MARXISMO

Os 200 anos de Karl Marx, um filósofo que desperta paixões

Mais reverenciado e rejeitado do que lido e compreendido, o pensador alemão continua essencial para os debates contemporâneos

JC Online
Cadastrado por
JC Online
Publicado em 05/05/2018 às 7:44
Divulgação
Mais reverenciado e rejeitado do que lido e compreendido, o pensador alemão continua essencial para os debates contemporâneos - FOTO: Divulgação
Leitura:

Poucos filósofos podem ostentar uma popularidade tão ampla quando Karl Marx, nascido há exatos 200 anos na cidade de Tréveris, na Alemanha. Algumas de suas frases são célebres (“um espectro ronda a Europa: o espectro do comunismo”); seus conceitos de mais-valia, luta de classes ou ditadura do proletariado são usados irresponsavelmente por ambos os lados da política; suas ideias são confundidas com profecias incorrigíveis ou manuais de manipulação e dão origem a projetos políticos autoritários – que as seguem ou as perseguem, criando os espantalhos ideológicos que quiserem. Marx, ainda mais em um Brasil dividido e paranóico, se tornou uma espécie de maldito e mito, sempre mais incompreendido do que de fato ponderado.

Ler Marx é, antes de tudo, uma experiência, como define a crítica literária argentina Beatriz Sarlo, “mesmo que depois não continuemos a subscrever o que aprendemos”. “Um acontecimento que afeta profundamente o sujeito e se converte, assim, em parte de sua vida. Isso acontece com os grandes escritores e filósofos, somente com eles”, ressalta, em texto publicado no El País sobre sua leitura de O Capital – o livro pelo qual Marx disse ter “sacrificado saúde, felicidade e família”.

O marxista francês Raymond Aron já disse que “uma das características da obra de Marx é que pode ser explicada em cinco minutos, em cinco horas, em cinco anos ou em meio século”. E, na verdade, o Marx exclamatório de O Manifesto do Partido Comunista é muito mais conhecido do que o Marx filósofo, analista dos sistemas econômicos e da história. Unindo os dois espectros, no entanto, não há caso de um pensador que mexeu tanto com as bases da sociedade como ele. De forma direta ou indireta, o DNA de Marx aparece nas problemáticas ou trágicas experiências socialistas, na consolidação de lutas trabalhistas, na reformismo da social-democracia e, principalmente, nos debates acadêmicos de quase todas as ciências humanas – da economia à literatura.

Gareth Stedman Jones, que biografou o autor alemão no recém-lançado Karl Marx: Grandeza e Ilusão, ressalta no seu livro, apesar das críticas que tem ao pensador, dois aspectos fundamentais da obra de Marx: a forma brilhante como ele percebe a instabilidade constante do capitalismo, sempre tenso e se adaptando para a própria sobrevivência; e a noção de que o capitalismo é uma criação humana e, portanto, passível de mudança.

LIVROS

Entre os vários lançamentos planejados para o ano, a Boitempo – que tem no seu catálogo edições de quase toda a obra do alemão – publica o primeiro volume de Karl Marx e o Nascimento da Sociedade Moderna, do cientista político Michael Heinrich. Na biografia, focada na primeira fase da trajetória da vida do filósofo alemão, ele mostra como Marx vai transformando o próprio pensamento ao longo do tempo, deixando de lado conceitos e retomando outros. Assim, revela um Marx mais aberto a desdobramentos na sua teoria.

Em A Loucura da Razão Econômica: Marx e o Capital no Século 21, também da Boitempo, o geógrafo David Harvey destaca esse Marx mais analítico e menos estável. “Quanto mais ele aprendia com suas volumosas leituras (não apenas dos economistas políticos, antropólogos e filósofos mas da própria imprensa comercial e financeira, de debates parlamentares e de relatórios oficiais), mais ele evoluía suas visões (ou, alguns diriam, mais ele mudava de ideia)”, escreve o autor inglês.

Também no livro, Harvey destaca que o debate sobre a economia política era mais aberto na época de Marx. Aliás, a presença do autor alemão na economia é alvo de debates até hoje. Se foi alvo de respeito pela revista liberal The Economist no ano passado, Marx é considerado alvo de um “interesse histórico” para o francês Thomas Piketty, estudioso da desigualdade das economias atuais e autor do best-seller O Capital no Século 21. “O erro foi tê-lo considerado como um profeta, ter considerado a sua teoria como um modelo do que havia de ser feito”, considera.

Últimas notícias