LEITURA

Papel ou digital? O livro vive em diversos e complementares formatos

Editoras e especialistas presentes na 18° Bienal do Livro do Rio enxergam as diferentes maneiras de leitura como complementares, do e-book passando pela contação de história

Valentine Herold
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Valentine Herold
Publicado em 04/09/2017 às 14:00
Foto: Marcello Zambrana/Light Press / Divulgação
Editoras e especialistas presentes na 18° Bienal do Livro do Rio enxergam as diferentes maneiras de leitura como complementares, do e-book passando pela contação de história - FOTO: Foto: Marcello Zambrana/Light Press / Divulgação
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RIO - A escolha do livro toma, na maioria das vezes, forma de um ritual. Por muito tempo, era necessário sair de casa para tal atividade, reservando um momento do dia para ir à livraria. Esse momento, claro, ainda existe e resiste, mas nos últimos anos ele vem dividindo espaço nos corações dos leitores assíduos com outras plataformas de leitura, como os e-readers (leitor de livros digitais), audiobooks (livros em formato de áudio), clubes de leitura e contação de história. Até o YouTube, tomado por canais de muitos dos chamados booktubers – vlogueiros de literatura – pode ser incluindo nesta lista de formas de leituras que vão além do livro físico. Na 18º Bienal do Livro do Rio, que teve início na última quinta e segue até o próximo dia 10, parte da programação volta-se para justamente o debate das plataformas digitais e as mudanças do mercado editorial em torno desta questão.

É fato que o livro digital vem crescendo no Brasil. Recentemente, foram divulgados os resultados do Censo do Livro Digital de 2017, estudo realizado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livro. A pesquisa apontou que, hoje, 37% das editoras brasileiras produzem e comercializam e-books e o faturamento total com conteúdo digital no País foi de R$ 42.543.916,96, o que corresponde a 1,09% do mercado editorial brasileiro. Mas, para Marcelo Gioia, diretor da Bookwire Brasil, uma empresa alemã especializada em distribuição digital, este número não é pessimista como parece. “Sabemos bem, a partir do nosso trabalho no dia a dia, que esse 1,09% não é a realidade. O Censo foi um passo inicial para entender mais o mercado digital de livro no Brasil, mas na minha opinião, precisa de ajuste. Por exemplo, eu acho que não deveriam considerar livros didáticos na pesquisa”, aponta.

Por mais que, analisando os resultados da pesquisa, este aumento não pareça muito significativo, as editoras e livrarias ressaltam o aumento de vendas de livros digitais de maneira otimista. Mas sem jamais categorizar os leitores de acordo com as plataformas de leitura. Segundo o gerente de e-commerce da Saraiva, Gustavo Mondo, a leitura é um ato contínuo e integrado: para cada momento e objetivo, existe um formato, o que não significa que os leitores utilizem apenas um tipo de plataforma. “No começo da chegada do livro digital até tínhamos a concepção de que o leitor iria preferir e focar sempre em um único formato, mas logo percebemos que essa questão da leitura é muito mais fluida”, ressalta.

As estudantes Raiane e Vitória são do terceiro ano do ensino médio, estiveram juntas na última sexta na Bienal e saíram de um estande cada uma com sua sacola de livros novos nas mãos. O amor pela literatura é compartilhado, mas as formas de consumo das duas amigas diferem um pouco, já que Raiane diz consumir mais livros digitais enquanto Vitória só compra e lê livros impressos. “Acho o digital mais acessível. Leio tanto no celular quanto no computador já há uns três anos, mas ainda assim gosto do livro impresso”, explica Raiane. Já sua amiga ainda prefere a sensação de segurar o livro, virar as páginas sentir seu cheiro.

Leituras complementares

Estes são mesmo hábitos tradicionais, que representam uma grande parte do ritual de leitura, e perpassam gerações. Chegar na livraria, olhar as prateleiras, folhear vários livros antes de escolher o que vai ser comprado… ou seria na verdade ligar o e-reader, abrir a loja virtual, ler as resenhas, clicar no escolhido? Um formato não exclui o outro, como bem ressaltaram Gustavo Mondo, a partir de sua experiência empresarial, e a estudante carioca, em sua prática diária.

Além dessas maneiras individuais de leitura, existem também as experiências coletivas, como a contação de história. Esta última se fez bem presente na Bienal, integrando o espaço voltado ao público infantil, o EntreLetras. A curadora do espaço, Dani Chindler, foi ela mesma contadora de histórias. “Em diversas ocasiões trouxemos a contação como atividade principal”, relembra. “É uma maneira lúdica da criança se aproximar do hábito da leitura, assim como, para mim, a cantiga, o folclore também são formas de leituras que vão além do livro.” Ela lembra ainda a máxima do famoso escritor e especialista em cultura brasileira Câmara Cascudo em que o conto popular é ressaltado como sendo o primeiro leite intelectual das crianças.

“Muito antes da pessoa se tornar um sujeito da leitura, ela foi uma criança que esteve inserida nesse universo do livro através da oralidade”, finalizou Dani. Do livro físico ao e-book, passando pelas maneiras de escuta de histórias. A ordem dos formatos de leitura não altera a experiência de se deixar levar por um novo universo a cada título.

A repórter viajou a convite da Saraiva.

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