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Autoras pernambucanas vencem Prêmio SP de Literatura e marcam ano de premiações para mulheres

Micheliny Verunschk e Débora Ferraz foram agraciadas, cada uma, com R$ 100 mil pela estreia nos romances

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 02/12/2015 às 4:48
Marcelo Nakano/Divulgação
Micheliny Verunschk e Débora Ferraz foram agraciadas, cada uma, com R$ 100 mil pela estreia nos romances - FOTO: Marcelo Nakano/Divulgação
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Em 2015, quase todas as premiações das categorias de ficção (conto e romance) dos prêmios literários brasileiros foram vencidas por mulheres. E, se o ano tem mostrado um reconhecimento inédito da literatura feita por escritoras, o anúncio na segunda (30/11) à noite do resultado do Prêmio São Paulo de Literatura reitera isso, com autoras – nascidas aqui – como vencedoras. É só olhar o resultado de outras honrarias, como o Jabuti (veja ao lado), para notar que, além de uma grande safra de autoras em 2014 e 2015, há – finalmente – uma maior atenção às obras escritas por mulheres.

No Prêmio SP, voltado exclusivamente para romances, as pernambucanas foram escolhidas por suas estreias no gênero: Micheliny Verunschk venceu com Nossa Teresa, Vida e Morte de uma Santa Suicida (Patuá), na categoria para autores com mais de 40 anos; e Débora Ferraz ficou com a categoria para escritores com menos de 40 anos com o seu Enquanto Deus Não Está Olhando (Record). O ganhador do prêmio principal, de melhor romance de 2014, foi o potiguar Estevão Azevedo, autor de Tempo de Espalhar Pedras (Cosac Naify), que ganhará R$ 200 mil pela honraria. As duas autoras levam, cada uma, R$ 100 mil.

Uma das principais poetas pernambucana, Micheliny já havia vencido sido finalista do antigo Prêmio Portugal Telecom com o livro de poemas Geografia Íntima do Deserto. Em Nossa Teresa, ela criou um belo romance sobre uma menina considerada santa por uma cidade, apesar de ter se matado. Esse aparente paradoxo é o tema do enredo, contado por um narrador irônico e manipulador. “Para Nossa Teresa, eu fiz uma pesquisa histórica e sociológica grande, que virou tema do meu doutorado depois, sobre os santos populares”, conta a autora, que teve o livro rejeitado por três editoras antes de encontrar espaço na pequena e competente Patuá.

Mais do que a satisfação pessoal, ela valoriza na honraria a dimensão coletiva e política. “Há um mês atrás, me pediram para citar romancistas mulheres de Pernambuco e só me veio o nome de Débora na minha cabeça, além do meu. Por isso, acho importante dar visibilidade à literatura escrita por mulheres, não só no Brasil, mas em Pernambuco”, aponta. “Acho que prêmios assim são resultado do fato de escritoras estarem em um momento de crítica ao estado das coisas na literatura. Havia antes um silenciamento, era importante que disséssemos que estamos aqui e estamos produzindo.”

Débora, por sua vez, só havia publicado um livro na sua adolescência antes de ganhar o Prêmio Sesc de Literatura, que escolheu o manuscrito de Enquanto Deus Não Está Olhando para ser publicado pela Record. Na obra, uma jovem que busca ser uma artista plástica vive a vertigem do desaparecimento do seu pai, que fugiu de uma clínica em que estava internado para tratar do seu alcoolismo. Em uma prosa densa, ela mostra o conflito da personagem com a perda, com o amadurecimento e com o passado. “Tentei tecer a linguagem de uma maneira que ela fosse aparentemente simples, não há nenhuma palavra em que você demora ou empaca. Quis dar uma fluidez determinada pelo texto, espero que me faça compreender”, comentou a autora na época do lançamento da obra.

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