Ao observar as listas de finalistas e vencedores de premiações literárias brasileiras, a escritora paulista radicada em João Pessoa Maria Valéria Rezende só via um ou dois nomes de mulheres. O problema era ainda mais grave no mercado editorial: uma pesquisa de 2012 da professora Regina Dalcastagnè indicava que, no universo das principais editoras brasileiras de ficção contemporânea, 72,7% do autores publicados eram homens.
O incômodo ficou na cabeça de Maria Valéria e, ao encontrar colegas em eventos, foi surgindo naturalmente uma rede de contatos de autoras para debaterem e se ajudarem, o Mulherio das Letras. No ano passado, o movimento virtual organizou o seu primeiro encontro presencial em João Pessoa. Nesta sexta (31), o Recife recebe uma edição regional, o Encontro Mulherio das Letras do Nordeste, que se estende até o domingo na Casa Astral e no Edifício Texas.
Mais do que um festival literário, como o nome ressalta, a ideia é realizar um encontro, em que temas são discutidos sem a necessidade de estabelecer palestrantes fixos. Focado na participação feminina, o evento ressalta que homens são bem-vindos, desde que dispostos a ouvir. Nesta sexta (31), às 19h, na Casa Astral, Maria Valéria, vencedora do Prêmio Casa de las Américas e do São Paulo de Literatura com o romance Outro Cantos, vai realizar a abertura do evento, falando sobre a origem do projeto e as possibilidades do futuro.
O festival homenageia a escritora e educadora potiguar Nísia Floresta (1810-1885), autora de títulos como Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens e Conselhos a Minha Filha. Ela é o tema de uma exposição que será inaugurada no local. Ainda na programação de sexta, a poeta, atriz e produtora Mayara Millane apresenta às 20h30 o curta-metragem Deusa, dirigido por ela e Joana Gatis a partir de um poema.
SÁBADO
Sábado (1º), a programação se transfere para o Edifício Texas. A partir das 9h, será inaugurada a mostra fotográfica Um Toque de Poesia, que trazer poetas potiguares incentivando o autoexame para prevenir o câncer de mama. Além disso, o espaço vai contar com uma lojinha com camisas, canecas e bolsas, com a identidade visual feita para o evento por Gabriela Araújo. Durante a manhã, ainda ocorro uma contação de histórias com Adélia Oliveira e um debates com autoras de quadrinhos independentes, como Jaqueline Lima e Kau Bispo (Coletivo Gatamarela), Mariana Souza, Thaís Cavalcanti, Leticafe, Bárbara Machado e Clarissa Cabral.
Durante a tarde, o Mulherio das Letras do Nordeste promove suas rodas de conversas, voltadas para troca de ideias e experiências. São seis temas principais de discussão: o ser escritora; a cadeia produtiva do livro; o letramento e o incentivo à leitura; as contadoras de histórias e a tradição oral; a presença de mulheres negras, indígenas e quilombolas na literatura; e, por fim, o politicamente correto e a literatura infantojuvenil. Antes, às 14h, a atriz Julienne de Sá faz uma intervenção chamada Aterrar. O encerramento fica por conta a intervenção TRANSpassar, de Sophia William, às 16h30.
O encerramento do evento, no domingo (2), acontece na Casa Astral. As participantes se reúnem às 9h para fazer um balanço do encontro e para planejar novas atividades. Depois, às 11h, fazem um lançamento coletivo de livros com intervenções poéticas e atividades para crianças.
