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Cais do Sertão Luiz Gonzaga começa a ganhar conteúdo

Cineastas já trabalham nos filmes que farão parte do equipamento. Escultura de mandacaru em alumínio está sendo montada

Bárbara Buril
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Bárbara Buril
Publicado em 09/11/2013 às 8:20
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Um sertão contemporâneo, mas ainda gonzaguiano até as raízes bem-fincadas dos mandacarus, pauta a construção do espaço geográfico-afetivo do museu e centro cultural Cais do Sertão Luiz Gonzaga, com inauguração agendada para o dia 13 de dezembro, quando se comemoram os 101 anos de Gonzagão. Longe dos clichês do solo rachado e das casas de taipa (imagens que se eternizam na mente dos brasileiros como referências primárias, e até únicas, do Sertão nordestino), o equipamento trabalha o universo sertanejo de diversas maneiras e em suas múltiplas faces - sonora, paisagística, gestual, estrangeira, religiosa e cotidiana.

Para isso, profissionais renomados foram contratados com a missão de criar produtos tecnológicos e artísticos para o museu. Estão neste time os cineastas pernambucanos Paulo Caldas, Kleber Mendonça Filho e Camilo Cavalcante, o músico Siba, o xilogravurista J. Borges, e os artistas plásticos Derlon e Luiz Hermano, único cearense entre estes e cujo mandacaru de alumínio é montado hoje no local. A maior parte dos trabalhos está em processo de finalização e, até o fim deste mês, o centro cultural irá recebê-los.

Além de disponibilizar objetos pessoais de Luiz Gonzaga, como sanfonas e trajes, o universo sonoro do patrono do museu será trabalhado, por exemplo, no curta-metragem Lua, de Paulo Caldas, a partir das sonoridades sertanejas que inevitavelmente influenciaram o fazer musical do Rei do Baião. O caldeirão sonoro, composto por canto de pássaros, vento seco, aboio e passos arrastados de homens e animais, combinam-se às imagens filmadas no Vale do Catimbau, em Buíque, e no município sertanejo de Serrita. "O filme é uma memória afetiva do Sertão gonzaguiano, em que seguimos seus personagens, seus sons, suas imagens e seus mistérios. Também mostramos a força e a pujança de Gonzaga no Sertão contemporâneo, após todas as mudanças que alteraram o Sertão arcaico", descreve Paulo Caldas. A proposta é, então, mostrar a combinação entre tradição e modernidade em um espaço onde cabe não só um elemento, mas vários. Não é apenas a geografia, espaço social ou econômico, mas a simbologia que tudo isso carrega.

O filme será exibido em um grande painel do primeiro módulo do museu, a ser inaugurado neste fim de ano. Todos os produtos audiovisuais pernambucanos serão vistos nesse grande espaço. Já o segundo, que consiste em um centro cultural com auditório e salas para oficinas, só será aberto em 2014. Todos os filmes do Estado serão lançados em dezembro, como A feira, de Kleber Mendonça Filho, cuja pegada experimental capta a atmosfera das feiras nordestinas. Além dele, os 48 depoimentos gravados pelo cineasta Camilo Cavalcante, que contam a saga de nordestinos que migraram para outras regiões do Brasil.

Com um espírito mais documental, os filmes de Camilo compõem um mosaico humano do êxodo nordestino, a partir de histórias pessoais. "Foi um processo muito interessante mergulhar na alma do sertanejo, sempre permeada de saudades da terra natal", conta o realizador. Para assistir aos depoimentos, o visitante deverá clicar no rosto da pessoa, exibido em um dos 10 monitores de LEDs espalhados pelo local. A equipe de produção já passou por São Paulo, Brasília, Porto Velho e, agora, parte para o Sertão pernambucano para captar o caminho inverso da saga: a volta para casa.

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