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Contrastes Silmultâneos apresenta uma panorâmica da fotografia de Walter Carvalho

Walter Carvalho é categórico ? e por vezes metafórico ? ao falar sobre a sua arte, aquela que não nasce da câmara escura, mas do brilho dos olhos

Karol Pacheco
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Karol Pacheco
Publicado em 13/09/2015 às 12:45
Walter Carvalho/Divulgação
FOTO: Walter Carvalho/Divulgação
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Se é verdade que “a câmera cinematográfica revelou novos mundos, até então escondidos de nós; a alma dos objetos, o ritmo das multidões, a linguagem secreta das coisas estúpidas”, como bem disse o crítico húngaro Béla Balázs, lá pelas tantas dos anos 1950, há quatro décadas o fotógrafo Walter Carvalho empunha o seu equipamento – responsável pelas luzes, cores, enquadramento e outros pitacos em filmes como O Céu de Suely, Carandiru e Central do Brasil – com sensível destreza.

No seu livro Contrastes Simultâneos (Cosac Naif, 208 páginas, R$ 129) é a estática – e, certeiras vezes, a cinética – que revela as almas, as linguagens e os ritmos dos mundos, descortinando assim um panorama de 40 anos de olhares ímpares, não-somente-fílmicos, do autor. “Esse livro não tem, objetivamente, nada a ver com o cinema. As únicas relações que têm do cinema, é que o autor é cineasta; que existe alguns cinemas e ruínas de cinema no livro; e algumas dessas fotos foram feitas em viagens pelo Brasil e fora, onde aproveitei o trabalho de cineasta e fotografei algumas coisas”,revela Walter, em entrevista por telefone ao JC.

Walter Carvalho é categórico – e por vezes metafórico – ao falar sobre a sua arte, aquela que não nasce da câmara escura, mas do brilho dos olhos. “Você não encontra a foto; a foto encontra você”, pontua o fotógrafo e cineasta, pois “uma fração de segundo – antes e depois – é exatamente o mesmo que nada. Naquele instante, não acontece. E aquele momento não te encontra.”

Encontrado e capturado o momento, é chegada a hora de outras retinas abraçarem o fotógrafo. Contrastes Simultâneos, é, inclusive, uma proposta. “Pulo das páginas em teus braços”, repetiu o artista, a frase contida no livro O Prazer do Poema: Uma Antologia Pessoal, do amigo e poeta Ferreira Gullar. “Quando o poeta diz isso, a minha vontade, o meu desejo, é que as minhas fotos pulem das páginas e caiam nos braços de alguém”, enfatiza ele. Esse alguém – ou observador – foi classificado pelo escritor argentino Julio Cortázar como “leitor-cúmplice”, aquele que se comporta como “um companheiro de viagens”.

Walter Carvalho/Divulgação
Vendedor de óculos, Alagoa Grande, Paraíba, 1986. - Walter Carvalho/Divulgação
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Manhattan, Nova York, 1997. - Walter Carvalho/Divulgação
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Vendedor de Jornal no Carnaval, Rio de Janeiro, 1977. - Walter Carvalho/Divulgação
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Sertão, Raso da Catarina, Bahia, 2013. - Walter Carvalho/Divulgação
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Túnel Rebouças, Rio de Janeiro, 1996. - Walter Carvalho/Divulgação
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Drive-in de Cabo Frio transformado em déposito de construção, estado do Rio de Janeiro, 1996. - Walter Carvalho/Divulgação
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Vila Leopoldina, São Paulo, 2008. - Walter Carvalho/Divulgação
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Metrô, Paris, 1984. - Walter Carvalho/Divulgação

No fotolivro em questão, os contrastes também se manifestam por meio das sucessivas afinidades – um molde com formas humanas para tiro ao alvo; um adolescente encapuzado numa determinada favela carioca; uma cabeça de touro vendada na Bahia; um mascarado no Carnaval do Rio de Janeiro; um matadouro na Zona da Mata pernambucana; o um mapa de corte do boi na Zona Sul recifense. “Se abatem animais e abatem homens. Toda a relação das armas que matam as pessoas e das armas que matam os bichos por razões diferentes e necessidades contrárias, mas que têm as analogias”, relata.

Ao leitor-cúmplice, dispensa-se as legendas. “Eu tenho duas questões com a legenda na fotografia. Nem uso título, nem uso legenda; porque se eu coloco a legenda, defino o que já estou vendo na imagem; ou, se coloco uma abstração, uma metáfora, estou tirando a leitura daquela foto para uma determinada coisa que vai falar de um ponto de vista que poderia (ou não) estar na pessoa. Conto com a subjetividade do outro”, sustenta Walter, que também abdicou da paginação em Contrastes Simultâneos. Ao final do livro, as informações à curiosidade – e o jogo pode continuar, até mesmo de trás para frente ou aleatoriamente, feito Cortázar, n’O Jogo da Amarelinha.

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