HOMENAGEM

A literatura celebra os 100 anos da poeta Celina de Holanda

A escritora pernambucana é considerada uma das principais autoras de Pernambuco e teve uma grande atuação literária

Diogo Guedes
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Publicado em 18/06/2015 às 4:49
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A escritora pernambucana é considerada uma das principais autoras de Pernambuco e teve uma grande atuação literária - FOTO: Reprodução
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“Os amigos chegam,/ venham de onde vierem, ponho a mesa.” O final do poema Os Amigos, da escritora pernambucana Celina de Holanda, é uma das melhores amostras da generosidade da autora, conhecida tanto pela sua poética límpida e doce quanto por sua abertura para receber e aconselhar novos autores. Nesta sexta (19/6), família, amigos e admiradores relembram os 100 anos de nascimento da poeta com uma missa na Igreja da Jaqueira, com início às 20h.

Celina nasceu no Cabo de Santo Agostinho, onde a família tinha um engenho. Jornalista e poeta, ela publicou textos no Jornal do Commercio e Diario de Pernambuco, mas só editou o primeiro livro, O Espelho da Rosa, quando já tinha 55 anos. Vieram outros seis títulos: A Mão Extrema (1976), Sobre Esta Cidade de Rios (1979), Roda d'Água (1981), As Viagens (1984); Pantorra, o Engenho (1990) e Viagens Gerais (1995), a última obra antes da sua morte em 1999, em decorrência de um câncer.

Foi descrita pelo amigo e poeta Alberto da Cunha Melo como uma mulher tomada por um “cristianismo guerreiro”. Entre seus temas, estão o destino humano na terra, as injustiças e o cotidiano apreendido em seu lirismo. Além de escrever, ela integrou as Edições Pirata, junto com Jaci Bezerra e Alberto, parte fundamental da movimentação da Geração 65.

“A casa dela era o endereço da sede da editora. Sempre tinha algum jovem mostrando seu trabalho lá, e minha mãe os recebia com o maior carinho, o maior amor”, conta a filha Ana Regina Cavalcanti. Outras amizades suas eram com autores como Mauro Mota – um dos seus mestres –, Maximiano e Renato Carneiro Campos.

“Celina sempre foi profundamente fraterna com os amigos e sempre significou muito para os poetas de Pernambuco. Quando eles começavam a escrever, traziam os versos para ela ler. Ela comentava sempre com rigor, um rigor amoroso”, destaca a sobrinha e produtora Andréa Mota. “Tanto na sua poesia como no cotidiano ela sempre se expressou com clareza e rigor.”

Segundo a escritora e pesquisadora Luzilá Gonçalves, esse era o maior traço de Celina – sua casa estava constantemente aberta a outros autores e amigos. “Enquanto ela era viva, a poesia dela não recebeu a atenção que devia. Apesar de termos outras grandes poetas mulheres, ela, junto com Deborah Brennand, é uma das duas maiores de Pernambuco”, define.

“Era uma mulher que perseguia a palavra. Escrevia todo dia, em qualquer lugar, em qualquer pedaço de papel. E depois reescrevia e reescrevia”, aponta Andréa. Aos 18 anos, ela ajudava a tia Cecé a revisar seus textos. Um dia, confessou que entendia mais o que Alberto da Cunha Melo escrevia do que o que ela fazia. Ouviu a resposta que nunca saiu da sua mente: “Minha sobrinha, para mim, o difícil é ser simples”.

Para celebrar o centenário de Celina, a família da poeta ainda tem dois projetos: lutar pela criação de uma estátua da autora com o poema Os Amigos na pracinha da Avenida Beira-Rio, pois Celina morou na região; e reeditar o último livro dela, Viagens Gerais, publicado pela Fundarpe.

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