Roda de samba

Sambistas festejam seu dia no Pátio de São Pedro

Belo Xis, Wellington do Pandeiro, Ramos Silva, Gerlane Lops e a Bateria da Gigante do Samba são algumas das atrações da festa

Valentine Herold
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Valentine Herold
Publicado em 02/12/2013 às 9:35
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Alô alô Terezinha, o Rio de Janeiro tem um recado para o Recife. Cuíca, tamborim, reco-reco, pandeiro, chocalho, prato, surdo e caixas, muito ritmo e gingado. Abram alas que hoje é o Dia Nacional do Samba e ele pede passagem. A festa na capital pernambucana tem início às 18h, no Pátio de São Pedro. Belo Xis, Wellington do Pandeiro, Ramos Silva, Gerlane Lops e a Bateria da Gigante do Samba são algumas das atrações da festa (ver quadro abaixo).

Contraditoriamente, o Dia Nacional do Samba, gênero mais carioca que há, foi iniciativa de um vereador baiano. Como objetivo de homenagear Ary Barroso, Luis Monteiro da Costa escolheu a data em que o compositor visitou a Bahia pela primeira vez para celebrar o samba.

Na página do evento que ocorre hoje no Recife criada no Facebook, a organização relembra a canção de Zé Keti, A voz do Morro, para chamar a atenção à necessidade de valorização do gênero em Pernambuco – as agremiações daqui surgiram quase simultaneamente com as escolas de samba do Rio de Janeiro. “Salve o samba/ Queremos samba/ Quem está pedindo é a voz do povo de um País”, diz a letra. Mas apenas 101 pessoas confirmaram, através da rede social, a presença na festa. Número que enfatiza para um Recife de tradição ligada ao frevo, forró, maracatu e tantos outros ritmos, o pedido da música escrita na década de 1960.

Segundo o sambista carioca Alex Ribeiro, filho do falecido Roberto Ribeiro, as comemorações do Dia do Samba no Rio de Janeiro se equivalem quase a um Carnaval. “Os festejos vão até o dia 7 e tem shows por toda parte. Sambistas saem da estação da Central do Brasil e vão tocando nos trens até chegar no bairro de Oswaldo Cruz (Zona Norte). Zeca Pagodinho, Paulinho da Viola, todo mundo toca nas celebrações”, conta.

No Recife, entretanto, o gênero ainda tem um grande público e espaço para conquistar. O produtor cultural Jair Pereira acredita que o Estado está em pleno processo de potencialização do samba. “Pode ser mais difícil porque o gênero tem cheiro de comunidade e cor, mas Pernambuco sempre foi um celeiro de samba e vem crescendo muito com o gênero”, diz. Jair foi responsável pela comemoração antecipada do Dia Nacional do Samba no Recife que ocorreu no último sábado. O show Monarco: 80 anos. Um brinde ao samba tomou conta do Baile Perfumado e não só comemorou o aniversário do sambista da Portela como também reuniu nomes locais e nacionais em uma grande roda de samba.

MAIS APOIO

O pernambucano Cris Galvão, com mais de 20 anos de samba na bagagem musical, foi uma das atrações da noite. “A situação do samba ainda não está tranquila no Recife. Falta valorização e espaço. Precisamos de mais reconhecimento tanto por parte de quem gosta da música quanto do poder público”, analisa.

No palco montado para a roda de sábado tocaram pernambucanos e cariocas. É talvez injusta a comparação entre o valor dado ao samba no Rio de Janeiro e no Recife, visto as diferentes trajetórias musicais que as duas cidades traçaram, mas Cris acredita que nem mesmo ritmos verdadeiramente pernambucanos têm tanto apelo entre o público local ao longo do ano. “O frevo mesmo é lembrado por muitos só no Carnaval. O problema é que o público depende bastante de um movimento comercial para dar valor”, ressalta.

É possível, portanto, traçar um paralelo com o triunfo do pagode em Pernambuco e outros Estados brasileiros, principalmente entre o público jovem. Na raiz de seu significado, pagode na verdade era a reunião de vários sambistas. “O samba e o pagode tem propostas diferentes, são variações. Assim como tem o forró pé de serra e o estilizado. Cada um tem seu público. O lado ruim do pago é seu caráter apelativo, sua linguagem fácil demais. Mas em contrapartida ele tem um alcance muito grande”, analisa Jair Pereira.

FIDELIDADE

Manter-se fiel ao samba de raiz com certeza é algo mais tranquilo e fácil no Rio de Janeiro. Hildemar Diniz, mais conhecido como Monarco, completou 80 anos em agosto deste ano e quase 70 deles foram dedicados ao gênero. “Me mantenho fiel ao samba verdadeiro. É ele que me ajuda a pagar minhas contas e que me dá alegria”, disse antes de subir ao palco. “Nunca pulei para o modismo. O samba que canto hoje é o mesmo que me acompanhava quando passei fome na época do iê-iê-iê e que as gravadoras já não estavam mais tão interessados em nós.”

O caminho percorrido pelo gênero mais associado ao Brasil no exterior - que não vive sem estar atrelado aquela boa, velha e gelada cervejinha ou ao futebol - é distante de décadas dos tempos atuais, mas ainda tem alguns anos pela frente no Recife. O futuro do samba local é promissor tanto para Jair quanto para Cris. “Acredito sim num sucesso cada vez maior do samba aqui”, diz o produtor. “Os jovens estão se interessando mais no gênero, entram nas escolas de músicas para aprender a tocar e estão reconhecendo sua importância. Ainda vamos crescer mais”, diz o sambista.


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