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Tom Zé lança Vira lata na Via Láctea de olho na geração Y

Disco tem parceria com Caetano Veloso e participação de Milton Nascimento

JOSÉ TELES
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JOSÉ TELES
Publicado em 26/10/2014 às 22:33
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Disco tem parceria com Caetano Veloso e participação de Milton Nascimento - FOTO: Divulgação
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“Aí, ai, meu bem / tire a calcinha / aí, ai, galope/ meu laptop / oi, oi, me clone/ aí no seu, smartphone /me bote online não me largue/ Ipad, Ipad, Ipod, aí pode”, os versos de Geração Y, primeira faixa de Vira lata na Via Láctea, disco que Tom Zé lança oficialmente na próxima sexta, 31 de outubro. Apesar do verso fescenino inicial, o álbum não tem nada a ver com o show Canções eróticas de ninar, que apresentou em setembro, em São Paulo: “O Canções eróticas não está neste trabalho. Mas eu pretendo gravar aquelas músicas no meu disco dos 80 anos. Fui convidado para um show numa casa noturna de São Paulo e achei que aquelas músicas caberiam naquele lugar. Esta coisa do sexo, a gente não tinha educação. Via uma mulher e não sabia o que significava. Com 15 anos não entendia nada. Somos descendentes de africanos, então víamos aquelas protuberâncias nos traseiros da mulheres e a gente achava que a coisa era ali. Neusa implicou com estes versos quando viu. Logo mais, quando mostrei a música inteira, ela achou engraçada”, dispara Tom Zé. A Neusa a que se refere é Neusa Martins, companheira e conselheira (embora Tom Zé não pareça ser muito de ouvir conselhos), há quatro décadas.

A geração Y é o tema da canção homônima (parceria com Henrique Marcusso), um dos interesses recentes de Tom Zé, que de tanto vê-la citada na imprensa foi se inteirar do que se tratava. Leu a literatura sobre o pós-humano, o novo antropomórfico bando e a internet tornou ubíquo. A canção não é sobre sexo, mas política. A geração que daqui há alguns anos irá “infelizmente governar”. Membros da geração Y participam de Vira-lata Via Láctea. Aos 78 anos, Tom Zé se interessa cada vez mais pela música das novas gerações e a recíproca é verdadeira, e posta em prática. Irará iralá foi modificada para se encaixar no arranjo do coletivo paulistano Trupe Chá de Boldo: “O arranjo que fizeram ficou muito bom, mas achei que a música não estava bem nele. Para não perder o arranjo, mudei a música”, diz Tom Zé.

Vira lata na Via Láctea é um disco diferente por não se ater a uma temática única e manter participação da banda que está com ele há três décadas (alguns mais tempo, como Jarbas Mariz): “Enquanto gravei o disco, eles continuaram comigo nos palcos. Os shows deste trabalho também serão feitos com eles, sem convidados”. Diferente pela parceria e participação inédita de Caetano Veloso num disco seu, na faixa que fecha o álbum, Pequena suburbana.

“Caetano me ligou e disse que queria estar neste trabalho. Pediu que eu mandasse uma letra. Em 1968, eu fiz 2001, e não gostei da música. Passamos a noite, no apartamento dele, na Avenida São João, tentando uma parceria que não saiu. Acabou Rita Lee fazendo”, relembra Tom Zé. Dos versos de Pequena suburbana vem o título do disco. “No título é pra rir de mim mesmo. Na música foi um achado poético”. 

Além de Caetano, Milton Nascimento. Outro contemporâneo da era dos festivais estreia em disco de Tom Zé, na faixa Pour Elis, homenagem a Elis Regina. Feita com o produtor Fernando Faro: “No primeiro aniversário da morte de Elis, Faro ia lançar um vídeo sobre ela. Escreveu um texto que achei tão bonito que decidi musicar. Marcelo Preto conheceu a música, achou que era a cara de Milton e convidou ele”, conta Tom Zé que ainda tem o rapper Criolo como convidado e parceiro em Banca de jornal.

Vira-lata na Via Láctea comunga de afinidades com um disco pouco conhecido de Tom Zé, o raro No jardim da política, de 1998 e registro de um show de 1985, início da Nova República. Uma das canções intitula-se Classe operária. Ele volta à categoria, em Esquerda, grana e direita, música daquela época, agora gravada e atualizada, com citação ao educador Paulo Freire (1921/1997), pai do revolucionário método de alfabetização que Tom conheceu no Recife, em 1961, numa visita ao MCP (Movimento de Cultura Popular). A música é uma crítica ao PT, onde o trabalhador tem oportunidade de ser protagonista da História e pratica o método do opressor: “Foi o que ele aprendeu, não conhece outro método”, diz Tom Zé.

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