CRÍTICA

Maurício de Almeida faz narrativa sobre a figura paterna em A Instrução da Noite

O novo romance do Vencedor do Prêmio Sesc mostra uma narrativa curta e densa

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 08/03/2016 às 7:48
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O novo romance do Vencedor do Prêmio Sesc mostra uma narrativa curta e densa - FOTO: Divulgação
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O sábado que centra a narrativa do livro A Instrução da Noite (Rocco), do escritor paulista Maurício de Almeida, é “em tudo diverso devido a alguma coisa fora do lugar, violentamente fora do lugar”. O narrador da história, um jovem, vê o pai voltar para a sua casa depois de anos ausente sem nenhuma explicação. Mais do que uma surpresa, a figura paterna é uma intromissão ousada, uma assombração de ares densos e motivos misteriosos.

Ao longo da curta narrativa, o jovem vai se dirigindo a sua irmã, Teresa, falando sobre a ausência e a presença indesejada e repentina do pai. O tempo, afirma o romance, é hiperbólico no abandono: o pai partiu, teve outro filho e família, e reaparece como se nada tivesse sido alterado. Essa simples questão põe o protagonista em desequilíbrio. Ele, agora o homem da casa, vê a mãe servir café depois do almoço para o antigo companheiro e, principalmente, se incomoda com a falsa naturalidade de todos os gestos – inclusive o de ser chamado de “filho” – daquele pai que se instala “por toda a sala” e não se desculpa por nada.

Vencedor do Prêmio Sesc com o seu primeiro livro, Beijando Dentes, Maurício cria uma narrativa de prosa densa, com um ritmo que transmite a calma e o desespero da sua figura central. Como várias narrativas icônicas recentes, A Instrução da Noite é sobre encontrar a sombra do pai – não para cometer o parricídio, mas talvez para se encontrar com o peso de assumir o posto, viver uma culpa que não é sua. É um livro sobre ficar: não há nada mais assustador do que precisar estar imóvel enquanto todos podem se deslocar.

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