TERROR

Artista plástico Bruno Vilela lança seu primeiro romance

No thriller, o artista parte da experiência pessoal em uma residência em Lisboa para criar uma narrativa de mistério e horror

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 12/12/2015 às 5:20
Bruno Vilela/Divulgação
No thriller, o artista parte da experiência pessoal em uma residência em Lisboa para criar uma narrativa de mistério e horror - FOTO: Bruno Vilela/Divulgação
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As histórias e os filmes preferidos de horror do artista plástico Bruno Vilela nunca precisaram de monstros, sangue ou eventos extraordinários. “O monstro”, ele prefere acreditar, “é a cabeça dos personagens”. Fascinado por esse universo o artista se viu, após 70 dias em uma residência em Lisboa, em Portugal, quando viveu no sótão de um palácio, com uma narrativa na sua mente. Mais do que as imagens que habitavam seus desenhos e fotografias – que ele mesmo descreve como cenas congeladas de narrativas aterrorizantes –, estava ali a raiz de uma história, a primeira do autor.

Com 22 anos de estudo nas artes plásticas e 17 de carreira, Bruno está ansioso agora como esteve na sua primeira estreia nas artes visuais. Domingo (13/12), na Livraria Cultura do Paço Alfândega, ele lança o seu primeiro livro, A Sala Verde (Edição do Autor), a partir das 16h. A obra, com 166 páginas, incluindo pinturas e montagens feitas pelo artista, mostra um thriller em que a viagem de um ilustrador, Joel, por Portugal, obcecado pelo passado familiar, vai se revelando um passeio pelo passado e pelo terror.

A obra começou a surgir durante a residência de Bruno no Palácio do Marquês de Pombal, período em que ele viajou para 13 pontos do país – os mesmos locais apontados em um mapa deixado pelo avô do protagonista, Pedro. A partir dessas experiências, ele fez inicialmente uma série de 13 pinturas como resultado. “Eu ficava hospedado no sótão de um palácio de mais de 400 anos. Quando precisava sair à noite, todas as luzes estavam apagadas – as pessoas esqueciam que tinha um pintor brasileiro no sótão. Eu andava pelo cenário escuro para pegar as chaves e depois sair de madrugada pelas ruas seculares e escuras de Lisboa. Só isso foi um pouco da vivência de um filme de terror”, explica o escritor.

Já no Brasil, ele recebeu as fotos da sala onde ia expor os trabalhos no palácio – a sala verde do título. “Ela tinha uma pintura em que as pessoas apontavam para um cemitério e para um pintura arrancada nos azulejos da parede da própria sala. Quando vi isso, veio a ideia inicial do livro. Pensei que daria um bom conto, mas logo virou esse grande monstro”, comenta Bruno. Como parte dessa série de coincidências – muitas delas usadas como parte do suspense nada casual do livro – ainda notou que o verde turquesa da sala era parecidíssimo com o que tinha adotado nas suas telas, uma cor que antes era estranha a sua obra.

O número 13 apareceu outras vezes no processo de criação do livro. Bruno notou, ao olhar os pedaços de azulejos que recolheu nas ruínas durante o período em Portugal, que tinha 13 fragmentos. Com o terror forte na sua mente, terminou escrevendo uma narrativa em 13 capítulos em cerca de três meses. “Uns 70% do livro é verdade. Meu avô se chama Pedro, Joel é uma espécie de alter-ego meu. É uma mistura de histórias que vivi nos últimos anos com o passado da minha família”, ressalta.

A história familiar – que é o que atrai o personagem Joel para sua viagem e para os mistérios que vai encontrando – é importante porque o horror que interessa a Bruno vem de sonhos e da sua ancestralidade. “O terror é real e sincero, na minha opinião, quando você consegue transformar as cenas que acontecem em sonhos ou traz para eles os sentimentos e imagens do seu inconsciente”, comenta o autor, que revela ainda que o livro deve virar roteiro em breve.

O mergulho ainda mais intenso nesse universo veio com um curso com o crítico de cinema Carlos Primati, promovido pelo Cineclube Toca o Terror. Ali, notou que as mitologias – as familiares, as do candomblé e as de outras religiões – costumam ser a base para essas histórias. “Quando você vê um filme ou lê um livro de terror, você entra em contato com um sentimento de morte, mas tem certeza que, quando aquilo acabar, vai sair vivo. É como uma montanha russa. O terror é forte porque nos coloca no limite entre a vida e a morte sem nos tirar a certeza de que estaremos vivos”, analisa. A Sala Verde não deixa de ser um modo de conferir até que limite o monstro da consciência pode levar um homem.

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