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Prêmio Pernambuco promove lançamento de obras vencedoras

A honraria apresenta as obras de Ezter Liu, Fred Caju, Amâncio Siqueira, Walter Cavalcanti Costa e Enoo Miranda

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Publicado em 26/04/2018 às 8:38
Mery Lemos/Divulgação
A honraria apresenta as obras de Ezter Liu, Fred Caju, Amâncio Siqueira, Walter Cavalcanti Costa e Enoo Miranda - FOTO: Mery Lemos/Divulgação
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Ainda que o momento do anúncio do resultado de uma premiação de inéditos seja sempre importante, é quando eles finalmente chegam às mãos do público que o concurso realmente cumpre a sua função: dar destaque a novos olhares e escritas. O Prêmio Pernambuco de Literatura lança nesta quinta (26), às 19h, no Museu do Estado, os cinco vencedores da sua quinta edição. Com projeto gráfico que os une, os livros são publicados pela Cepe Editora.

A grande vencedora da edição de 2017 foi a recifense Ezter Liu, que mora em Carpina desde criança. Nos contos de Das Tripas Coração, ela cria histórias centradas em mulheres, em uma ampla gama de vivências e imagens. As narrativas trazem histórias duras sobre a solidão, as opressões do machismo e da sociedade ou os relacionamentos amoroso. Ezter não opta por seguir apenas uma ideia do que é o feminino: é a urgência desses contos e personagens que move a sua escrita.

Outra obra de contos é o volume Nem Tudo Cabe na Paisagem, do escritor Amâncio Siqueira, nascido em Afogados da Ingazeira e radicado em Garanhuns. O livro traz 11 narrativas, que mostram personagens em busca da descoberta – desde um poeta que cunha um manifesto do “lixismo” e vai circular o mundo para viver a poesia até o encontro de duas amigas que falam sobre a traição do namorado de uma colega.

Na narrativa mais longa, intitulada Atirei no Que Vi, Acertei no Que Não Vi, Amâncio ainda faz uma espécie de acerto de contas entre um filho e um pai durante o trajeto de uma viagem, numa prosa dolorosa e emotiva. “Nem tudo cabe no recorte de um romance”, diz o filho em dado momento. Antes deste livro premiado, o autor havia lançado, em 2014, a novela Quebra Cabeças.

Ainda no universo da prosa, o romance O Velocista, do pesquisador e professor recifense Walter Cavalcanti Costa, é uma espécie de ficção científica experimental que cruzou com um livro de memórias. Às vezes parecendo escrever poemas, outras em frase telegráficas, o autor vai contando a história de Jô Tadeu Tábua, que mantém um diário enquanto viaja pelo espaço. Os capítulos curtos trazem frases sucintas, lembranças da sua família, código binário, equações que viram linguagem e listas.

“O vazio não seja exclusividade das grandes almas”, diz em dado momento a obra. É um homem na solidão do espaço e da memória, recriado em uma linguagem que explora os limites. Há várias referências ao concretismo e ao futurismo, por exemplo – Walter é doutor em Teoria da Literatura pela UFPE. Já publicou antes dois livros: Entressafra 89, em 2011, com contos e poemas, e Marlinda: Em Diálogo de Amor às Suas Cidades, no ano passado, em parceria com Milca de Paula.

POESIA

As dores do presente estão sempre conectadas à tradição de desigualdade e opressão nos versos de Chã, livro do escritor e professor Enoo Miranda. A sangrenta cultura canavieira, “a meta semanal de militância forjada na rede” e a “monocultura do ódio” transparecem nos poemas, feitos com uma voz que combate a imobilidade: “minha alma é de pólvora/ pelo medo de acalmar.”
Autor do livro Papel de Pegar Mosca, de 2016, Enoo traz em Chã um livro habitado pelas queimadas da cana de Nazaré da Mata. A obra, no entanto, vai além, como m catálogo instável das injustiças – não só as da sociedade, mas as da vivência humana. Como diz em um dos poemas: “vão-se os anéis,/ ficam os medos”.

Já o poeta Fred Caju mostra em Nada Consta uma poética que não teme a dissidência, a ironia e a busca por forjar um caminho próprio. Se os poetas contemporâneos idolatram a palavra “brócolis” por qualquer coisa que ela tenha de singular, ele vai na contramão: “eu me espanto com a fome/ e quero enfiar um brócolis/ na boca de quem não come”.

O livro é a defesa de versos que são urgentes, não encastelados em citações e formalidades. Fred busca também a concisão de “escutar um quilômetro/ escrever um milímetro”. Autor de várias obras, incluindo O Revide das Pequenas Maldades, Estilhaços e Permanência, ele elenca tudo o que de fato pode haver nesse Nada Consta que é a literatura: “livro – cadáver/ do processo/ criativo”.

Cada um dos autores ganhou R$ 10 mil pela premiação. A grande vencedora, Ezter Liu, ganhou R$ 10 mil adicionais. A partir deste ano, a premiação vai mudar de nome, passando a se chama Prêmio Hermilo Borba Filha e com premiação de R$ 90 mil no total, passando a selecionar mais autores.

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