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Joca Souza Leão revisita memórias e diálogos improváveis

escritor lança seu quarto livro de crônicas hoje

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 12/11/2019 às 14:41
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escritor lança seu quarto livro de crônicas hoje - FOTO: Foto: Divulgação
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A Primeira Vez. Crônicas e 101 Diálogos (im) prováveis (Cepe Editora), que o publicitário e cronista Joca Souza Leão lança hoje, a partir das 19h, no Bar Real, em Casa Forte (Avenida Dezessete de Agosto, 1761), é uma seleção de 70 crônicas publicadas no Jornal do Commercio, revista Algomais, e blogs literários, entre novembro de 2016 e setembro de 2019. No prefácio, Everardo Maciel comenta: “O traço predominante das crônicas de Joca é o tom memorialístico, absolutamente afinado com a raiz etimológica desse gênero literário e com a militância do autor, quando autorizada pela preguiça e pela boemia, na defesa do patrimônio histórico, o que, aliás, é motivo de minha admiração e solidariedade”.

O livro divide-se em duas partes. A primeira, de crônicas, a segunda traz os 101 Diálogos (im) prováveis. “Diante dos 101 conteúdos aqui reunidos, a gente imagina o que quiser no tempo e no espaço: visita o Les Deux Magots, nos anos 1930 e 1940, onde ecoam ditos de Sartre e Camus; chega à porta da Garnier e ouve inspirada frase de Machado de Assis no século XIX; em 1950, adentra mais uma lendária casa de livros, a José Olympio, para filar a prosa de Clarice Lispector, Gilberto Freyre, Zé Lins, Graciliano e Manuel Bandeira, e assim vai recolhendo-se as boas lições de escritores, poetas e filósofos”, escreve o também cronista, jornalista e compositor Aluizio Falcão, na introdução destes diálogos (im) prováveis, com leveza e texturas de alfenins.

A crônica é tida como um gênero menor, uma jabuticaba literária, já que, dizem, é tipicamente brasileira. Uma injustiça. Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira foram ótimos cronistas. Além do deleite que as crônicas proporcionam, elas são uma espécie de história não convencional de um bairro, cidade ou país. Onde o historiador se ocupa dos grandes fatos e feitos, o cronista guarda para a posteridade as minúcias, as abobrinhas, que também são parte da história de um povo.
Lendo-se as crônicas de João do Rio, no Rio de Janeiro dos primeiros anos do século 20, ou de Sergio Porto (Stanislaw Ponte Preta), sobre o Rio e o Brasil dos anos 60, tem-se o cotidiano da época, pintado em cores vivas, que não está nos livros que se estudam nas escolas.

MEMÓRIAS

As crônicas de Joca Souza Leão são um pouco da história de Pernambuco. Suas memórias afetivas, quase todas, são também memórias afetivas dos pernambucanos. “Quando minha mãe vinha do Rio e o voo fazia escala em Vitória, a gente já sabia. Na bolsa de mão, chocolates Garoto. Em casa, só chegavam as embalagens vazias. A Garoto capixaba, era famosa. Hoje só existe uma marca de chocolate nacional. Sabe-se lá até quando. Aqui, no Recife, tinha três fábricas: Renda Priori, Beija-Flor, e Hevéltica. Quando fui morar na Inglaterra, Elza, mãe de Roberto Rosa Borges, pediu-me para levar uma encomendinha. Chocolates. ‘Roberto diz que são melhores do que os ingleses’. E deviam ser mesmo. Sem as porcarias químicas que botam em tudo”, descreve Joca, em uma de suas várias reminiscências, como esta que se segue:

“O pernambucano Fratelli Vita brigava com a Coca-Cola pela liderança do mercado. A laranjada Cliper dava de dez a zero na americana Crush. E os biscoitos e bolachas creme craque da Pilar batiam os da Nestlé e da Duchen. Disco era da Rozenblit; suco de fruta, Maguary; camisa, Torre, lençol, Capibaribe, cobertor, Tacaruna; tecidos, Lojas Paulistas (Casas Pernambucanas, no resto do país (...)”. São demonstrações de nostalgia e pernambucanidade que não se encontram em compêndios de história.

E, para Joca, escrever é transpiração ou inspiração? “Por vezes, a ideia pinta do nada. E acho que é isso que chamam de ‘inspiração’. Mas, no mais das vezes, ela, a ideia, pinta porque estava sendo exaustivamente buscada, perseguida. Mas, qualquer que seja o caso, a partir da ideia, tudo mais é trabalho. Transpiração, portanto”, resume

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