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Lily Allen volta ao ataque após maternidade em novo disco

Cantora inglesa apresenta Sheezus e não abre mão de letras irônicas e elementos eletrônicos

Valentine Herold
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Valentine Herold
Publicado em 22/06/2014 às 2:02
Foto: Warner Music/Divulgação
Cantora inglesa apresenta Sheezus e não abre mão de letras irônicas e elementos eletrônicos - FOTO: Foto: Warner Music/Divulgação
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Ela já coloriu as madeixas de rosa chiclete, azul celeste, loiro oxigenado, lilás e ultimamente vem exibindo as madeixas ora com uma franja azul petróleo, ora com as pontas amarelas e verdes. Mas para além de sua multipolaridade capilar, a cantora inglesa Lily Allen é famosa pela sua acidez lírica e por não poupar críticas a celebridades e à futilidade excessiva. Após cerca de cinco anos de hiato musical, Lily, de 29 anos, voltou não mais tanto às estantes das lojas de discos, como fez com seus dois álbuns anteriores, mas às listas dos sites de música em streaming que cresceram exponencialmente desde então.

Mês passado, a cantora pop lançou seu novo trabalho Sheezus, nome alusivo ao último disco do rapper norte-americano Kanye West, Yeezus (desta vez, sem segundas intenções maldosas, segundo Lily). À primeira vista, Sheezus pode espantar e afastar o fã da britânica por estar mais distante das mesclas musicais e da diversidade instrumental de Alright, still (2008) e It’s not me, it’s you (2009). 

Desde seu último lançamento, a explosão midiática feminina da pop music – de nomes como os de Kesha, Katy Perry, Selena Gomez e, mais recentemente, Ariana Grande ou Ellie Goulding – está pelo jeito assustando a artista. É ao menos o que escreve na faixa-título do novo trabalho e deixa entender ao expor algumas músicas pouco originais em termos de sonoridade.

“Não vou mentir, entretanto,/ pois estou um tanto com medo (...)/ Mas novamente o jogo está mudando,/ não posso apenas voltar,/ pular no microfone e fazer as mesmas coisas”, canta em Sheezus. Mas estará ela sendo mesmo ultrapassada por tantos (talvez efêmeros) nomes?  Buscar uma homogeneidade e um conforto comercial em seu som pode até levar Lily Allen a atingir um público que antes não atingiria, mas a dúvida que fica é se esse público continua sendo o mesmo crítico e entendedor das entrelinhas de antes. E a resposta é dúbia: sim e não.

Em março deste ano, quando ela já havia divulgado alguns trechos do disco, um fã desabafou no Twitter, rotulando seu novo trabalho como “lixo dócil pop” e teve direito a um rebatimento da cantora: “Do que você tem ouvido, sim. Eu só posso fazer meu melhor. As gravadoras e as estações de rádio não querem tocar as músicas melhores.”
E é realmente isso que o álbum parece ser à primeira vista. Talvez o reflexo dessa avaliação severa e instantânea do ouvinte seja o costume cada vez menor de se ouvir um disco na íntegra. Sheezus é muito mais que as mastigáveis e superficiais Take my place, Close your eyes,Insincerely yours ou até Our time.

 

Lily Allen - Air Balloon from thatgo on Vimeo.

Acompanhando, as muitas batidas eletrônicas continuam lá, as letras críticas e as canções contagiantes e dançantes. L8 CMMR, Air balloon e Hard out there, além de não deixarem o corpo ficar parado, trazem letras leves e cruas. Há ainda o pop country romântico de As long as I got you e a pegada leve caribenha de Life for me. Esta última faixa pertence ao rol das que revelam as singelezas da vida cotidiana, reflexo provável de acontecimentos ocorridos no período em que ficou fora, quando casou e teve dois filhos. É para eles que ela dedica o disco em bonita mensagem na última página do encarte.

Mas se engana quem pensa que a maternidade e o casório transformou em doce a acidez lírica de Allen. Ela não está nem aí “para seu Instagram ou sua linda casa ou seus filhos feios” em Insincerely yours; e desabafa ainda ironicamente sobre a visão que parte do público tem que ela vive de maneira excêntrica e mimada na faixa Silver spoon. Resta agora aos fãs antigos e atuais de Lily Allen torcer para que ela não opte por seguir o caminho melódico das tantas atuais “divas” do pop e possa manter sua originalidade. Evoluir sempre, mas perder a essência jamais.

Leia a matéria na íntegra na edição deste domingo (22) no Caderno C, do Jornal do Commercio

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