LANÇAMENTO

Fernando Monteiro lança novo livro e se posiciona politicamente

Um dos homenageados da Bienal do Livro deste ano, o autor retorna aos contos em lançamento

Valentine Herold
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Valentine Herold
Publicado em 10/10/2017 às 14:57
Foto: Michele Souza/ Acervo JC Imagem
Um dos homenageados da Bienal do Livro deste ano, o autor retorna aos contos em lançamento - FOTO: Foto: Michele Souza/ Acervo JC Imagem
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Há oito anos Fernando Monteiro tomou uma decisão literária – e de vida – da qual não se arrepende. Na época com 60 anos, o premiado escritor e cineasta pernambucano comunicou que encerrava seu ciclo como romancista e voltaria ao gênero que estava na raiz de sua carreira como autor, a poesia. Marginalizado no mercado literário, o fazer poético é um ato e resistência e também político segundo Fernando, assim como foi sua saída da abertura da 11° Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, da qual ele é homenageado, na última sexta-feira (5).

Apesar de estar feliz com a homenagem, ele preferiu se retirar do pequeno auditório montado no pavilhão do Centro de Convenções alguns minutos após a chegada do ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, por incompatibilidade política com o governo Temer.

A participação efetiva do escritor no evento literário teve início então no sábado com a última edição do seu projeto Palavração – O Ano das Lágrimas na Chuva e ele volta à programação neste sábado, dia 14, com dois eventos que não poderiam representar melhor sua atuação ao longo das últimas décadas: de cinema e literatura. O São Luiz vai ser palco, às 16h, da exibição do filme Ivan, O Terrível, de Serguei Eisenstein, cuja película pertence ao acervo de Fernando. Em seguida, ainda no local, ele realiza o lançamento de seu novo livro, Contos Estrangeiros.

Editado pela Confraria do Vento, o volume reúne 15 contos inéditos do ficcionista pernambucano. “Os textos estão interligados por uma mesma temática, que é essa da visão do outro sobre um determinado lugar. Assim descobrimos sempre algo sobre nós mesmos, toda viagem é uma saída de si e é isso que forma essa costura interna das narrativas do livro”, explica o autor.

Apesar de ter deixado de lado o romance e focado na poesia, o conto é uma forma de narrativa que agrada Fernando Monteiro. “Acho que é até mais difícil escrever contos do que romances, ao contrário do que muita gente pensa. Porque é um pouco como uma pintura, ou vai ou não vai, tem que entregar tudo naquelas poucas páginas, então há um pouco dessa concisão da poesia.”

TRAJETÓRIA

Este é o segundo livro de contos lançado por Fernando Monteiro – o primeiro foi Pátria Armada, nesses mais de 20 anos de carreira como ficcionista, em grande em parte construída escrevendo longas narrativas. “Percurso esse que eu iria desfazer voltando à poesia”, diz. O cinema também deixou de fazer parte do ofício, pois “existe a questão física para conduzir um filme, exige mais juventude.”

Ao longo dos anos em se dedicou à sétima arte, Fernando manteve, assim como agora na literatura, o foco nas narrativas curtas. Muitos de seus filmes eram exibidos nacionalmente na salas de cinema antecedendo os longas. “Era uma Lei Federal essa obrigatoriedade de exibição de um curta antes do filme principal. Não entendo esses jovens cineastas que hoje não exigem mais isso. Estamos num tempo tão amorfo e anêmico que nem isso é reivindicado”, desabafa.

A trajetória cinematográfica do pernambucano teve um marco: em 1969, aos 20 anos, ele saiu do seu estado natal e desembarcou na Itália para estudar cinema. “Eu nunca tinha nem ido a São Paulo ou ao Rio, e lá estava eu na Europa, numa época em que ela ainda estava inteira”, lembra. “Essa coisa de ser andarilho é algo que me acompanha, talvez explique também um pouco da minha trajetória como escritor e esses contos do novo livro.” Dentre os lugares que mais gostou de visitar está a Turquia, o Egito e o Marrocos.

Assim como nas viagens, a formação de Fernando Monteiro como leitor percorreu literaturas de vários países. Em termos de cenário nacional, machado de Assis, Graciliano Ramos e Clarice Lispector foram fundamentais. Todo escritor é, antes de sê-lo, um ávido leitor. “Eu às vezes até lamento ter começado a escrever pois acho que perdi a inocência do leitor que não entende dos truques, dos caminhos de se fazer um livro”, analisa.

Em relação às mudanças do meio literário nos últimos 20 anos, o autor enxerga uma principal que, para ele, é inclusive negativa. “Acho que o romance se transformou num produto do mercado, está mais difícil as editoras publicarem livros estranhos, com linguagens diferentes. Aliás, tudo está nas garras do mercado. E se não, nas garras do MBL”, diz com a ironia tão comum aos textos e comentários que pública em sua página no Facebook.

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