CELEBRAÇÃO

Marcos Vinicios Vilaça é homenageado na APL pelos seus 80 anos

Integrante da Academia Brasileira de Letras, Vilaça costuma se definir antes de tudo como um 'pernambucanista'

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Publicado em 10/06/2019 às 11:30
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Integrante da Academia Brasileira de Letras, Vilaça costuma se definir antes de tudo como um 'pernambucanista' - FOTO: Divulgação
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Bem mais do que um pernambucano, o escritor e jurista Marcos Vinicios Vilaça sempre costuma se dizer um pernambucanista. Autor de obras como Coronel, Coronéis, com Roberto Cavalcanti de Albuquerque, ex-ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), o ex-presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL) tem o estado como algo muito maior do que um mero adjetivo pátrio, como já declarou várias vezes: “A minha terra é o meu umbigo, é tudo pra mim”. Pernambuco, diz ele, nunca foi um caso de mania de grandeza, mas sim um caso de simples e pura grandeza.

Nesta segunda (10), a terra tão defendida e exaltada pelo escritor retribui um pouco essa sua trajetória apaixonada. A Academia Pernambucana de Letras (APL) vai celebrar os 80 anos de vida de Vilaça, presidente de honra da casa, com uma saudação comandada pelo escritor José Paulo Cavalcanti Filho. O evento, que começa às 16h, ainda vai contar com as apresentações artísticas do Coral do Colégio Santa Maria e do Quarteto de Clarinetes.

O “pernambucanista” Vilaça só vai completar as oito décadas no dia 30 de junho – a homenagem ao ocupante da cadeira 35 da APL é uma celebração antecipada. Nascido em Nazaré da Mata e criado em Limoeiro, saiu de lá para estudar no Recife e ganhar outros ares do Brasil. Nos círculos intelectuais, fez amizades com nomes como Gilberto Freyre e Mauro Mota. Quando ele se elegeu precocemente presidente da APL, Freyre soltou uma famosa frase sobre o colega: “Tão jovem e tão presidente”.

A trajetória na literatura, marcada pela pesquisa do livro Coronel, Coronéis, e a carreira na advocacia logo o levaram a outros postos. Ao longo da vida, Vilaça foi presidente do TCU, secretário nacional de Cultura, chefe da Casa Civil de Pernambuco e diretor da Caixa Econômica, entre muitos outros cargos. Na Academia Brasileira de Letras, ingressou para ocupar a cadeira 26 em 1985, e chegou a ser quatro vezes presidente da instituição – prova de que a frase de Freyre tinha muito de verdade.

O projeto de Vilaça para a ABL foi o de abrir mais o acesso ao conhecimento da casa. Sua ideia, sempre insistiu, era tornar a academia mais vista e mais ouvida, sem apenas “entesourar a cultura”. “Quando exerci uma função de direção nessa casa eu fiz isso, trouxe pra cá os cultos afros, trouxe o samba, trouxe o futebol e trouxe o Brasil, e de certa forma eu creio que eu consegui, senão de todo, mas de muito”, comentou em entrevista para a série televisiva Imortais da Academia. Não por acaso, José Paulo Cavalcanti Filho gosta de ressaltar que os seus dois primeiros nomes são plurais e, o último sobrenome, singular: “Vilaça é justamente isso, alguém plural e singular de uma só vez”.

BOLO DE ROLO

Nas amizades em Brasília e no Rio de Janeiro, por sinal, o acadêmico ficou conhecido por sua marca registrada: nos encontros, sempre levava um bolo de rolo como presente ou para degustação. Um jeito fácil de irritá-lo é chamar a iguaria pernambucana de “rocambole”. “Bolo-de-rolo não permite caricatura”, garante.

“Eu sou tão pernambucanista que eu acho que sou quase um regionalista ortodoxo. Eu fui criado numa cidade do interior, imagine uma terra de coronel, famoso coronel Chico Heráclio”, já disse. “Vivi assim tempos muito rigorosamente nordestinos, muito rigorosamente regionais e isso eu trouxe pra minha vida toda com muito prazer, tenho muito orgulho da minha terra, do meu povo, da minha ancestralidade, e consequentemente da minha pobreza.”

Além da paixão por Pernambuco, Vilaça também nunca escondeu o seu apreço pelo Rio que adotou. “Se no Recife tem frevo, aqui tem samba. Se lá nasceu Gilberto Freyre, aqui nasceu Machado de Assis. Se lá teve a expulsão dos holandeses, aqui teve a expulsão dos franceses”, discursou ao receber o título de cidadão carioca.

A trajetória de Vilaça também é marcada por uma perda: em 2000, aos 37 anos, morreu precocemente o seu filho, o galerista Marcantonio Vilaça. A despedida súbita abalou ele e sua esposa, Maria do Carmo Vilaça. Anos depois, os dois chegaram a publicar um livro com imagens do acervo do filho e depoimentos sobre ele, e até hoje existe uma premiação para curadores que leva o nome do marchand. Maria do Carmo faleceu 15 anos após a perda de Marcantonio, no final de 2015.

A vivência em Limoeiro, terra de Chico Heráclio, que virou até personagem de Chico Anysio, o levou a escrever sua principal obra, Coronel, Coronéis, com Roberto Cavalcanti de Albuquerque. Publicado em várias línguas, o livro vai ser saudado por José Paulo na sua fala amanhã na APL, junto com o volume Em Torno da Sociologia do Caminhão. “Coronel, Coronéis trata do perfil dessas figuras hoje quase míticas. Nenhum deles era coronel de fato, mas eles acumulavam mais do que mera riqueza: tinham o poder, que usavam com mão de ferro”, aponta o advogado.

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