ENTREVISTA

Biagio Pecorelli publica seu primeiro livro de poesia

Vários ovários é lançado nesta sexta (19/12) no Espaço Pasárgada com performance

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 19/12/2014 às 4:14
Roberto Bastos/Divulgação
Vários ovários é lançado nesta sexta (19/12) no Espaço Pasárgada com performance - FOTO: Roberto Bastos/Divulgação
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O corpo é parte fundamental de tudo o que o ator, performer e poeta pernambucano Biagio Pecorelli faz. Em seus recitais, encenações e subversões ao vivo, é fácil ver o papel dessa presença física e orgânica, mas, para entender como isso se mostra na sua escrita, é preciso ler seus poemas. Conhecido no cenário local, pelo menos desde 2007, e radicado em São Paulo há três anos, ele publica agora seu primeiro livro, Vários ovários, pela Edith, editora de Marcelino Freire e Vanderley Mendonça.

É uma obra curta e sintética, mas repleta de imagens eróticas, violentas e inquietantes. Nesta sexta (19/12), Biagio faz o lançamento dela no Espaço Pasárgada, a partir das 20h, com entrada gratuita – a primeira noite de autógrafos foi no Teatro Oficina, durante a Balada Literária. A noite vai contar com uma jam poética do ator com Arthur Danda (violoncelo) e Deco Vasconcelos (programações eletrônicas).

Em Vários ovários, Biagio mostra as muitas relações do seu texto com o corpo, desde as descrições eróticas – entre a violência e a delicadeza – até as declarações de amor e reflexões sobre a poesia. Um de seus poemas avisa: “Beberás tudo o que em mim for líquido e o que não for tu liquefarás”. Outro confessa: “Me tornaste navegável”. “Eu sempre entendi que o momento da escrita é o momento do corpo presente. No instante da criação do poema, você responde muito corporalmente ao que está fazendo. Claro que depois tem um tratamento cuidadoso, uma reflexão sobre ele”, aponta o autor.

A poesia, assim, é para Biagio uma forma de registrar o corpo em momento da escrita, seus conflitos e prazeres com o gesto da criação. Na performance Trans(ins)piração, que vez no Festival Internacional de Poesia (FIP), no Recife, ele passou 38 horas dentro da Torre Malakoff escrevendo versos no sal e apagando-os em seguida. Teve que interromper a atividade por recomendação do médico e escritor Wilson Freire, que viu seu estado de saúde agravado por ter respirado muito sal. “Eu gosto dessa busca pelo limite físico”, atesta.

Biagio fez parte do Teatro Oficina, como pesquisador e ator. Depois de passar o ano lá fez o trajeto entre São Paulo e Rio de Janeiro em um ônibus sem luz e escreveu o texto que abre o livro, Notas de viagem, sobre a viagem ser “uma volta sem ida”. José Celso Martinez viu ali uma viagem não só física, mas mental. “Pela quantidade de experiências corporais que tinha tido em pouco tempo, eu realmente estava muito entorpecido quando o criei”, conta. Os poemas não são destinados a ninguém, mas, como ele mesmo define, estão repletos de pessoas e situações ocultas.

Vários ovários é uma antiga cobrança de amigos e admiradores do ator, que o viam compor uma obra no teatro e na performance, mas cobravam um registro poético impresso. O livro, com textos criados entre 2008 e 2014, teve muitas versões e foi diminuindo com o tempo, perdendo poemas. Em certo momento, teve 120 páginas de Word, mas terminou com as 50 da bonita e pequena edição da Edith, como capa ilustrada e feita pela paraibana Luyse Costa. “Os textos foram se reduzindo até chegar ao sumo, foi um amadurecimento natural do volume”, explica. “Eu deixei os poemas de minha escrita em fluxo, os mais passionais e até violentos.”

A sua obra tem uma origem vinculada à oralidade – ele participou, por exemplo, de recitais com o Nós Pós e com o Urros Masculinos. “Acho que minha poesia tem uma relação forte com essas pessoas. Ver um Miró da Muribeca recitando é uma coisa incrível, especialmente pela experiência corporal dele. Existem pessoas anteriores ainda, como Jomard Muniz de Britto, que são fundamentais também”, ressalta.

Para 2015, Biagio prepara a montagem de uma peça, que será a estreia do seu novo coletivo, A Motosserra Perfumada, formado com ex-companheiros de espetáculos e performances. Em maio vão apresentar em São Paulo Aquilo que me arrancaram foi a única coisa que me restou, sobre um homem que vai bater na porta de ex-amantes, homens com quem ficou e ex-namoradas para pegar de voltar pedaços do seu corpo que ficaram com eles. A montagem recebeu verba do Programa de Ação Cultural (ProAC) e ainda conta com os músicos Feiticeiro Julião e Jonnata Doll.

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