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Os destaques da literatura em 2015 e o que vem por aí em 2016

Confira alguns dos momentos importantes que marcaram a escrita nos últimos 12 meses

Do JC Online
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Publicado em 04/01/2016 às 4:42
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Confira alguns dos momentos importantes que marcaram a escrita nos últimos 12 meses - FOTO: Reprodução
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Na literatura, o ano de 2015 foi mais do que suas várias crises e perdas, visíveis em casos como o incêndio no Museu da Língua Portuguesa e o fechamento da Cosac Naify. Entre obras para colorir, o reconhecimento de Clarice Lispector fora do Brasil e a liberação das biografias não autorizadas, é possível afirmar que o mundo literário se mostrou, para o bem e para o mal, inquieto, com bons debates e algumas novidades importantes.

No final do ano, com o anúncio da maioria das premiações literárias, foi possível ver que talvez tenha sido dado um dos primeiros passos para uma maior presença de mulheres na literatura (confira retrospectiva abaixo). A luta é antiga e ganhou maiores debates e discussões nos últimos anos, mas o destaque a nomes como Maria Valéria Rezende, Ana Martins Marques, Carol Rodrigues e as pernambucanas Micheliny Verunschk e Débora Ferraz é no mínimo simbólico – além de justíssimo. O Prêmio Nobel de Literatura também elegeu uma mulher, a bielorrussa Svetlana Alexievich, conhecida por seu trabalho de não-ficção.

Neste ano, a expectativa é que o debate – e atenção – para a literatura de mulheres continue. A Festa Literária Internacional de Parati (Flip) já anunciou que homenageará a poeta carioca Ana Cristina César (e essa é apenas a segunda vez que uma mulher ganha o destaque no mais prestigiado evento literário brasileiro). Micheliny e Débora, por exemplo, ainda tem novas obras previstas para o ano. Além de concluir o romance O Amor, Esse Obstáculo, Micheliny pretende editar sua tese sobre os santos populares e vai lançar, pela Martelo Editorial, um volume com sua poesia reunida. Débora tem contrato com a Record para lançar um romance, ainda sem título definido, sobre uma arquivista que começa a tatuar seu corpo inteiro.

Na literatura pernambucana, depois de lançarem obras em 2015, Ronaldo Correia de Brito e Raimundo Carrero devem se voltar para novos romances. Sidney Rocha tem dois livros prontos: o romance que continua a trilogia Gerônimo e uma obra de contos, Guerra de Ninguém. O poeta Samarone Lima deve lançar o seu livro de versos A Invenção do Deserto. Além disso, estão previstos para o primeiro semestre a publicação dos livros vencedores dos prêmios Pernambuco e Cepe. Além disso, Mariposa Cartonera, que produz livros artesanais, vai editar, ao longo do ano, pelo menos cinco títulos, incluindo uma narrativa do pernambucano José Luiz Passos.

Para o mercado editorial, o período foi de pouco avanço. Segundo a pesquisa Painel das Vendas de Livros no Brasil, o volume de obras vendidas diminuiu, ainda que o faturamento das editoras tenha ficado estável, por conta de um aumento do preço médio dos livros. Contando a inflação, houve uma queda no faturamento de editores e livrarias. E, apesar de várias editoras terem falado em produzir menos livros, houve um pequeno crescimento no pedido de ISBNs – registro oficial de livros – ao logo do ano, chegando a quase 103 mil títulos publicados. É esperar para ver o que a literatura reserva para este ano que começa.

Veja os fatos marcantes de 2015 na literatura:

Premiações
Em 2015, a escrita feita por mulheres esteve em destaque nos prêmios literários. Não só as pernambucanas Micheliny Verunschk e Débora Ferraz venceram as duas categorias de estreantes no Prêmio São Paulo de Literatura com os romances Nossa Teresa – Vida e Morte de uma Santa Suicida e Enquanto Deus Não Está Olhando. No Jabuti, no Oceanos e em outras honrarias, nomes como Maria Valéria Rezende, Carol Rodrigues, Elvira Vigna, Ana Miranda, Tércia Montenegro e Ana Martins Marques também foram destacadas.
 
Lançamentos
A prosa pernambucana teve lançamentos de alguns dos seus principais escritores. Raimundo Carrero lançou o romance O Senhor Agora Vai Mudar de Corpo, já premiado com o APCA, enquanto Sidney Rocha começou a trilogia Gerônimo com o volume Jeroni Fernanflor. No campo dos contos, Ronaldo Correia de Brito reuniu 12 narrativas em O Amor das Sombras. Na poesia, nomes como Renata Pimentel, Cristiano Ramos e João Paulo Parisio tiveram obras publicadas.
 
Cortes e festivais
Criado na gestão Eduardo Campos, o Festival Internacional de Poesia foi cancelado pelo Governo do Estado em 2015. Além disso, o Festival A Letra e a Voz, mantido pela Prefeitura, teve uma edição reduzida, apenas com nome locais. A Fliporto, a Bienal do Livro de Pernambuco, e a Mostra Sesc de Literatura tiveram edições com orçamento menor. Entre as novidades, está o surgimento da Feira Nordestina do Livro (Fenelivro), criada pela Cepe Editora.
 
Modas literárias
Se 2014 foi o ano da literatura erótica na lista dos mais vendidos, 2015 teve outros donos, além dos já conhecidos nomes de autoajuda: os livros para colorir, que chegaram a corresponder a 17% das vendas do mercado em agosto e depois entraram em declínio; e as obras criadas por celebridades da web, especialmente por vloggers como Kéfera. Segundo a pesquisa Painel das Vendas de Livros no Brasil, o volume de obras vendidas no País caiu 3,7%, enquanto o preço médio das obras cresceu 3,8%.
 
Vitórias e perdas
Para as editoras, o ano teve uma conquista importante a partir de uma decisão do STF: as biografias não autorizadas não precisam mais de permissão prévia para serem publicadas. Nas notas tristes, a Cosac Naify – referência por ter um catálogo de qualidade com projetos gráficos ousados – anunciou o fechamento das suas portas. Já no fim do ano, em dezembro, o Brasil assistiu ao incêndio que destruiu o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
 
Destaques internacionais
O Nobel da Literatura de 2015 ficou com a jornalista e escritora bielorrussa Svetlana Alexievich, autora de relatos baseados em pesquisas reais. Comercialmente, a grande surpresa do ano foi o lançamento de Vá, Coloque um Vigia, romance de Harper Lee escrito antes do clássico O Sol É para Todos, que bateu recordes e se tornou a obra mais vendida em um só dia. Nas polêmicas, reinou o livro Submissão, do francês Michel Houellebecq, que chegou às livrarias no dia do atentado ao jornal francês Charlie Hebdo e aborda com ironia a tensão religiosa na França. Também foi o ano em que Clarice Lispector teve um volume com todos os seus contos lançados nos Estados Unidos – o livro foi eleito um dos melhores do ano em várias listas e ganhou a capa do suplemento dominical do New York Times.
 
Mortes
Em um mesmo dia, o mundo literário se despediu do escritor uruguaio Eduardo Galeano e do Nobel alemão Gunter Grass. Outro Nobel da Literatura, o poeta sueco Tomas Tranströmer, também morreu, assim como o escritor chileno Pedro Lemebel. A literatura pernambucana também perdeu a poeta Deborah Brennand, expoente da Geração 65, e o escritor Gilvan Lemos. Além deste último, a Academia Pernambucana ainda perdeu outros sete integrantes.

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