LIVROS

Literatura norueguesa será o foco da Feira de Frankfurt de 2019

Com nomes como Jostein Gaarden, Maja Luden e Karl Ove Knausgard, a produção literária do país quer apresentar novos nomes

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 16/10/2018 às 19:35
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Com nomes como Jostein Gaarden, Maja Luden e Karl Ove Knausgard, a produção literária do país quer apresentar novos nomes - FOTO: Divulgação
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Em mais de um sentido, a Feira do Livro de Frankfurt, que se encerra hoje, é um evento que se estende para bem mais que o período de seis dias. Antes do início da programação, editores e agentes literários já estão em contato para marcar reuniões e adiantar algumas informações com autores. Muitos negócios são fechados durante a feira, claro, mas a maioria só começa a sair do papel mesmo depois, quando contratos (e valores) são discutidos com mais calma. Além disso, ainda durante a realização do evento, que neste ano teve como país convidado a Geórgia, o próximo país celebrado em Frankfurt já começa a sua preparação para o evento.

Os que acompanham com afinco a literatura policial e a ficção internacional podem conhecer autores noruegueses como Jo Nesbo e Karl Ove Knausgard (da aclamada série de autoficção Minha Luta). Um público ainda maior leu o best-seller O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarden. Se isso não é suficiente, vale ressaltar que existem três Nobel da Literatura norueguesa: Bjornstjerne Bjornson (1903), Knut Hamsun (1920) e Sigrid Undset (1928). Ainda que parte dessa literatura já tenha ido além das fronteiras do país, a ideia é agora mostrar novas e diferentes vozes que têm surgido na escrita norueguesa.

Vale ressaltar alguns dados que fazem da Noruega uma nação exemplar para outras quando se fala em livros. Primeiro, é um dos países com maior índice de leitura no mundo: 88% dos habitantes dizem ler ao menos um livro ao longo do ano. A média de livros lidos é de 15,5 por pessoa, novamente no mesmo período. São 674 bibliotecas públicas no país (sem contar as mais de 2 mil bibliotecas ligadas a colégios e universidades), com mais de 21 milhões de livros emprestados por ano. “Além disso, não sei se algum outro idioma no mundo tem proporcionalmente tantos escritores que vivem do seu ofício como nós”, destaca Trine Skei Grande, ministra da Cultura da Noruega.

Em um evento com o discurso (felizmente) insistente da liberdade e dos direitos humanos, a ministra destacou esse papel da literatura. “Uma sociedade é forte não apesar das diferenças, mas por conta delas. Quem se dispõe a ouvir histórias contadas por outras pessoas não tem dificuldade de respeitar diferenças”, aponta Trine.

CONVITE

A dupla responsável pelo projeto de transformar a Noruega no país convidado de Frankfurt em 2019, Halldór Guomundsson e Margit Walso, destacou que o interesse recente pela literatura norueguesa começou em uma edição da feira, quando todos estavam atrás de Jostein Gaarden. Hoje, a Alemanha e outros países vivem uma nova febre por conta de uma autora norueguesa, Maja Lunde, criadora do romance Tudo o que Deixamos para Trás, obra mais vendida em alemão em 2017.

“Em dez anos, as traduções de livros noruegueses quintuplicou”, conta Halldór. “Livros não são apenas livros, eles promovem também diálogos culturais”, completa Margit. Segundo os dois, a ideia é ainda mostrar como funciona o sistema literário norueguês, com um grande incentivo à leitura, lei do preço fixo e uma tradição de compras públicas de obras.

AUTORES

Junto com a apresentação geral da participação na Feira de Frankfurt de 2019, a delegação da Noruega trouxe três escritores para falarem (em uma conversa breve, a tônica constante dos encontros no palco principal do evento) sobre suas obras. O primeiro foi o escritor e explorador Erling Kagge, autor do livro Silence in the Age of Noise (Silêncio na Era do Ruído, em tradução livre).
Erling fazia viagens como as expedições sozinho para os dois polos da terra, passando cerca de 50 dias sem contato com outras pessoas. “Depois que parei de fazer coisas assim, tornei-me um homem de família, com filhos. Comecei a me perguntar, ao tentar falar das minhas viagens para meus filhos, o que era o silêncio. Dizia a eles que existe muito barulho na nossa sociedade e que cada um precisa encontrar seu silêncio – os silêncios de cada pessoa são diferentes”, comenta o escritor. Para ele, ruído é mais do que o barulho: é também o excesso de informação e a distração, tudo que perturba as pessoas.

Segundo Erling, não era fácil voltar de um período de 50 dias de silêncio no meio do mundo caótico. “Só que você volta e tem contas para pagar, a máquina de lavar quebra, a sua namorada tem expectativas. O mundo não para porque você foi”, brincou.
Maja Lunde, fenômeno no mercado editorial alemão, falou sobre o best-seller Tudo o que Deixamos para Trás e sobre seu novo livro, The End of the Ocean (O Fim do Oceano, em tradução livre). Os dois fazem parte de uma série não planejada de livros que abordam questões ambientais e climáticas. Antes do sucesso na literatura adulta, Maja escrevia obras infantis. “A diferença é que as crianças são mais honestas: eu posso confiar se elas dizem que amaram meu livro”, explica a autora.

Seus livros, apesar de trazerem temas ambientais, são sempre construídos a partir de grandes personagens. “Eu começo com o esboço de uma história, mas é o personagem que comanda tudo. Eu não penso nos meus livros como políticos, não penso em passar mensagens”, revela a escritora.

A última dos três autores é Linn Ullmann, filha da icônica atriz sueca Liv Ullmann e autora do livro Unquiet (Inquieto, em tradução livre). “Acho que escrevo porque eu leio desde a infância, e sempre achei que os livros revelam também as nossas fraquezas. Escrevo para entender e sobreviver ao medo, à morte, à vida”, afirmou.

“Nesse meu último livro, queria falar sobre o meu pai, porque ele havia morrido. Eu lia seus textos, olhava suas fotos e não o encontrava. Foi lendo outros livros, os que não tinham nada a ver com a minha família, que eu o encontrei e consegui escrever. Olhar a arte é encontrar a si mesmo, e também o outro. A ficção, afinal, não é o oposto da verdade.”

O repórter viajou a convite do Consulado Geral da Alemanha em Recife

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