Seu Francisco escolheu uma das camisas mais aprumadas que tem no guarda-roupa para passar a noite do último sábado. A ocasião, especial, merecia também o melhor perfume, um penteado cuidadoso e os botões de cima da camisa azul turquesa soltos. O capricho era pra ver o ídolo Gilliard, um dos maiores ícones da música romântica popular do País, se apresentar na 18ª edição do estival da Seresta, que lotou a Praça do Arsenal, no Bairro do Recife, na noite do sábado passado (12). O festival foi de quarta (9) até este sábado (12).
“Já vi show dele, sim, mas só pela tevê. Assim, de perto, é a primeira vez”, confessa Francisco, ansioso. “Tinha os vinis, as fitas, várias músicas me marcaram muito”, diz, pedindo licença para falar com uma senhora tímida, com quem sai de mãos dadas depois de trocar algumas palavras. Se despede discreto, dando um tchauzinho de longe, e sorri.
Seu ídolo, Gilliard, foi a terceira atração da noite, depois das apresentações de Cláudia Beija e Adriana, e antes do encerramento com Joanna. Durante o show de Adriana, uma das musas da jovem guarda, um bonito coro de vozes impregnou os quatro cantos da Praça do Arsenal com lembranças, amores idos e, no caso de Seu Francisco, amores benvindos.
Famílias inteiras erguiam rosas vermelhas e arriscavam passos de dança sem muito sentido, mas com bastante alegria. Os mais velhos bebiam cerveja de canudinho ou apostavam na tranquilidade da água de coco, com direito a banquinhos para assistir ao show sem se cansar. No meio deles, durante as apresentações, ambulantes passavam vendendo a promessa presunçosa de um superdisco com 300 músicas em mp3, contemplando todos os artistas que passaram pelo festival este ano. Roberta, uma das que vendiam a moderna novidade, era flexível, e garantiu a qualidade do produto. “Custa cinco reais, mas faço até quatro. Tem todo mundo que cantou aqui, juro a você”, convence, mostrando a caprichada capa com fotos de todas as atrações.
Uma das mais animadas da festa, Solange Francisca entoava as canções românticas com todo o fervor, mas não deixou fazer uma observação pertinente à esta edição do Festival da Seresta. “Seresta é bom em todo o lugar, mas no Marco Zero, onde sempre aconteceu, é muito melhor. Lá é mais ventilado e espaçoso, dá pra dançar e ver melhor”, critica a aposentada, que logo dá um grito ao ouvir os primeiros versos de Como é grande o meu amor por você.
