Avant-première

Maria Rita se emociona ao levar para o palco o DNA de Elis Regina

Única filha mulher, a cantora pela primeira vez fez um show com o repertório que consagrou a sua mãe

Marcelo Pereira
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Publicado em 20/03/2012 às 14:06
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Única filha mulher, a cantora pela primeira vez fez um show com o repertório que consagrou a sua mãe - FOTO: Marcelo Pereira
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Demorou, mas valeu. Com emoção à flor da pele e uma alegria no início contida pela tensão, Maria Rita enfrentou o desafio de cantar pela primeira vez o repertório que consagrou a sua mãe, Elis Regina, na avant-première do projeto Nívea Viva Elis, ocorrida na noite desta segunda-feira, 19 de março, no Viva Rio, Aterro do Flamengo, para uma plateia formada por convidados, artistas e celebridades. Ela segurou o choro o quanto pode, até a metade da apresentação, mas ao cantar Se eu quiser falar com Deus (Gilberto Gil), ela deixou brotar as lágrimas que vieram fundo do coração.

Maria Rita revelou no palco todo o DNA de Elis. No timbre da voz, nos gestos, nas molequices, na entrega total às canções. A comparação é benvinda, é saudável. Não há porque ela não reverenciar a mãe, que perdeu ainda com quatro anos, agora que já é uma cantora com dez anos de carreira e 1,8 milhões de cópias de discos vendidas. Maria Rita escolheu o momento certo – a efeméride de 30 anos de morte de sua mãe – para realizar o projeto com o meio-irmão João Marcelo Bôscoli (do primeiro casamento de Elis com o compositor Ronaldo Bôscoli).

No início do show, Maria Rita revelou tensão. Não era para menos. Logo na segunda música, cantou um dos clássicos de sua mãe – Como nossos pais (Belchior), que emendou com a não menos icônica Arrastão (Edu Lobo/Vinicius), da época dos festivais da canção. “Agradeço a vocês por terem vindo com o coração aberto e por compreenderem que isso é única e exclusivamente uma homenagem. Sinto que, se isso for percebido ou intuído, minha missão estará cumprida", disse. “Toda vez que falo da minha mãe, eu me emociono muito”, confessou. “Ela é a maior cantora que este País já teve”. Nem precisava dizer.

Das 28 músicas do repertório do show, Maria Rita canta os principais sucessos dos vários discos de Elis, com o suporte de um quarteto afiado formado pelo namorado Davi Moraes (guitarra), Tiago Costa (teclados) Sylvinho Mazzuca (baixo) e Guga Teixeira (bateria). Só uma música ou outra foge do que se tornou consagrado. Os arranjos mantém a essência dos originais, mas ganham releituras modernas em ritmo de jazz, funk e rock, por exemplo

Maria Rita homenageia as influências que sua mãe teve ou os seus ídolos, como Ângela Maria (Vida de bailarina), Cauby Peixoto (Bolero de Satã) e Tom Jobim (Aguas de março) e os músicos que ela revelou ou admirava incontinente, como Chico Buarque (Tatuagem), Belchior (Como nossos pais) e, principalmente, Milton Nascimento, de quem pinçou quatro músicas a dilacerante Menino,a evocativa Morro velho, a cativante O que foi feito e o hino feminista Maria Maria. Afinal, Elis foi e ainda é a maior intérprete de Bituca.

Todas as faces de Elis foram exaltadas por Maria Rita. A Elis feminina, mulher e companheira foi lembrada em Tatuagem e Essa mulher.Ela lembrou a politização e a militância da mãe em O bêbado e a equilibrista, que se tornou um hino pela redemocratização do Brasil: “Com garra, suor e angústia, Elis falou sobre as questões mais sérias do seu país”.

A Elis que mais se identifica com ela é a moleca. Tanto na politizada Querelas do Brasil (que ela cantou lendo a letra de forma quase debochada) como em Vou deitar e rolar. Não somente os gestos como a voz aqui são idênticos ao da mãe. Rumo ao final, a banda enveredou pelo viéis mais pop-roqueiro, com Alô alô marciano, Doce de Pimenta, Vivendo e aprendendo a jogar e Zazueira.

Maria Rita deixou para o final a homenagem especial a Milton Nascimento. Depois de tocar fundo com Morro velho, ela levantou a plateia, até então tímida e respeitosa, ao cantar Maria Maria, a última música antes do bis, previamente estabelecido. O arremate da noite veio com Fascinação (versão que ela imortalizou como tema da novela Casarão), Madalena (que revelou a dupla Ivan Lins/Vítor Martins) e Redescobrir, uma música cheia de simbolismo de Gonzaguinha, onde canta que o homem vai renascer da própria força, própria luz e fé.

A série de shows gratuitos e abertos ao público da turnê Nívea Viva Elis tem início no próximo sábado, em Porto Alegre. Depois segue para o Recife (1º de abril), Belo Horizonte (8/4), São Paulo (22/4) e Rio de Janeiro (29/4). Produtor responsável pelo projeto, João Marcello Bôscoli, meio-irmão de Maria Rita (do casamento de Elis com o compositor Ronaldo Bôscoli) disse que outras capitais demonstram interesse em receber o show, que tem encontrado apoio das prefeituras locais, mas não há nada em vista no momento. O projeto bancado pela empresa de cosmético Nívea inclui ainda um documentário, uma exposição multimídia itinerante e uma biografia organizada pelo jornalista Júlio Maria, no segundo semestre.

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