DISCO

Gaspar Z'África mistura rap e poesia de cordel em primeiro álbum solo

"Rapsicordélico" apresenta o universo cantado do rapper paulista, descendente de nordestinos, que há 20 anos integra o grupo Z'África Brasil

Alef Pontes
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Alef Pontes
Publicado em 11/03/2015 às 5:28
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"Rapsicordélico" apresenta o universo cantado do rapper paulista, descendente de nordestinos, que há 20 anos integra o grupo Z'África Brasil - FOTO: Divulgação
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Vocalista do grupo Z’África Brasil, que em 2015 completa 20 anos de atividades, o músico Gaspar Z’África realiza o lançamento do seu primeiro álbum solo: Rapsicordélico - Ritmo e poesia psicodélica em cordel. Fruto de anos de pesquisa durante as atividades do Z’África pelo País e de projetos de ação social na comunidade do Capão, em São Paulo, o trabalho mistura a cultura urbana, a partir do hip hop, e a cultura regional brasileira, através do repente e da embolada, com elementos de matriz africana.

Segundo Gaspar, a ideia de realizar o trabalho paralelo surgiu de suas próprias influências familiares – Gaspar, um paulista, é filho de nordestinos – e da troca de experiências com outras culturas durante suas viagens com o grupo de rap. “Eu vivo o universo do canto falado, meu início de carreira foi através do hip hop, mas sempre o fiz um rap mais pesado. Nesse trabalho, a gente se aprofundou mais ainda na pesquisa dos ritmos brasileiros e africanos e nas estruturas musicais”, conta, citando a métrica do cordel como um norte para o disco.

Outra diferença que o músico destaca está no processo de composição do álbum: “Uma coisa inédita que foi feita no Rapsicordélico é que, geralmente, quando a gente faz uma base com o Z’África, começamos com beat eletrônico e adaptamos o rap em cima daquela base. Aqui não: o João Nascimento (produtor do disco, que também participa das percussões) musicou o meu rap, e os elementos eletrônicos entraram depois”. Além de João Nascimento, o projeto conta com outros nomes consagrados para somar ao resultado final. Zeca Baleiro, Emicida, Dexter, KL Jay, Lirinha, Funk Buia, Marcelo Pretto, Lou Piensa e Amanda Negrasim, são algumas das pessoas que complementam a proposta de Gaspar. 

“Em um projeto como esse, que pega essa linguagem universal que é o hip hop – que dialoga com a juventude de uma maneira muito intensa – sugere que as pessoas entendam que o beat é o tataraneto do tambor. E ele continua sendo tambor. E é isso que a molecada tem que assimilar. Porque, quando você entende o tambor, você se aproxima da África. E quando você se aproxima da África, você volta pra casa”, conta o rapper Emicida, que divide os vocais na faixa-oração Guerreiro de aruanda.

Para Gaspar, não existe fronteiras no rap. “Não há limites, ele acontece de acordo com o lugar em que você vive. E você pode fazer um rap bem pesado no Capão, mas também pode fazer algo mais leve, com a cara do Maranhão, ou do Recife”, conta. Entre as referências pernambucanas, ele cita nomes como o de Zé Brown e a Faces do Subúrbio, Nação Zumbi, Bongar, N’Zambi, Devotos, Mundo Livre e Tiger. “O Brasil é universo do canto falado, e o Nordeste é onde se tem mais vertentes deste universo”.

Em suas 12 faixas, que falam sobre a pluralidade e possibilidade de agregar valores através da música (e, nesse caso, do rap), Rapsicórdelico mostra que é possível se fazer um rap genuinamente brasileiro, utilizando a nossa linguagem. “É um trabalho sudestino, nordestino e afro-indígena”, define o autor. 

Confira o disco:

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