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Preparação para os 120 anos de Gilberto Freyre terá restauro da Casa Museu

As obras começam a partir da segunda-feira (11), mas não vão paralisar as atividades do museu

Diogo Guedes
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Diogo Guedes
Publicado em 10/03/2019 às 8:50
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As obras começam a partir da segunda-feira (11), mas não vão paralisar as atividades do museu - FOTO: Felipe Jordão/JC Imagem
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Preparar as celebrações dos 120 anos do nascimento de um autor como o sociólogo e antropólogo pernambucano Gilberto Freyre não é simples. Homenagens são sempre recortes, e poucos pensadores são tão múltiplos quanto o homem que forjou Casa Grande & Senzala, seja na sua sociologia com olhar antropológico, seja ao inserir as tradições orais na história ou, ainda, pela sua escrita que dispensa a prosa taciturna da academia. Assim, ainda que a data só seja comemorada em 15 de março de 2020, já começam amanhã, com apoio do Jornal do Commercio numa parceria com a Fundação Gilberto Freyre (FGF), as ações para tentar dar conta das muitas facetas do sociólogo de Apipucos.

A FGF vai dar início ao restauro dos ambientes da Casa-Museu do autor, que traz parte dos seus livros, objetos pessoais, a valiosa coleção de quadros e fotos do escritor e sua família. A obra vai ser realizada em três partes com recursos do BNDES no valor de cerca de R$ 2 milhões – primeiro o andar será fechado, e só depois cada uma das partes do térreo.

“Fazer isso sem fechar o espaço é importante porque o recebimento de visitantes, especialmente escolas, é a principal fonte de receita da Fundação”, conta Jamille Barbosa, coordenadora de projeto da FGF. O restauro deve ter modificações mínimas na estrutura, apenas com mudanças para circulação do ar e para melhorar a acessibilidade – o espaço é alvo de dois tombamentos, um da própria Casa-Museu e outro do conjunto arquitetônico do entorno. Ao todo, a previsão é que a reforma dure sete meses.

Ao procurarem o BNDES, a ideia era pedir apenas o restauro. Com a visita dos técnicos do banco, o projeto se ampliou. “Quando eles vieram visitar a Casa-Museu, fizeram uma proposta. Aceitavam o restauro desde que fossem feitos também dois outros projetos: um para o restauro do acervo documental e bibliográfico e outro para o acervo museológico”, conta Jamille. A FGF, claro, aceitou, e a verba já está reservada, aguardando apenas a aprovação do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) para ser liberada.

REEDIÇÕES E NOVOS LIVROS

A Fundação ainda tem muitos planos para os 120 anos de Freyre. Além de seminários – um vai acontecer em maio, na Universidade Nova de Lisboa –, a ideia é também estudar a reedição de algumas de suas obras. O professor da UFPE Anco Márcio Tenório lembra que Freyre publicou 80 livros, indo muito além de Casa Grande & Senzala, título que ainda hoje vende cerca de 8 mil exemplares por ano, segundo a Global. “Nossa ideia é republicar obras que estão foram de catálogo.”, conta Jamille.

A FGF também deve lançar novos títulos a partir do acervo de documentos do autor. “Estamos identificando arquivos nunca publicados. Por exemplo, para escrever Ordem e Progresso, de 1957, que analisa a transição da monarquia para a república no Brasil, Gilberto Freyre criou um questionário a ser respondido por quem viveu esse período. Ele entrevistou intelectuais, escritores, políticos, mas também artistas populares, pessoas pobres para saber como era a vida antes e depois da mudança de regime, as brincadeiras, hábitos, lembranças”, explica a gestora.

“O primeiro questionário está datado de 1939. Alguns têm 30 páginas, outros são curtos, como o de Manuel Bandeira. Alguns são datilografados e outros escritos pelos filhos ou amigos dos entrevistados, porque a pessoa era analfabeta. Não sabemos quando poderia sair, mas o projeto é publicar todos esses questionários que foram a base para o Ordem e Progresso”, continua Jamille.

Também existe a ideia de reunir alguns volumes de correspondência, como as trocadas com o advogado e escritor Rodrigo Melo Franco de Andrade. Freyre, ressalta Anco, que tem uma das grandes coleções de cartas do Brasil, com 20 mil missivas só de autores brasileiros.

O próprio professor tem dois projetos a serem concluídos para os 120 anos de Freyre. “Queria organizar um volume com todos os prefácios que ele fez para Casa Grande e Senzala. As edições atuais só reúnem alguns, mas foram cerca de 16 feitos, com textos que respondiam a críticas feitas antes. Junto com isso, quero trazer também os prefácios de edições estrangeiras, tanto os feitos por Gilberto como os assinados por intelectuais como Fernand Braudel, Henri Lefebvre, Darcy Ribeiro”, explica Anco. Outra proposta é uma edição com as cartas do sociólogo e de alguns escritores regionalistas, como Rachel de Queiroz.

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