Literatura

Exposição mostra processo criativo de Hilda Hilst

Proposta é que a própria autora se apresente, numa mostra em primeira pessoa

Adriana Guarda
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Adriana Guarda
Publicado em 29/03/2015 às 8:10
Heudes Regis/JC Imagem
FOTO: Heudes Regis/JC Imagem
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A sensação é de que a própria Hilda Hilst (1930-2004) vem nos receber à porta. A velha Olivetti Lettera na entrada, a voz da escritora num vídeo e rastros do seu processo criativo (manuscritos, desenhos e diários) são fragmentos de uma exposição em primeira pessoa. Em cartaz até 21 de abril (data em que ela completaria 85 anos) no Itaú Cultural, em São Paulo, a Ocupação Hilda Hilst traz o espectador para dentro do universo hilstiano. 


“Nossa intenção foi que a própria Hilda apresentasse suas loucuras e pensamentos, sem necessidade de intermediários. Para que ninguém precisasse falar por ela, reunimos na exposição mais de 210 textos originais (alguns inéditos), além de fotos, áudios e vídeos”, explica o gerente do Núcleo de Audiovisual e Literatura do Itaú Cultural, Claudiney Ferreira.

A exposição também tentou fugir do modismo da interatividade que “aperta botão”. A interação com o espectador acontece por meio da leitura. Os 40 títulos escritos por Hilda estão disponíveis para ler e rabiscar (como ela costumava fazer). Ao fundo da Ocupação, um painel de madeira permite que o espectador manipule 20 frases retiradas de 11 livros da autora. Os trechos extraídos trazem temas obsessivos na obra de HH: Deus, morte, loucura e existencialismo. “Como é essa coisa de a gente se pensar?”, “E por que será que todas as coisas ligadas à santidade são necessariamente ligadas ao sofrimento?”, “Como é possível ir até o fim da própria vida sem perguntar ao menos: por que é que estou vivo?” são algumas das questões. 

Para montar a exposição, o Itaú Cultural recorreu ao acervo do Centro de Documentação Alexandre Eulálio, da Universidade Estadual de Campinas, e ao Instituto Hilda Hilst (IHH), que também participou da curadoria. “O espaço tenta reproduzir a Casa do Sol (residência de HH em Campinas), com suas paredes cor de rosa e iluminação intimista. As fotos foram trazidas da residência. São amigos, intelectuais e escritores admirados por Hilda. Itens pouco conhecidos da produção de HH também estão presentes, como as aquarelas. Uma peça curiosa é um mapa do humor, com seus altos e baixos ao longo de anos”, diz o presidente do IHH, Daniel Fuentes. 

Nos manuscritos estão minúcias do processo criativo hilstiano nos livros O caderno rosa de Lori Lamby, A obscena senhora D., Com meus olhos de cão, Kadosh e Júbilo, memória, noviciado da paixão. As folhas amareladas trazem cartas a editores, rabiscos dos títulos dos livros, pesquisa de temas, preparação para entrevistas e outra obsessão de HH: listas (de nomes dos cachorros, amigos, dívidas, livros, escritores e sonhos). 

 

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Ocupação Hilda Hilst, no Itaú Cultural, em São Paulo - Heudes Regis/JC Imagem
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Máquina Olivetti Lettera usada por Hilda - Heudes Regis/JC Imagem
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Carta-desenho de Hilda Hilst para Mora Fuentes - Heudes Regis/JC Imagem
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Espaço para leitura dos livros da escritora - Heudes Regis/JC Imagem
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Reprodução da parede da sala da Casa do Sol - Heudes Regis/JC Imagem
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Mostra tenta reproduzir a Casa do Sol, residência de Hilda Hilst, em Campinas - Heudes Regis/JC Imagem
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Exibição de vídeo na Ocupação Hilda Hilst, no Itaú Cultural, em São Paulo - Heudes Regis/JC Imagem
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Painel de madeira com perguntas extraídas de livros de Hilda Hilst - Heudes Regis/JC Imagem

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