Um “beatnik dos trópicos”, em pleno inverno de Montreal, no Canadá. É assim que se descreve jovem o protagonista do romance Levedação, escrito pelo professor da Pós-Graduação em Comunicação da UFPE Jeder Janotti. A obra, editada pela Titivillus, será lançada hoje, às 20h, no Ramón Bar y Parrill, em Casa Forte.
Levedação é uma espécie de romance de formação, repleto de referências pop e literárias e com uma confessa admiração pelos beats. Nas pesquisas acadêmicas, Jeder trabalha com o conceito de cenas musicais – é a abordagem de seus livros sobre o metal, como Heavy Metal com Dendê e Rock Me Like the Devil, entre outros.
A narrativa traz um jovem protagonista, Paulo, que chega em Montreal empolgado para fazer o seu doutorado sanduíche. Seu inglês é hesitante, um problema ainda maior em uma cidade que se divide em dois idiomas, com a presença orgulhosa do francês. “Montreal era um arremedo de sonhos multiculturais sustentados na argamassa da tolerância. Aprendi que tolerar é pouco”, escreve logo no início.
PERSONAGEM
Paulo é fã de metal, gosta de cervejas diferentes, convive entre os acadêmicos (reais) canadenses da música. Como a história de Paulo parece ser tecida de experiências que podem ter acontecido, Jeder brinca com isso – ele mesmo aparece como um professor desafeto do aluno, “afetado e vaidoso”, além de citar Will Straw, por exemplo.
O jovem estudante é um personagem fascinado pelo glamour do que não tem glamour – sua ideia de viagem é um misto entre as narrativas eróticas de Bukowski e a escrita livre dos beats. “Em meus devaneios eu pretendia habitar Montreal como um híbrido de Kerouac, (Mário) Bortoloto e Bukowski. Um escritor das bordas, com bolsa de doutoramento de 1470,00 dólares canadenses por mês”, confessa. “Naquele momento, senti-me um Kerouac tupiniquim. Era como se eu fosse parte de uma parede de escudos que unia todos os pretensiosos que já haviam segurado caixas com seis cervejas daquela maneira.”
A obra conta com ilustrações de Tiago Acioli, que dão traços para a solidão errante, atenta e irônica de Paulo. Levedação é um envolvente misto de narrativa de um outsider e um caderno despretensioso (e bem humorado) de viagem. “Todos fingiam entender quando se tratava de quanto custa, como posso pagar, enfim, sempre que eu acionava a incrível máquina de tradução – cartão de crédito – meu inglês tacanho se transformava em uma língua franca”, narra o livro.