Desigualdade social cantada por Chico Science há 20 anos ainda se faz presente

Comunidades com as quais o cantor e a Nação Zumbi conviveram no início da cena mangue continuam revelando as discrepâncias sociais
Valentine Herold
Publicado em 06/04/2014 às 6:30
Foto: Foto: Guga Matos/JC Imagem


Na manhã da última segunda-feira, assim como na letra de A cidade, gravada há 20 anos por Chico Science & Nação Zumbi, o Recife acordou com a mesma fedentina do dia anterior. Carros, ônibus, motos, bicicletas e metrôs já circulavam energicamente na capital que, no fim da década de 1980, andava com a autoestima baixa com suas patas de caranguejo. O título de “quarta pior cidade do mundo” fez fervilhar ainda mais o sangue de alguns moços moradores de Peixinhos e Barra de Jangada. A indignação os levou a escrever o manifesto Caranguejos com cérebro em 1992. Agora, 22 anos depois, a situação social da capital pernambucana não é mais a mesma, mas as marcas da desigualdade social ainda se fazem bastante presentes.

Na paisagem, os prédios não param de crescer. Para cima, para os lados. O processo de verticalização na capital pernambucana está em números: nos últimos dez anos, foram 4.404 alvarás de construção autorizados pela Prefeitura do Recife, mostrando que os versos gravados por Chico Science & Nação Zumbi em 1994 continuam atuais. “A cidade não para, a cidade só cresce.”

Na mesma manhã da última segunda-feira, José Carlos da Silva, morador da comunidade Ilha de Deus, localizada no bairro da Imbiribeira (Zona Sul recifense), continuava vivendo e sobrevivendo do mangue, aquele tão cantada por Chico. Zé Carlos habita ainda uma das primeiras palafitas suspensas sobre o rio, localizada logo após a ponte de concreto construída, há cinco anos, na entrada da Ilha. Mora com a esposa, Néa, e seus dois filhos. O mocambo destoa das casas estreitas e siamesas construídas pelo Governo do Estado desde 2007 a alguns metros. A família espera pela sua desde 2010, dois anos a mais que o prometido. Também destoa dos altos prédios que se encontram por trás dos manguezais, no Pina. Pescador de 39 anos, José Carlos tira sua renda da venda de sururu, tainha, curimã e, principalmente, camarão. 

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