COLUNA ESCRITA

Finalista do Jabuti, livro de Adrienne Myrtes emociona entre Recife e São Paulo

"Mauricea" conta a história de uma travesti que foge do Recife para seguir um grande amor e, em plena Ditadura Militar, ganha a vida como manicure em São Paulo

Valentine Herold
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Valentine Herold
Publicado em 21/01/2020 às 12:25
Foto: Andrea Del Fuego/ Divulgação
"Mauricea" conta a história de uma travesti que foge do Recife para seguir um grande amor e, em plena Ditadura Militar, ganha a vida como manicure em São Paulo - FOTO: Foto: Andrea Del Fuego/ Divulgação
Leitura:

Não foi fácil a vida de Omar. Criado por uma tia no Recife, ele percebe muito cedo que o corpo em que habita não pode defini-lo. Ele pare a si mesmo como Mauricéa, nome da falecida mãe que nunca conheceu, e foge das noites do mítico Chantecler para seguir sua vida em São Paulo, movido pelo abandono de um grande amor. As muitas dores e poucas delícias de ser uma travesti nos anos da Ditadura Militar são narradas no novo livro de Adrienne Myrtes em primeira pessoa, de forma envolvente e sincera, sem cair no caricato, alternando memórias de uma infância pernambucana e a vida adulta na capital paulista. Mauricéa (Editora Edith, 117 pgs.) foi finalista do Prêmo Jabuti 2019.

Leia trechos do livro:

"Era meu aniversário e pensei ser justo comemorar. Velho não comemora aniversário, inteira tempo, dizia-se no Recife, onde fui criança; decidi contrariar a sabedoria do povo. Sentia-me jovem, remoçada pelo romance com Mel. Contei minhas economias e planejei coisa inusitada: um jantar em restaurante bacana. (…) Esqueci-me de que aos vira-latas restam as sobras e a porta da rua."

"... Tempos de maremoto, de força policial específica, embora não oficial, treinada para limpar as ruas da imundície que representávamos: o esquadrão antibichas era conhecido e temido; por sua vez temiam e, por isso, paravam o ataque quando começávamos a nos cortar. Guardavam medo do mal anunciado veladamente. Naquela noite, além de me deixarem a cara inchada de porrada, fui obrigada a engolir a porra de quatro deles; conseguiram me tomar a gilete quando me caçaram. Aqui se misturam em mim a dor da humilhação revisitada e a ternura do encontro com Gilmar, meu salvador, meu querubim."

Veja outras notícias da coluna escrita desta terça-feira (21):

- Editoras e autores independentes têm até o próximo dia 31 para realizar novas solicitações de ISBN – o RG dos livros – à Biblioteca Nacional (BN). É ela, através Fundação Miguel de Cervantes, que emite o código no Brasil desde 1978, mas uma alteração recente na Agência Internacional do ISBN abriu caminho para que a Câmara Brasileira do Livro (órgão privado) assuma a função em março. Com a mudança, a BN irá perder cerca de R$ 4 milhões por ano, o que pode comprometer suas atividades.

- O escritor e dramaturgo Cleyton Cabral se prepara para ministrar mais uma edição de seu workshop de Escrita Criativa. A próxima turma acontece nos dias 27 e 28 de março. Em 2019, Cleyton lançou o livro de contos Planta Baixa e foi um dos vencedores do Prêmio Ariano Suassuna.

- Também em março chega pela Cepe Editora a obra Poemas Reunidos de Jorge Lopes, representante da poesia marginal pernambucana e da chamada Geração Xerox. O livro reúne escritos do período entre 1970 e 1990, com influências de Ferreira Gullar e Walt Whitman.

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