ENTREVISTA

Carol Bensimon fala sobre mulheres na literatura e seu próximo livro

A autora de Todos Nós Adorávamos Caubóis é uma das convidadas do A Letra e a Voz

JC Online
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Publicado em 25/08/2016 às 5:57
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A autora de Todos Nós Adorávamos Caubóis é uma das convidadas do A Letra e a Voz - FOTO: Divulgação
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A gaúcha Carol Bensimon é uma das convidadas do A Letra e a Voz nesta quinta (25), às 19h, na Av. Rio Branco, com Silvana Menezes e Mariane Bigio. Nesta entrevista, ela fala sobre a produção de literatura e as mulheres e seu próximo livro, que se passará no norte da Califórnia.

JORNAL DO COMMERCIO - Carol, o festival de quel você participa hoje tem neste ano a temática da letra e da voz das mulheres. O espaço e a leitura da produção de autoras é um debate que te interessa? Estamos mais atentos à questão, estamos começando a trabalhar um pouco a lacuna no mercado editorial, na escrita e na crítica?
CAROL BENSIMON –
Com certeza estamos mais atentos. É interessante pensarmos que as mulheres são a maioria do público leitor (digo de forma geral mesmo, não o público leitor específico de escritoras mulheres). É fácil perceber isso. As mulheres também costumam ser maioria em eventos culturais. Então me parece natural – e justo – que comece a haver uma igualdade na produção dessa arte.
 
JC – O tema da sua mesa questiona de quem é a escrita. Existe uma literatura feminina ou o termo traz, para você, mais problemas do que provocações?
CAROL –
Não acredito que exista uma “literatura feminina”, no sentido de as escritoras trabalharem um círculo definido de temas e terem uma dicção em comum. Esse é um pensamento bem limitador, na verdade. Acho que ele pode se justificar apenas em uma perspectiva histórica, já que as poucas mulheres que escreviam – pensando no século 19 até metade do século 20 ou mais além – normalmente escreviam sobre sua realidade doméstica. Agora o universo se ampliou. Como mulher, me sinto autorizada a escrever sobre o que eu quiser e do jeito que eu quiser. E tenho inclusive a liberdade de não tocar em temas exclusivamente “femininos”, se assim eu desejar.
 
JC – Um dos seus interesses como escritora tem sido falar sobre vivência urbana: a mobilidade na cidade, a relação com a paisagem. É um tema de certa forma presente também na sua literatura? Penso em Todos Nós Adorávamos Caubóis, road novel que tem uma vivência da paisagem e do deslocamento.
CAROL –
A questão urbana me interessa muito sim, tanto nas crônicas que escrevo no jornal quanto na literatura. Mas esse espaço da cidade caótica, das grandes transformações do suposto progresso, ficou um pouco de fora de Todos Nós Adorávamos Caubóis. Quer dizer, talvez possamos considerar que o deslocamento pelo interior do Rio Grande do Sul feito por Cora e Julia é sobretudo uma fuga daquele cenário urbano (além de uma viagem pelo interior delas mesmas, como sempre acontece nas road novels). No livro que estou escrevendo, o cenário é rural, com uma natureza impressionante (norte da Califórnia), mas a gente vê o tempo inteiro lá um culto ao selvagem misturado a uma domesticação extrema desse espaço. Acho isso super interessante. O que dá para dizer, de qualquer forma, é que eu gosto de estar numa conexão bem forte com a paisagem.
 
JC – Já são três anos do lançamento de Todos Nós Adorávamos Caubóis. Seu próximo livro de ficção já está pronto?
CAROL –
Não, o livro não está pronto. Estou trabalhando nele há bastante tempo já, mas vai ser extenso e exigiu muita pesquisa e uma imersão nesse lugar muito peculiar que é o norte da Califórnia (especificamente, um condado chamado Mendocino). Estou indo pra lá, aliás, daqui a poucas semanas, dessa vez para uma temporada de seis meses. É um romance que está relacionado ao cultivo de maconha, hippies, família, solidão, dinheiro, ideais e mais algumas coisas.

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