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Príncipe Valente ganha edição completa no Brasil

Clássico das histórias em quadrinhos chega às bancas restaurado e em toda sua glória, com todas as histórias publicadas, de 1987 a 2018.

Ernesto Barros
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Ernesto Barros
Publicado em 05/05/2019 às 13:05
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Clássico das histórias em quadrinhos chega às bancas restaurado e em toda sua glória, com todas as histórias publicadas, de 1987 a 2018. - FOTO: Divulgação
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No final do ano passado, a editora ítalo-espanhola Planeta DeAgostini ofereceu um pequeno aperitivo aos fãs das HQs quando lançou uma série de edições de luxo de Príncipe Valente, a imorredoura obra do desenhista americano Hal Foster (1892 - 1982), que se mantém viva há 82 anos. A estratégia deu certo e as vendas dos livros especiais impulsionaram a editora a lançar, no Brasil e em Portugal, a coleção completa, em 81 tomos – de 1937 a 2018 – da saga arturiana que até hoje é publicada em páginas de jornais mundo afora (nos Estudos Unidos, a distribuidora King Features Syndicate licencia as aventuras, de meia página dominical, em cerca de 300 publicações diárias ou semanais).

A edição história de Príncipe Valente volta com pompa e circunstância. Afinal, será um item inestimável em qualquer gibiteca. Inicialmente, os volumes chegam às bancas quinzenalmente até a entrega 20, com as aventuras de 1958, quando se tornará semanal. Além das bancas, os colecionadores poderão garantir a coleção com antecedência, pelo site da editora (www.planetadeagostini.com.br), por meio de uma assinatura.

A Planeta DeAgostini fez um trabalho de muito zelo no trato com as pranchas originais de Hal Foster, graças à restauração das cores originais, uma entre tantas marcas da publicação. Cada volume obedece ao ano em que foi desenhado. O formato 22,5 x 31 cm faz jus ao tamanho original das pranchas. A capa dura garante a durabilidade de cada volume, que tem ensaios e análises sobre temas presentes nos livros, como também discussões sobre as técnicas de Hal Foster apoiados em documentos originais deixados por ele.

A CRIAÇÃO DE UM HERÓI

Famoso por desenhar Tarzan, de Edgar Rice Burroughs, Hal Foster passou alguns anos pensando em criar um personagem que não fosse um herói infantil, como praticamente eram quase todos os personagens que nasceram no início do século 20. Ao mesmo tempo, ele também queria homenagear uma tradição, que remontava ao século XV em diante, que tinha na ilustração a base de uma narrativa por imagens.

Não é por outro motivo que Príncipe Valente é o monumento ao academicismo. Até os balões, que já faziam parte integrante das histórias em quadrinhos, foram descartados por Foster. Integrada à pagina, às vezes até repetindo o sentido da imagens, o texto fica acima e abaixo dos desenhos, num fluxo de leitura que nunca perdeu o sabor o literário.

A primeira aparição do Príncipe Valente aconteceu num tabloide de Nova Orleans, em 13 de fevereiro de 1937. Ao contrário de que se pensa, não era um domingo, mas um sábado, quando o The Times-Picayune, já colorido, publicava cartuns e histórias seriadas. Só na tira 16, quatro meses depois, é que a atração ganhava a edição dominical, uma tradição que se alastrou mundo afora. Foi nessa mesma semana, inclusive, que a série de Príncipe Valente chegou ao Brasil, pelas mãos do jornalista Adolfo Aizen, publicada na revista Suplemento Juvenil. A partir de 1939, as histórias passaram para o suplemento O Globo Juvenil, do jornalista Roberto Marinho.

O médico pernambucano Rostand Paraíso, 89 nos, um dos maiores colecionadores de histórias em quadrinhos do Brasil, conheceu Príncipe Valente justamente na edição de o Globo Juvenil. “Eu era menino”, relembra, entre risos, numa conversa telefônica do seu consultório, no Hospital Português, onde trabalha três vezes por semana. “Com o tempo, eu perdi muitas folhas, porque elas foram se esfarelando. Mas depois comprei muitas edições especializadas, feita para colecionadores. Tenho várias em alemão, francês, italiano, francês e português”.

O professor de educação física Sérgio Roberto também concorda que Príncipe Valente, que ele conheceu na década de 1980, prima pela qualidade. “É um material de valor histórico muito grande. Eu já dei uma folheada e pretendo acompanhar a coleção até o fim. Li pela primeira vez por volta dos 7 ou 8 anos, em 1982. A gente começa a gostar de quadrinhos como leitor, depois se apaixona e vira colecionador”, assegura.

A PRIMEIRA HQ ADULTA

Os leitores que vão acompanhar, pela primeira vez, as inúmeras histórias de Príncipe Valente – das mais de três décadas escritas e desenhadas por Hal Foster, de discípulos como J. Cullen Murphy, até a dupla atual, Mark Schultz e Thomas Yeates – terão momentos de puro deleite. O maior deles, pelo menos nos primeiros tomos, é o êxtase diante da qualidade de impressão das histórias clássicas. A recuperação das cores e a reconstituição dos traços de Hal Foster deixam os fãs dos quadrinhos de queixos caídos. Até o cheiro do papel e da tinta são capítulos à parte na experiência.

Príncipe Valente conta a história de um jovem durante sua jornada heroica. A intensão de Hal Foster era mostrar um personagem em que o leitor pudesse acompanhar os seus anos formativos. Val, um menino de mais ou menos 13 anos, acompanha o pai, o Rei de Thule, que é deposto e expulso de suas terras, indo dar com sua família e seguidores na Costa da Bretanha. Recebido com reservas pelos habitantes do lugar, o Rei acaba ganhando a permissão de adentrar uma região pantanosa, onde poderá fincar moradia. Como todo menino, Val explora os lugares e, em pouco tempo, descobre que o lugar é próximo de onde vive o Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda.

Grande parte das histórias giram em torno da ascensão de Val para se tornar um cavaleiro do Rei Arthur. Originalmente a história tem como título Príncipe Valente – Nos Dias do Rei Arthur. As histórias seguem o crescimento dele – de adolescente a jovem, até se tornar cavaleiro, casar e ter um filho. Em nome do seu soberano, e também pelo amor de Aleta, ele vai enfrentar toda sorte de inimigos, como dragões, feiticeiras, vikings e hunos, em viagens que vão da África à América.

Considerada a primeira grande HQ adulta, Príncipe Valente tem uma grande fortuna crítica, forjada ao longo de mais de oito décadas. Em cada volume, um especialista se encarrega de jogar luzes e ampliar a experiência de cada período do personagem. No volume inaugural, o professor espanhol Álvaro Pons analisa como o personagem subverteu o conceito de herói.

“Foster humanizava o herói sem tirar dele esse componente mágico próprio do gênero, mas acenando para o leitor adulto, que se metia nos bastidores do herói para descobrir que seus feitos eram de um ser humano comum. Os únicos poderes de Valente eram a sua inteligência e senso comum. Toda o cenário de fantasia medieval não pode esconder que essa é uma série sobre a vida, sobre o ser humano e seus problemas cotidianos.”

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