MISTÉRIO

Almanaque reúne lendas e assombrações de Pernambuco

Fruto de dois anos de pesquisa de Rúbia Lóssio e Roberto Beltrão, o livro sai agora pela Massangana

Do JC Online
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Publicado em 31/12/2014 às 5:13
Foto: Fábio Rafael/Divulgação
Fruto de dois anos de pesquisa de Rúbia Lóssio e Roberto Beltrão, o livro sai agora pela Massangana - FOTO: Foto: Fábio Rafael/Divulgação
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Ao longo de dois anos, o escritor Roberto Beltrão e a pesquisadora e folclorista Rúbia Lóssio investigaram várias cidades de Pernambuco para coletar histórias e lendas. De Petrolina ao Recife, reuniram histórias bizarras, repletas de fatos sobrenaturais e momentos de terror. O fruto desse trabalho pode ser visto no Almanaque pernambucano dos causos, mal-assombros e lorotas, feito pelos dois autores e publicado agora em dezembro pela editora Massangana.

O volume conta com 204 páginas e lendas divididas por meses – desde a cabra que se alimenta de crianças até a perna cabeluda e a Cumadre Fulozinha. Segundo Roberto, a ideia de estender para o restante de Pernambuco a pesquisa sobre assombrações que se fazia no Recife surgiu em 2010. “Queríamos fazer um documentário com as pessoas narrando essas histórias, mas não foi possível, então fomos fazer o livro”, conta Roberto.

Rúbia foi a várias cidades do Estado para coletar novas lendas e histórias, com ajuda de seus alunos, e o material se juntou à pesquisa em livros feita por Roberto. “Não fomos em todas as cidades, mas passamos por locais que sabíamos que contavam com muitas lendas, como Triunfo, Petrolina, Surubim”, aponta o escritor. A sua preferida dessas novas descobertas é a história da pedra que engole gente, de Rio Formoso, no Litoral Sul do Estado. “Em um caminho, tem uma pedra que realmente parece um rosto humano, e os moradores começaram a criar essa lenda de que ela engole pessoas, que tem um tesouro. Eu acho fantástica”, entusiasma-se.

O volume tem uma linguagem acessível e divertida, funcionando como um desses almanaques de antigamente, cheios de curiosidades e com as ilustrações assustadoras e belas de Fábio Rafael. “Há toda uma importância na catalogação, mas queríamos fazer as história circularem, voltarem a fazer parte da cultura das pessoas. Por isso fizemos narrativas: o que é legal nas lendas é poder contar as histórias”, explica Roberto. Além de preservar esse conhecimento popular, a proposta do seu site, O Recife Assombrado, sempre foi levar os conhecimentos para outras plataformas, como a literatura, o cinema e as HQs.

“O imaginário popular diz muito sobre a nossa origem cultura, sobre a relação das sociedade com a natureza, por exemplo. Em Pernambuco, como Fátima Quintas diz, temos um trânsito próximo aos mortos, que eram enterrados ao lado da casa-grande”, analisa o escritor. Além disso, lembra que não só os portugueses eram muito supersticiosos: as culturas dos africanos e dos índios dialogavam bastante com o sobrenatural.

Além do Almanaque pernambucano dos causos..., Roberto adianta que outros trabalhos de O Recife Assombrado vem por aí. Ainda em janeiro, deve sair uma nova HQ, dando sequência ao volume Histórias em Quadrinhos d´O Recife Assombrado, que teve a tiragem esgotada. Com roteiro de André Balaio e traço de Téo Pinheiro, A história da perna cabulada será lançada pela Bagaço, com pouco mais de 30 páginas, e se passa nos tempos atuais. Outro projeto deste ano é renovar o site O Recife Assombrado, com verba do Funcultura. “Gilberto Freyre dizia que o Recife é uma cidade inglesa perdida nos trópicos. E nós somos meio ambiciosos: queremos fazer o gótico pernambucano”, resume Roberto.

Algumas lendas:

Mulher da Sombrinha - Lenda de Catende, na Zona da Mata, é avistada por trabalhadores à noite, que logo ficam fascinados por ela e aceitam o convite para passear pelo cemitério. Apesar de temida, também virou um boneco gigante no Carnaval da cidade.
 
Perna Cabeluda – Boato surgido nos anos 1970 no Recife, a perna pulava só e dava chutes em quem encontrasse, especialmente se visse moças com vestidos curtos. Teve ampla repercussão em rádios e jornais na época.
 
Cabra que janta crianças – Com aparência comum, a Cabra-Cabriola lança fogo pelos olhos, narinas e boca e se alimenta de crianças – quantos mais desobedientes, maior o perigo.
 
Mulher de algodão – Uma assombração que pairava em banheiros de colégios. A origem mais famosa é de que se trata da vingança de uma mulher que cometeu suicídio depois de saber que o filho morreu trancado em um banheiro.
 
Pedra que engole gente – A Estrada da Siqueira, em Rio Formoso, abriga uma pedra negra de três metros com um rosto humano. Para atrair homens, a pedra vira uma mulher nua e engole os curiosos.
 
Cumadre Fulozinha – Vigilante implacável contra maus-tratos com animais, a Cumadre Fulozinha também tem o hábito de fazer tranças nas crinas de cavalos. Pode até ajudar pessoas perdidas, caso peçam auxílio humildemente.
 
Mula-sem-cabeça – Segundo as lendas populares, homens podem virar lobisomens. Para as mulheres, a maldição é outra: se tornar um cavalo com fogo no lugar da cabeça e com cascos afiados como navalhas. Vira mula-sem-cabeça aquela que foi amante de um padre.

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