O desenho era para o designer Guilherme Botelho uma paixão e vocação. Sua mãe, Ângela, lembra do filho pequeno, aos quatro anos, com dificuldades para dormir e, de imediato, pedindo que ela lhe desse papel e caneta. A destreza autodidata para se expressar através dos traços se aprofundou na adolescência e no início da vida adulta, até que foi interrompida abruptamente por um acidente de asa delta que provocou sua morte em 2013, aos 25 anos.
Pouco antes da fatalidade, Guilherme contou à mãe que estava pronto para finalizar a história em quadrinho que vinha desenvolvendo desde os 17 anos e que iria transformá-la em livro. Para concretizar o desejo do filho e celebrar seu legado, Ângela Botelho se mobilizou para lançar A Ordinária História de Juca e Uma Juventude Qualquer, que é apresentado ao público dia 20 de setembro, às 18h30, na Livraria Cultura do RioMar.
“Nunca esqueço a expressão de animação dele quando me contou que iria publicar as histórias. Por isso, encarei como uma missão minha fazer o que meu filho desejava”, conta. “Ele trabalhava nessas histórias desde os 17, 18 anos. A família e os amigos sempre perguntavam as novidades de Juca (risos).”
O processo para a edição do livro foi lento. Ângela lembra que por algum tempo não teve coragem de mexer no material pela carga afetiva contida nele e também com medo de não apresentá-lo da forma que o filho pretendia.
“Para minha surpresa, estava tudo muito organizado. A parte da história em quadrinho é original, respeitei tudo, inclusive o tamanho das páginas. Ele escreveu em papel A4, sem instrumentos, como régua. Todos os desenhos, os balões de diálogos, os textos, tudo foi feito por ele – e muito bem escrito, pois não encontramos erros nas cerca de 200 páginas. Está tudo na íntegra”, revela.
CUIDADO E DEDICAÇÃO
Editado pela Livrinho de Papel Finíssimo, com apresentação de Ângela, posfácio de Clylton Galamba e capa do design Rodrigo Gafa, o livro acompanha o cotidiano de Juca, cujos dilemas adolescentes, como as obrigações sociais, a tentativa de se enturmar, de paquerar, construir sua própria história, e temas como sexo e drogas, são tratados com humor e sensibilidade por Guilherme.
É, como diz o título da obra, a jornada de um personagem, mas também o retrato de uma geração. “Há muitos elementos autobiográficos ali. A mãe que vive insistindo para o filho ir para a ioga, por exemplo, sou eu (risos). A história é atual. Para mim, é uma realização muito grande concretizar o desejo do meu filho e compartilhar a arte dele com o público”, reforça.
