isso que a Comissão da Verdade é importante: é preciso mostrar a ferida para poder curá-la”.

No discurso de recebimento do prêmio de R$ 50 mil, Everardo destacou a obra do contista cearense Moreira Campos, pouco lembrada mesmo no centenário do escritor. “Justamente por falarmos tanto em autores do ‘momento’ eu quis falar de um autor esquecido”, comenta. A honraria ainda tem outros pontos positivos para ele: deve gerar mais leituras críticas da sua obra, por exemplo.

Ao mesmo tempo, um dos receios de Everardo é justamente a expectativa gerada pela atenção repentina. “Isso pode aterrorizar o autor. Ele pode se sentir meio que obrigado a ultrapassar tudo aquilo que já fez antes”, brinca. E é por isso que o autor prefere não comentar o que anda criando. “Não tenho muita programação na escrita. Eu escrevo por gosto, sempre”, define.

Além do livro de Everardo, o romance O drible, do mineiro radicado no Rio de Janeiro Sérgio Rodrigues, foi apontado como livro do ano, levando R$ 100 mil. Observação do verão seguido de fogo, do português Gastão Cruz, levou a categoria de poesia e R$ 50 mil.

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