Blues

Oi Blues by Night completa uma década

Projeto é um dos mais respeitados do País

AD Luna
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AD Luna
Publicado em 18/07/2012 às 6:01
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Foi há dez anos. O cantor Nasi – integrante da hoje extinta banda paulistana Ira! – apresentava seu lado de performer de blues na edição inaugural do que é hoje o mais importante projeto do gênero no Nordeste. O Oi Blues by Night completa uma década trazendo para a região mestres desse estilo que deu origem ao rock, que mantém vínculos com o soul e o jazz, e que conserva sua integridade mesmo com o vai e vem de modas e tendências. No Recife, as comemorações da efeméride abrem e fecham em grade estilo: sexta-feira, Mud Morganfield, filho do lendário Muddy Waters; e Joe Louis Walker, importante expoente do blues contemporâneo, no dia 17 de novembro. Os shows acontecerão sempre no Downtown Pub, no Bairro do Recife, que volta a receber o evento depois de sete anos.

No começo, todo mundo achou curioso uma empresa do porte da Oi investir em um gênero tão segmentado. Acontece, porém, que o blues pode até ser segmentado, mas não tem prazo de vida limitado como o pop. Blues tem história, tradição, legado. É uma coisa muito sólida”, defende Giovanni Papaléo, baterista da recifense Uptown Blues Band, criador e produtor do projeto.

Por outro lado, ele relembra a boa acolhida que seu projeto teve por parte da imprensa pernambucana. “A mídia espontânea foi excelente. Os veículos de comunicação do Estado (sobretudo, os impressos) são receptivos a novos projetos”, analisa.

Anteriormente restrita a cidades do Sul e Sudeste, a visita de relevantes nomes das cenas de Chicago e New Orleans ao Recife e outras capitais é motivo de orgulho para Papaléo. “Tivemos aqui a presença de grandes instrumentistas que trabalharam com monstros do blues. Isso despertou o interesse de jovens e bandas do Nordeste em tocar o estilo”.

Papaléo diz que teve que lugar contra a visão de que o blues estaria ligado apenas a sentimentos melancólicos, depressivos ou por estar associado àquele estado de apatia nostálgica apresentado por negros africanos escravizados. “O blues é a base da poesia norte-americana, escrita e falada, e retrata tudo de bom e ruim pelo qual o ser humano pode passar, fala de tristeza e alegria”, aponta o produtor.

Corroborando a visão do baterista pernambucano, na atual edição da revista Living Blues (www.livingblues.com) – umas das mais respeitadas dos Estados Unidos, e que inclusive traz Mud Morganfield na capa –, seu editor, Brett J. Bonner, inicia o editorial escrevendo: “O blues está ligado à sobrevivência. Se você o ouvir com atenção, perceberá que a música te ensina como sobreviver como um adulto em um mundo adulto. Ela te mostra como enfrentar desafios e dores e como passar por tudo isso mantendo a cabeça erguida; e como se reinventar a si mesmo diante de uma tragédia e continuar”.

Natural do estado americano da Louisiana e uma das atrações da temporada 2011 do Oi Blues by Night, o guitarrista Lil’ Ray Neal se espantou com a conexão formada entre ele e o público brasileiro. “O blues é uma música cujo poder está em suas letras. É realmente estranho esta comunicação que se estabelece com um público que não fala minha língua”, declara.

Integrante da mais tradicional safra de blues de Chicago, o guitarrista e cantor Eddie C. Campbell, que esteve por aqui em 2009, sintetiza numa frase o sentimento de tocar para uma audiência apaixonada, porém distante geograficamente das origens do blues. “Não dá pra explicar, mas é ótimo e eu amo isso!”.

Nascido e criado em Chicago, o pianista Donny Nichilo diz acreditar que, em razão de sua honestidade e universalidade, o blues tem essa capacidade de emocionar as pessoas e complementa: “Mas, claro, é sempre bom falar algumas palavras em português, pelo menos aquelas que transmitam gentileza como ‘obrigado’ e ‘por favor’. Eu acredito que agindo assim você está fazendo um esforço em mostrar respeito pelas pessoas no país delas”, conta Nichilo, que tocou no Oi Blues 2010. “Os brasileiros não apenas assistem ou ouvem a música tocada nos shows. Eles fazem parte do show! Vocês são um dos povos mais musicais do planeta”, completa Donny.

O cantor de blues, soul e gospel Karl Dixon recorre ao inefável para tentar definir ao tocar no Oi Blues by Night. “É questão de espírito, não há outra explicação! Foi um dos pontos altos da minha carreira estar em frente ao público brasileiro. Há algo docemente espiritual no seu País”, reflete Dixon, que já esteve várias vezes no Recife e em Garanhuns.

Leia mais no Caderno C desta quarta (18).

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