Fato impossível de ser negado, as bandas neopsicodélicas não podem se gabar de agenda cheia no Recife. Seus shows são raros na cidade e elas acabam por tocar mais no Sudeste do País. Segundo ps músicos, falta espaço físico, mas não público alvo. Formada desde 2005, a Anjo Gabriel se mobilizava muito no início para organizar festas onde pudesse tocar. Mas agora prefere focar em shows maiores além de querer, até o final do ano, desbravar as terras do Velho Continente.
As dificuldades são compartilhadas por Tagore Suassuna e Semente de Vulcão. “Na verdade acho que está bem complicado pra qualquer banda que não seja de brega ou forró por aqui”, avalia Tagore, que se prepara para o lançamento de seu álbum de estreia, Movido a vapor, ainda nesse primeiro semestre se tudo der certo. “Falta espaço para as bandas autorais. É mais fácil você ter onde tocar se tiver uma banda cover”, pondera o cantor.
Também embarcados na viagem figurada, Semente de Vulcão lançou na última semana o disco Expresso do fim do mundo, em formato digital. As 12 faixas recontam a história do 12° planeta do livro homônimo de ficção científica de Zecharia Sitchin. Mas a psicodelia não para por aí. “A gente já estava com todas as músicas prontas quando percebemos que, se colocadas em determinada ordem, retratava do nosso jeito o enredo do livro”, conta o vocalista João Menelau.
Coincidentemente, tanto Anjo Gabriel quanto Semente de Vulcão gravaram seus álbuns analogicamente. O retorno ao passado não se dá, portanto, apenas na forma de compor e escrever. “É o único jeito de chegarmos no lugar certo, no timbre que queremos. Leva a gente a usar outra linha de raciocínio”, explica Marco.
Se há um lugar certo ou não, só o tempo e o destino final da viagem de uma cena neopsicodélica (ou neoudigrudiana) pernambucana em formação irá dizer. As rotas são longas e um tanto difíceis a serem percorridas. “Recife é um lugar de doidão, com certeza tem público para a música psicodélicas”, aposta Tagore.