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Cresce mercado de composição de trilha sonora em Pernambuco

Artistas do Estado são cada vez mais requisitados para o aquecido mercado nacional

AD Luna
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AD Luna
Publicado em 17/04/2013 às 10:53
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A expansão do mercado cinematográfico local e nacional tem proporcionado a muitos músicos pernambucanos a oportunidade de ampliar seu leque de criações e experimentações. Exemplo recente é o do longa-metragem de animação Uma história de amor e fúria, que conta com a intervenção de Pupillo, baterista da Nação Zumbi. Tendo como pano de fundo episódios históricos do Brasil, o filme retrata a paixão entre um casal de índios que se perpetua até um sombrio e desesperador futuro localizado no ano de 2096.

Pupillo dividiu os trabalhos com Rica Amabis e Tejo Damasceno (integrantes do coletivo musical paulista Instituto). O processo de criação da trilha original se deu de acordo com a época em que os personagens se encontravam e mescla ritmos regionais com elementos eletrônicos.

“Além do caso de amor entre os personagens, o filme trata com certa polêmica das principais lutas que aconteceram no Brasil desde a época do descobrimento. O diretor, Luiz Bolognesi, é um cara superestudioso, e fez questão de relatar fatos que não estão nos livros de história”, conta Pupillo.

O baterista revela que a grande inspiração para a feitura da trilha veio das conversas com o diretor: “Além do grande roteirista que é, ele sabe como ninguém expressar suas intenções, mesmo sendo um trabalho novo pra ele”.

Helder Aragão, DJ Dolores, assinou a trilha do premiado O som ao redor, filme dirigido por Kleber Mendonça Filho que mostra o cotidiano de personagens da classe média recifense. “Minha colaboração foi muito modesta. Kleber trabalha de um jeito muito peculiar: pede sons, música e ele mesmo monta. É o único diretor com quem trabalhei que faz isso”, revela. A estreia de Helder no mundo das trilhas se deu justamente em Enjaulado (1997), curta de ficção dirigido por Kleber em 1997.

No fim do ano passado, Helder finalizou a trilha de Tatuagem, primeiro longa do pernambucano Hilton Lacerda, roteirista de Amarelo manga e Baixio das bestas – ambos dirigidos pelo conterrâneo Cláudio Assis. “É um filme belíssimo, ousado, sexy e sonhador. Tem um espírito de musical, com esquetes de dança, teatro, performances. É um desses filmes que estimulam a criatividade de quem está envolvido”, adianta.

Atualmente, Helder está trabalhando na segunda parte do musical inspirado na cena brega Amor, plástico e barulho, de Renata Pinheiro. Em paralelo, o incansável rapaz segue organizando as viagens sonoras de O mundo lá fora, de Kiko Goifmam, e a animação Tudo verdim, de Patrícia Alves. “Nesses dois, além da trilha, também assumi o desenho de som, o que me parece uma boa ideia, já que posso criar um conceito bem coerente”, comenta.

Como receita básica para a produção dos filmes, Dolores mantém conversas constantes com os diretores, assiste bastante aos filmes e não se cansa de refazer suas composições. Para ele, o mais importante é entender o objetivo e as nuances da obra. Algo que não é tão fácil de avaliar à primeira vista. “Comparo o trabalho da trilha com o trabalho de um ator: é preciso encarnar o filme, o ambiente, o espírito. Me envolvo profundamente em cada projeto, de modo que deve afetar até meu comportamento enquanto estou produzindo”, descreve Helder.

Assim como Pupillo, Dolores destaca como grande modelo de compositor de trilhas o italiano Ennio Morricone. “Mas isso é bem óbvio, né? De modo geral, adoro as trilhas escolhidas por Stanley Kubrick. Ele conhecia muito de música, era um apaixonado. Um dia ainda vou ter orçamento para gravar uma trilha inteira com orquestra sinfônica”, aspira.

Apesar da admiração pelos citados mestres do cinema internacional, Helder Aragão procura evitar beber nessas e em outras fontes criativas na hora de produzir trilhas originais. “Prefiro nem ouvi-las quando o diretor oferece. Mas há casos de metalinguagem ou referências a uma outra obra que estão dentro da concepção do filme. Nesse caso é diferente, a gente tem que estudar, entender aquilo, para poder criar sem ser uma simples mimese. Como eu disse, é quase como o trabalho de ator”, compara.

Na seara mais erudita, o violinista e compositor Sérgio Campelo e o seu grupo SaGrama ganharam grande projeção nacional devido à presença de suas composições na comédia O auto da Compadecida (2000). “Foi uma experiência nova e magnífica, porque na época o SaGrama tinha pouco tempo de vida e apenas um disco. O sucesso do filme nos projetou. Depois, fomos convidados para fazer trilhas de peças, balés e curtas-metragens”, lembra Campelo. Entre os curtas, Sérgio destaca O velho, o mar e o lago, Rapsódia para um homem comum e A história da eternidade, todos do cineasta Camilo Cavalcante.

Sensibilidade é tudo na hora de compor músicas para filmes. Para Sérgio, o ato é comparado a uma espécie de “saia justa” pois o compositor deve ficar limitado nas emoções que as imagens tentam passar. “A música é importante, mas é coadjuvante. Você tem que se preocupar muito com o que o diretor pensa. Quando os dois se entendem, nascem casamentos perfeitos, como no caso de John Williams”, afirma, citando o famoso maestro americano.

Por falar no cinema de Hollywood, o percussionista Naná Vasconcelos deixou sua marca em Procura-se Susan desesperadamente (1985), estrelado por Rosanna Arquette e pela cantora Madonna. “Trabalhei mais na sonoplastia. Em geral, é uma coisa que me fascina, que eu adoro fazer. E minha música já tem características muito visuais”, explica Naná, que também colaborou com os diretores Jim Jarmusch (Down by law, 1986) e Mika Kaurismäki (Amazonas, 1990).

Em Revelando Sebastião Salgado, documentário sobre o prestigiado fotógrafo brasileiro, o processo de união entre as imagens e sua música seguiu outra lógica. “Eles me mandaram o filme já com músicas tiradas de discos meus. Daí complementei”, conta Naná.

Leia as matérias na íntegra na edição desta quarta-feira (17/4) do Caderno C do Jornal do Commercio

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